segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

É preciso Nascer de Novo

Um tema bem conhecido dos cristãos é a regeneração operada pelo espírito Santo no coração do homem através da Palavra de Deus. Nos deparamos com esse ensino em várias passagens da Bíblia, especialmente em João 3.1-8. (conf. 1.12,13).
Encontramos ali o episódio em que um dos principais líderes dos judeus (Nicodemos), foi encontrar-se com Jesus, à noite. Talvez ele quisesse evitar ser visto conversando com alguém que era rejeitado pela maioria, especialmente pelas autoridades religiosas, ou talvez ele só quisesse ter uma conversa mais prolongada com aquele que durante o dia vivia cercado pelas multidões. De uma forma ou de outra, o fato é que Nicodemos, ao encontrar-se com Jesus, declarou: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele” [João 3.2]. É interessante notarmos nesta declaração de Nicodemos que este entende e acredita que Jesus é enviado da parte de Deus. No entanto podemos verificar, pelo dialogo que se segue, que o problema do homem está relacionado a uma realidade com a qual ele não estar tão acostumado. O homem necessita de uma intervenção sobrenatural em sua vida para que ele possa desfrutar a presença de Deus. Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus [3.3]. Não é apenas mera transformação. É necessário nascer de novo. Nicodemos, como muitas pessoas em nossos dias, não entendeu o significado desta declaração de Jesus, pois não estava familiarizado com a obra e propósitos de Deus. Como pode um homem nascer sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez [João, 3.4]? Uma mente presa nas coisas materiais não compreenderá as coisas espirituais. Nicodemos não está atinando para as obras de Deus. É necessário que Jesus explique o “fenômeno”. Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito [3.5,6]. Por isso é preciso que o homem experimente um novo nascimento, de outra forma ele nunca poderá ver nem entrar no Reino de Deus [v.7]. 
Este novo nascimento é sobrenatural, misterioso. É obra do Espírito Santo, e a mente humana não tem capacidade de compreender e explicar tal experiência. Ouvimos e sentimos o soprar do vento, mas não podemos saber de onde ele vem nem para onde vai [v.8]. Está além de nossa compreensão. Da mesma forma acontece na obra do Espírito no novo nascimento. No entanto, embora não possamos compreender exaustivamente a obra do Espírito Santo no novo nascimento, podemos receber ou desfrutar esta obra maravilhosa. Mas, como se pode experimentar este novo nascimento? O que significa?
 Em João 1.12,13 o apóstolo diz que Jesus veio para o que era seu e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem em seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
Como pudemos ver, esse novo nascimento acontece com a pessoa quando esta recebe a Jesus. O versículo 13 enfatiza bem o novo nascimento; a pessoa que recebe a cristo, pela fé, experimenta um tipo de nascimento diferente do nascimento natural. Um nascimento que não tem origem na vontade da carne, nem na vontade do homem, mas é um nascimento que procede do próprio Deus.
Mas Nicodemos continua sem compreender, e pergunta novamente; como pode ser isto? [3.9, NVI]. Como líder espiritual Nicodemos deveria entender as coisas espirituais. Como uma pessoa se dispõe em liderar outros espiritualmente se ela mesma não entende as questões espirituais? Como uma pessoa se dispõe em guiar outros à presença de Deus se ela mesma não sabe o caminho? Como pode alguém querer levar outros à vida eterna sem saber como fazê-lo?
É por isso que Jesus o censura [3.10]. Como pode uma pessoa que toma sobre si a incumbência de ensinar as coisas concernentes ao Reino de Deus a outros e não entende estas coisas?
O problema, no entanto, está mais relacionado à fé na Palavra de Jesus Cristo. A religiosidade e o simples fato de se conhecer os temas e doutrinas bíblicos não ajudam a resolver a questão. É necessário nascer do alto. É uma obra operada por Deus. É o próprio Espírito Santo que opera este novo nascimento.

RESENHA Teologia Sistemática De Wayne Grudem: PP. 198-246

Wayne Grudem

É graduado em Harvard, mestre em divindade pelo Westminster Theological Seminary e doutor pela Universidade de Cambridge, foi professor titular do departamento de teologia bíblica e sistemática da Trinity Evangelical Divinity School durante vinte anos. Atualmente, leciona no Phoenix Seminary. Já escreveu diversos artigos e obras de referência de grande aceitação no Brasil.
O capitulo quinze (páginas 198-246) do livro de teologia sistemática de Wayne Grudem aborda as questões relacionadas à criação. Porque, como e quando Deus criou o universo? São perguntas que nos chamam a atenção para apresentar a discussão do tema.
Grudem inicia sua abordagem apontando a visão bíblica a respeito da criação; Deus criou o universo do nada [pg.198]. Sendo assim, ele passa a apresentar inúmeras provas bíblicas de que Deus é realmente o Criador de todas as coisas. Em seguida discorre sobre a criação do universo espiritual e, mesmo sendo muito sucinto em sua discussão, ele apresenta várias referências bíblicas que sustentam seu argumento. Grudem não deixa de abordar acerca da criação direta de Adão e Eva. Aqui ele já situa o leitor no ambiente da discussão, informando que há, mesmo dentro do circulo evangélico, algumas divergências quanto à extensão da evolução que pode ter ocorrido após a criação. O autor deixa claro que embora alguns defendam essa idéia, de evolução após a criação, talvez levando ao desenvolvimento de organismos cada vez mais complexos, não há como sustentar a mesma biblicamente. Ele argumenta que seria muito difícil alguém sustenta, com completa fidelidade às Escrituras, que os seres humanos são resultado de um longo processo evolutivo. Aqui Grudem articula muito bem sua posição a esse respeito, refutando tal conceito. Isso ele faz com um embasamento muito sólido nas Escrituras [pg.201]. O autor discorre também sobre o papel do Filho e do Espírito Santo na Criação, mostrando que ambos, assim como Deus Pai, que foi o agente primordial ao iniciar o ato da criação, estiveram ativos na criação de todas as coisas. Do Filho é dito que “todas as coisa foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3). “Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Quanto ao Espírito Santo, este geralmente é retratado como aquele que conclui, preenche e dá vida à criação divina. Como afirma Jó: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do todo poderoso me dá vida” (Jó, 33. 4) [pg.202].
Grudem também discorre acerca da distinção que há entre Deus e sua criação. Embora a criação seja distinta de Deus, no entanto, é sempre dependente dele. Aqui o autor faz referência a algumas filosofias que tem surgido na história e ainda são correntes em nossos dias.
O materialismo é a filosofia que nega absolutamente a existência de Deus. Para os defensores dessa filosofia “o universo material é tudo que existe”.
Já o panteísmo prega a idéia de que tudo, todo o universo, é Deus, ou faz parte de Deus.
O dualismo, por sua vez, é a idéia de que Deus e o universo material existem eternamente lado a lado, como duas forças supremas (Deus e a matéria) existindo no universo.
E o deísmo propaga a idéia de que Deus não está envolvido diretamente na criação. Para essa filosofia “Deus é encarado como um relojoeiro divino que dá corda ao “relógio” da criação no início, mas depois deixa que ele funcione sozinho”.
O autor argumenta, convincentemente, que tais filosofias diferem bastante da explicação bíblica da relação de Deus com sua criação, destacando, em cada situação, as implicações dessas filosofias.
Com muita eloqüência e fundamentação bíblica Grudem passa a mostrar que Deus criou o universo para revelar a sua glória, como é declarado em várias passagens das Escrituras Sagradas (em Apocalipse 4.11, por exemplo, este fato é reconhecido pelos vinte e quatro anciãos que prostrados diante de Deus em adoração declaram; “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”) e que este universo era “muito bom”. Mesmo que hoje haja pecado no mundo, a criação material ainda é boa aos olhos de Deus e deve também por nós ser tida como “boa”, argumenta Grudem [pg.207]. Esse conhecimento nos liberta de um falso ascetismo que considera errado o uso e o deleite da criação material.
O autor trata também da relação entre as Escrituras e as descobertas da ciência moderna. Ele observa que “em vários momentos da história, os cristãos discordaram das descobertas reconhecidas da ciência da época”. No entanto, na grande maioria dos casos, a sincera fé cristã e a firme confiança na Bíblia levaram os cientistas à descoberta de novas verdades sobre o universo de Deus, e essas descobertas mudaram a opinião científica em toda a história posterior [pg.208]. Aqui, Grudem toma o cuidado de mostrar que algumas teorias sobre a criação mostram-se nitidamente incompatíveis com os ensinamentos das Escrituras. As teorias seculares, a evolução teísta e a teoria darwiniana da evolução são exemplos disto. Já que a teoria darwiniana da evolução é predominantemente pregada ou ensinada nos últimos tempos, o autor se demora mais no tratamento da mesma. Aqui, como nas seções tratadas anteriormente sobre a criação, Grudem demonstra consistentemente a impossibilidade de sustentação da teoria. A evolução simplesmente não é uma explicação satisfatória da origem da vida na terra.
Vale lembrar também que o autor apresenta as implicações das influências destrutivas da teoria da evolução no pensamento moderno [pg.219].
Quando trata da questão da idade da terra, Grudem reconhece que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239]. No entanto, ele admite que “hoje tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções válidas para os cristãos que crêem na Bíblia. Ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. Em sua abordagem quanto a idade da terra, a consistência de Grudem pode ser observada através destas afirmações. Enquanto que ele demonstra coerência lógica e uma posição firme com respeito a autoridade da Escritura Sagrada, quando trata de outras questões, como foi observado no início, aqui, tratando da questão da idade da terra, não se pode dizer que Grudem seja consistente em seus argumentos. Talvez ele não queira demonstrar uma posição definida em prol de uma ou outra idéia mas, o que se pode ver, do início ao fim da discussão, é seu esforço em defender a tese da terra antiga. Grande parte de sua abordagem gira em torno de sua defesa em favor da mesma. Sua inconsistência pode ser vista, inclusive, no fato de ele mesmo reconhecer, e declarar, que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239] e que ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. No entanto ele não faz outra coisa a não ser querer defender a tese da terra antiga. De fato ele chega a afirmar que “talvez 15 bilhões de anos sejam precisamente a extensão de tempo certa para preparar o universo para a chegada do homem, e, 4,5 bilhões de anos o tempo certo para preparar a terra” [pg.229].
O que se pode observar, dos argumentos de Grudem, é que ele deposita demasiada confiança nas “deduções” da moderna pesquisa geológica [pg.237]. Sendo assim, necessariamente procura conformar-se a tais “novas descobertas”. Para isso, ele apega-se à “possível compreensão de dia como um longo período de tempo (milhões de anos durante os quais Deus executou as ações criadoras de Gênesis um). Segundo ele, talvez seja a melhor interpretação a adotar [pg.227]. Grudem argumenta que em outras passagens onde aparece a palavra dia (Ex. 20.12; Jo. 5.17; Hb.4.4,9-10) o significado é de um longo período de tempo. Mas, percebemos certa incoerência em sua lógica aqui. Em sua objeção à teoria do intervalo Grudem refuta esse tipo de argumento. Diz ele; “não é correto transferir as circunstâncias que cercam uma palavra num trecho ao uso dessa mesma palavra noutro trecho, quando o significado da palavra e seu uso no segundo contexto não exigem as mesmas circunstâncias” [pg.221]. Porém, é isso o que ele faz em não considerar as circunstâncias e contexto em que a palavra dia ocorre com outro sentido.
Grudem apresenta outros argumentos que pesam contra a teoria do intervalo [pg.221], mas, sem nenhuma explicação convincente ignora os mesmos argumentos em sua defesa da tese da terra antiga. A respeito da teoria do intervalo ele declara; “essa teoria precisa supor que Deus fez uma criação anterior que existiu durante milhões de anos sem a presença do aspecto mais elevado da obra criadora: o próprio homem”. E mais adiante ele afirma que; “...o fato de Deus não ter coroado a criação (a milhões de anos atrás) com a sua criatura mais sublime, o homem, parece incompatível com o retrato bíblico de Deus, com aquele que sempre alcança seus desígnios em tudo o que faz [pg.222]. No entanto, a menos que Grudem admita que o homem também foi criado a 15 bilhões, ou no mínimo 4,5 bilhões de anos, é exatamente essa idéia que ele apóia em sua defesa da tese da terra antiga [pg. 229].
Portanto, como podemos observar no conteúdo das páginas 198-246 da Teologia Sistemática de Grudem, ele argumenta com uma boa consistência lógica e coerente posição de autoridade bíblica, quando discorre acerca da criação, seu propósito, e quando trata do evolucionismo, especialmente da teoria darwiniana. Apenas quando se dispõe a falar sobre as teses referentes à idade da terra, ele demonstra inconsistência em sua abordagem, às vezes até mesmo comprometendo alguns de seus argumentos anteriores. Isso mostra o quanto devemos ser cautelosos quando desafiados a abandonar algumas posições da teologia tradicional em favor de “novas idéias”.
É uma boa leitura acerca da criação. Enquanto fornece ao leitor argumentos sólidos com respeito à visão criacionista, ambienta-o na discussão das teorias seculares, especialmente a teoria darwiniana da evolução, mostrando as incoerências e inconsistências de seus argumentos. Ao mesmo tempo desafia ao leitor a olhar e avaliar com mais cautela quando trata da questão da idade da terra.

RESENHA Teologia Sistemática De Wayne Grudem: PP. 198-246

Wayne Grudem

É graduado em Harvard, mestre em divindade pelo Westminster Theological Seminary e doutor pela Universidade de Cambridge, foi professor titular do departamento de teologia bíblica e sistemática da Trinity Evangelical Divinity School durante vinte anos. Atualmente, leciona no Phoenix Seminary. Já escreveu diversos artigos e obras de referência de grande aceitação no Brasil.
O capitulo quinze (páginas 198-246) do livro de teologia sistemática de Wayne Grudem aborda as questões relacionadas à criação. Porque, como e quando Deus criou o universo? São perguntas que nos chamam a atenção para apresentar a discussão do tema.
Grudem inicia sua abordagem apontando a visão bíblica a respeito da criação; Deus criou o universo do nada [pg.198]. Sendo assim, ele passa a apresentar inúmeras provas bíblicas de que Deus é realmente o Criador de todas as coisas. Em seguida discorre sobre a criação do universo espiritual e, mesmo sendo muito sucinto em sua discussão, ele apresenta várias referências bíblicas que sustentam seu argumento. Grudem não deixa de abordar acerca da criação direta de Adão e Eva. Aqui ele já situa o leitor no ambiente da discussão, informando que há, mesmo dentro do circulo evangélico, algumas divergências quanto à extensão da evolução que pode ter ocorrido após a criação. O autor deixa claro que embora alguns defendam essa idéia, de evolução após a criação, talvez levando ao desenvolvimento de organismos cada vez mais complexos, não há como sustentar a mesma biblicamente. Ele argumenta que seria muito difícil alguém sustenta, com completa fidelidade às Escrituras, que os seres humanos são resultado de um longo processo evolutivo. Aqui Grudem articula muito bem sua posição a esse respeito, refutando tal conceito. Isso ele faz com um embasamento muito sólido nas Escrituras [pg.201]. O autor discorre também sobre o papel do Filho e do Espírito Santo na Criação, mostrando que ambos, assim como Deus Pai, que foi o agente primordial ao iniciar o ato da criação, estiveram ativos na criação de todas as coisas. Do Filho é dito que “todas as coisa foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3). “Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Quanto ao Espírito Santo, este geralmente é retratado como aquele que conclui, preenche e dá vida à criação divina. Como afirma Jó: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do todo poderoso me dá vida” (Jó, 33. 4) [pg.202].
Grudem também discorre acerca da distinção que há entre Deus e sua criação. Embora a criação seja distinta de Deus, no entanto, é sempre dependente dele. Aqui o autor faz referência a algumas filosofias que tem surgido na história e ainda são correntes em nossos dias.
O materialismo é a filosofia que nega absolutamente a existência de Deus. Para os defensores dessa filosofia “o universo material é tudo que existe”.
Já o panteísmo prega a idéia de que tudo, todo o universo, é Deus, ou faz parte de Deus.
O dualismo, por sua vez, é a idéia de que Deus e o universo material existem eternamente lado a lado, como duas forças supremas (Deus e a matéria) existindo no universo.
E o deísmo propaga a idéia de que Deus não está envolvido diretamente na criação. Para essa filosofia “Deus é encarado como um relojoeiro divino que dá corda ao “relógio” da criação no início, mas depois deixa que ele funcione sozinho”.
O autor argumenta, convincentemente, que tais filosofias diferem bastante da explicação bíblica da relação de Deus com sua criação, destacando, em cada situação, as implicações dessas filosofias.
Com muita eloqüência e fundamentação bíblica Grudem passa a mostrar que Deus criou o universo para revelar a sua glória, como é declarado em várias passagens das Escrituras Sagradas (em Apocalipse 4.11, por exemplo, este fato é reconhecido pelos vinte e quatro anciãos que prostrados diante de Deus em adoração declaram; “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”) e que este universo era “muito bom”. Mesmo que hoje haja pecado no mundo, a criação material ainda é boa aos olhos de Deus e deve também por nós ser tida como “boa”, argumenta Grudem [pg.207]. Esse conhecimento nos liberta de um falso ascetismo que considera errado o uso e o deleite da criação material.
O autor trata também da relação entre as Escrituras e as descobertas da ciência moderna. Ele observa que “em vários momentos da história, os cristãos discordaram das descobertas reconhecidas da ciência da época”. No entanto, na grande maioria dos casos, a sincera fé cristã e a firme confiança na Bíblia levaram os cientistas à descoberta de novas verdades sobre o universo de Deus, e essas descobertas mudaram a opinião científica em toda a história posterior [pg.208]. Aqui, Grudem toma o cuidado de mostrar que algumas teorias sobre a criação mostram-se nitidamente incompatíveis com os ensinamentos das Escrituras. As teorias seculares, a evolução teísta e a teoria darwiniana da evolução são exemplos disto. Já que a teoria darwiniana da evolução é predominantemente pregada ou ensinada nos últimos tempos, o autor se demora mais no tratamento da mesma. Aqui, como nas seções tratadas anteriormente sobre a criação, Grudem demonstra consistentemente a impossibilidade de sustentação da teoria. A evolução simplesmente não é uma explicação satisfatória da origem da vida na terra.
Vale lembrar também que o autor apresenta as implicações das influências destrutivas da teoria da evolução no pensamento moderno [pg.219].
Quando trata da questão da idade da terra, Grudem reconhece que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239]. No entanto, ele admite que “hoje tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções válidas para os cristãos que crêem na Bíblia. Ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. Em sua abordagem quanto a idade da terra, a consistência de Grudem pode ser observada através destas afirmações. Enquanto que ele demonstra coerência lógica e uma posição firme com respeito a autoridade da Escritura Sagrada, quando trata de outras questões, como foi observado no início, aqui, tratando da questão da idade da terra, não se pode dizer que Grudem seja consistente em seus argumentos. Talvez ele não queira demonstrar uma posição definida em prol de uma ou outra idéia mas, o que se pode ver, do início ao fim da discussão, é seu esforço em defender a tese da terra antiga. Grande parte de sua abordagem gira em torno de sua defesa em favor da mesma. Sua inconsistência pode ser vista, inclusive, no fato de ele mesmo reconhecer, e declarar, que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239] e que ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. No entanto ele não faz outra coisa a não ser querer defender a tese da terra antiga. De fato ele chega a afirmar que “talvez 15 bilhões de anos sejam precisamente a extensão de tempo certa para preparar o universo para a chegada do homem, e, 4,5 bilhões de anos o tempo certo para preparar a terra” [pg.229].
O que se pode observar, dos argumentos de Grudem, é que ele deposita demasiada confiança nas “deduções” da moderna pesquisa geológica [pg.237]. Sendo assim, necessariamente procura conformar-se a tais “novas descobertas”. Para isso, ele apega-se à “possível compreensão de dia como um longo período de tempo (milhões de anos durante os quais Deus executou as ações criadoras de Gênesis um). Segundo ele, talvez seja a melhor interpretação a adotar [pg.227]. Grudem argumenta que em outras passagens onde aparece a palavra dia (Ex. 20.12; Jo. 5.17; Hb.4.4,9-10) o significado é de um longo período de tempo. Mas, percebemos certa incoerência em sua lógica aqui. Em sua objeção à teoria do intervalo Grudem refuta esse tipo de argumento. Diz ele; “não é correto transferir as circunstâncias que cercam uma palavra num trecho ao uso dessa mesma palavra noutro trecho, quando o significado da palavra e seu uso no segundo contexto não exigem as mesmas circunstâncias” [pg.221]. Porém, é isso o que ele faz em não considerar as circunstâncias e contexto em que a palavra dia ocorre com outro sentido.
Grudem apresenta outros argumentos que pesam contra a teoria do intervalo [pg.221], mas, sem nenhuma explicação convincente ignora os mesmos argumentos em sua defesa da tese da terra antiga. A respeito da teoria do intervalo ele declara; “essa teoria precisa supor que Deus fez uma criação anterior que existiu durante milhões de anos sem a presença do aspecto mais elevado da obra criadora: o próprio homem”. E mais adiante ele afirma que; “...o fato de Deus não ter coroado a criação (a milhões de anos atrás) com a sua criatura mais sublime, o homem, parece incompatível com o retrato bíblico de Deus, com aquele que sempre alcança seus desígnios em tudo o que faz [pg.222]. No entanto, a menos que Grudem admita que o homem também foi criado a 15 bilhões, ou no mínimo 4,5 bilhões de anos, é exatamente essa idéia que ele apóia em sua defesa da tese da terra antiga [pg. 229].
Portanto, como podemos observar no conteúdo das páginas 198-246 da Teologia Sistemática de Grudem, ele argumenta com uma boa consistência lógica e coerente posição de autoridade bíblica, quando discorre acerca da criação, seu propósito, e quando trata do evolucionismo, especialmente da teoria darwiniana. Apenas quando se dispõe a falar sobre as teses referentes à idade da terra, ele demonstra inconsistência em sua abordagem, às vezes até mesmo comprometendo alguns de seus argumentos anteriores. Isso mostra o quanto devemos ser cautelosos quando desafiados a abandonar algumas posições da teologia tradicional em favor de “novas idéias”.
É uma boa leitura acerca da criação. Enquanto fornece ao leitor argumentos sólidos com respeito à visão criacionista, ambienta-o na discussão das teorias seculares, especialmente a teoria darwiniana da evolução, mostrando as incoerências e inconsistências de seus argumentos. Ao mesmo tempo desafia ao leitor a olhar e avaliar com mais cautela quando trata da questão da idade da terra.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Você Ama a Cristo?


* * *

“A quem não havendo visto, amais.” (1Pe 1:8)

Vocês podem saber se de fato são cristãos verdadeiros pelo teste do seu amor por Jesus Cristo. Portanto, examinem-se a si mesmos, se de fato amam a Jesus Cristo a quem nunca viram. A maioria das pessoas no mundo amam verdadeiramente apenas as pessoas e coisas que viram, mas podem vocês dizer que sinceramente e sobretudo amam a Jesus Cristo, a quem não viram? O amor da maioria resulta do conhecimento que o olho fornece do objeto amado, mas resulta o seu amor do conhecimento que os ouvidos têm fornecido pela palavra da amabilidade que há em Cristo?

Pergunta: Como nós podemos saber se de fato temos um amor verdadeiro por Jesus Cristo?

Resposta: Vocês podem conhecer a verdade do seu amor por Jesus Cristo, primeiro, pelo seus anseios pela presença de Cristo; segundo pelo seu apreço e freqüência aos meios onde Cristo deve ser encontrado , e em ali buscá-lO; terceiro pelo seu amor pela imagem (auto-revelação) de Cristo; quarto, pela obediência aos mandamentos de Cristo.

I. Primeiro, pelo seus anseios pela presença de Cristo. Onde quer que haja um grande amor por uma pessoa, há um desejo pela presença dessa pessoa. Vocês séria e sinceramente desejam a presença de Cristo? Há duas formas da presença de Cristo: Sua graciosa presença aqui e Sua gloriosa presença no último dia.

1. Há a graciosa presença de Cristo aqui: “não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo. 14:18). Vocês desejam que seus amigos e parentes venham para estar com vocês, mas desejam em primeiro lugar que Cristo venha até vocês? Cristo vem aos seus discípulos na forma de uma graciosa comunhão, na forma de uma graciosa manifestação e na forma de uma doce consolação.

a.Vocês desejam que Cristo venha a vocês na forma de uma graciosa comunhão? São seus desejos que essa comunhão seja uma luz espiritual de Cristo para guiá-los e ensiná-los; de vida espiritual da parte de Cristo para estimulá-los e encorajá-los, de vigor espiritual da parte de Cristo para sustê-los sob fardos e habilitá-los para os seus deveres? Vocês realmente desejam todos os tipos de comunhão e os mais altos níveis de graça da plenitude da graça que está em Cristo?
b.Vocês desejam que Cristo venha a vocês na forma de uma graciosa manifestação? “Aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo. 14:21). Vocês realmente desejam o cumprimento dessa promessa a fim de que Cristo revele mais da beleza da Sua pessoa e do amor do Seu coração? Vocês sofrem quando o seu Amado se retira, quando a cortina é fechada, e uma nuvem se interpõe entre vocês e o Sol da Justiça; quando Ele se oculta e encobre a Sua face de vocês? Vocês anelam pelo retorno de Cristo e pelas Suas manifestações?
c.Vocês desejam que Cristo venha a vocês na forma de uma doce consolação, como resultado dessa comunhão e manifestação? Desejam vocês o óleo de alegria com o qual Cristo é ungido; que Ele lhes desse a unção do Espírito não apenas para santificá-los, mas para confortá-los também? Vocês desejam que os seus corações sejam cheios com alegria espiritual - alegria do Espírito Santo, que é indizível e cheia de glória? Vocês desejam o consolo que Cristo dá mais do que todo o conforto que o mundo e a carne pode oferecer; o consolo que entra pela porta da fé, mais do que qualquer consolo que venha pela porta dos sentidos; essas alegrias que estão em Cristo, mais do que todas as alegrias que podem ser encontrada no mais doce e desejável deleite das criaturas?

2. E vocês desejam também a gloriosa presença de Cristo no último dia? Quando Ele promete: “Certamente venho sem demora”, pode o seu coração responder como em Apocalipse 22:20: “Amém. Vem Senhor Jesus”? Você está contente por viver tão perto do fim do mundo, sabendo que o Senhor está próximo, e que sua vinda se aproxima a cada dia? Podem vocês levantar suas cabeças com alegria quando olham em direção ao lugar onde o Senhor Jesus está, a direita do trono da Majestade nas alturas? Podem vocês pensar com paz de espírito que ainda dentro de pouco tempo Aquele que vem virá, e não tardará; que dentro em pouco Cristo descerá dos céus com um brado, ao som da trombeta, e que os seus olhos O verão no esplendor da Sua glória e majestade? Se alguns de vocês dizem que temem a gloriosa presença de Cristo com receio de que seriam então rejeitados por causa desse temor, vocês não estão prontos nem preparados; mesmo que possam dizer de todo o coração que desejam acima de tudo estar prontos, que esforçam-se para isto e que lamentam por não estar mais prontos. E considerando que estivessem prontos e seguros de seu interesse em Cristo, poderiam dizer que desejariam que Cristo voltasse imediatamente, e que não desejariam maior alegria e felicidade do que viver com Cristo na glória? Podem vocês dizer que contam com a presença de Cristo como a felicidade do céu? Essas são evidências de um verdadeiro desejo pela presença gloriosa de Cristo, e de amor sincero por Cristo.

II. Segundo, vocês podem conhecer seu amor por Cristo pelo seu apreço e freqüência aos meios onde Cristo deve ser encontrado , e em ali buscá-lO. São esses os meios das suas ordenanças, tanto públicas como particulares, onde Ele pode ser encontrado: vocês obedecem às ordenanças, comparecem às reuniões de oração, à pregação da Palavra e ao sacramento da Ceia do Senhor? Vocês têm em alta conta essas ordenanças por causa do cunho da instituição de Cristo sobre elas, por causa da presença de Cristo nelas, e por serem elas meios para unirem você e Ele? E quando estão sob as ordenanças, vocês buscam diligentemente a Cristo nelas? Ficam vocês limitados à parte exterior e carnal das ordenanças de apenas encontrarem-se com o povo de Deus? Ou vocês determinam, desejam e esforçam-se por algo mais interior, espiritual e incomparavelmente doce a fim de que possam encontrar-se com Cristo para que tenham comunhão com o Pai e o Filho? E com relação a isso podem vocês dizer como Davi : “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor!” e: “pois um dia Senhor nos teus átrios valem mais que mil” ( Sl. 84:10), e: “Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que possa eu morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor, e meditar no seu templo” (Sl. 27:4)? Buscam vocês a Cristo também com suas famílias e em particular? Buscam-no em meditação e oração secreta? O seu amor por Cristo se expressa nos seus desejos ; os seus desejos se revelam na sua busca por Cristo em Seus meios.

III. Em terceiro lugar, vocês podem conhecer o seu amor por Cristo pelo seu amor pela imagem de Cristo; existe a imagem de Cristo na Sua Palavra, e existe a imagem de Cristo no seu povo.

1) Vocês amam a imagem de Cristo na sua Palavra? Assim como em uma moeda de César tem a imagem e a inscrição de César, a Palavra das Escrituras, a qual é a Palavra de Cristo, traz a imagem e a inscrição d'Ele. Vocês amam as Escrituras por causa da imagem da verdade e da sabedoria de Cristo nelas? Amam vocês os preceitos das Escrituras por causa da imagem da santidade de Cristo neles? Amam vocês as ameaças das Escrituras por causa da imagem da justiça de Cristo nelas? Amam vocês as promessas das escrituras por causa da imagem da bondade, graça, e amor de Cristo nelas? Vocês tem a Palavra de Cristo nas sua Bíblias, e às vezes em seus ouvidos, mas ela nos vossos corações? Vocês a recebem em amor?

2) Amam vocês a imagem de Cristo no Seu povo? Se vocês não amam ao seu irmão a quem vêem, como podem amar o seu Senhor a quem não viram? Todo discípulo de Cristo traz a imagem de Cristo. Se vocês amam o original amarão a imagem, mesmo que não esteja perfeitamente gravada. Se vocês amam a perfeita bondade e santidade que está em Cristo, vocês amarão a bondade e santidade que vêem nos santos, ainda que eles as tenham em uma imperfeita medida. Amam vocês os discípulos de Cristo, e isso por causa da imagem de Cristo, embora eles discordem de vocês em algumas opiniões que são circunstanciais?

IV. Em quarto lugar, vocês podem conhecer seu amor por Cristo pela sua obediência aos Seus mandamentos, João 14:15, “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”; e o versículo 21, “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”. Vocês têm os mandamentos de Cristo. Vocês os guardam? Vocês os conhecem, mas vocês os praticam? O seu amor por Cristo é conhecido pela sua obediência a Ele. Se Cristo é o seu Amado, Ele é também o seu Senhor; se vocês têm verdadeira afeição por Ele, vocês se sujeitarão a Ele. Se vocês amam a Cristo, vocês procurarão agradá-lO. Vocês não são servos da carne, para cuidarem de agradá-la, mas são servos de Cristo para procurar, acima de tudo e de todos, agradá-lO. Se vocês amam a Cristo, vocês não só temem dar ocasião de ofensa para os homens, mas acima de tudo, vocês temem desagradar e ofender o seu Senhor. Vocês se esforçam para andar de modo que agrade a Cristo na forma de uma sincera e compreensiva obediência? Vocês obedecem a Cristo de todo o coração? Têm vocês respeito por todos os seus mandamentos? Vocês lamentam quando caem em sua obediência a Cristo? Se vocês podem dizer na presença do Senhor e dos seus corações (não permitam que suas línguas mintam) que vocês não vivem e não permitem a si mesmos viverem na prática de qualquer pecado conhecido que Cristo proíbe, nem na negligência de qualquer dever conhecido que Cristo ordena, essa é uma evidência segura do verdadeiro amor por Cristo.

Rev. Thomas Vincent (1634-1678)

Thomas Vincent foi um puritano do século dezessete cujos escritos são repletos de questões para o auto-exame. Este artigo foi extraído do livro O Amor do Cristão Verdadeiro pelo Cristo Não Visto (The True Chistian’s Love for the Unseen Chist - Soli Deo Gloria, 1993).
Tradução: Ronaldo Pernambuco

Implicações do Livre-Arbítrio


Charles H. Spurgeon

De acordo com o esquema do livre-arbítrio, o Senhor tem boas intenções, mas precisa aguardar como um servo, a iniciativa de sua criatura, para saber qual é a intenção dela. Deus quer o bem e o faria, mas não pode, por causa de um homem indisposto, o qual não deseja que sejam realizadas as boas coisas de Deus. O que os senhores fazem, senão destronar o Eterno e colocar em seu lugar a criatura caída, o homem? Pois, de acordo com essa teoria, o homem aprova, e o que ele aprova torna-se o seu destino. Tem de existir um destino em algum lugar; ou é Deus ou é o homem quem decide. Se for Deus Quem decide, então Jeová se assenta soberano em seu trono de glória, e todas as hostes Lhe obedecem, e o mundo está seguro. Em caso contrário, os senhores colocam o homem em posição de dizer: “Eu quero” ou “Eu não quero. Se eu quiser, entro no céu; se quiser, desprezarei a graça de Deus. Se quiser, conquistarei o Espírito Santo, pois sou mais forte do que Deus e mais forte que a onipotência. Se eu decidir, tornarei ineficaz o sangue de Cristo, pois sou mais poderoso que o sangue, o sangue do próprio Filho de Deus. Embora Deus estipule seu propósito, me rirei desse propósito; será o meu propósito que fará o dEle realizar-se ou não”. Senhores, se isto não é ateísmo, é idolatria; é colocar o homem onde Deus deveria estar. Eu me retraio, com solene temor e horror, dessa doutrina que faz a maior das obras de Deus - a salvação do homem - depender da vontade da criatura, para que se realize ou não. Posso e hei de me gloriar neste texto da Palavra, em seu mais amplo sentido: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16).

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

FÉ - Arthur W. Pink


* * *

“De fato sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb. 11:6)

“... mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé, naqueles que a ouviram” (Hb. 4:2).

A conexão entre estes dois versículos nos mostra como é vã toda a atividade religiosa onde não há fé. A atividade exterior deve ser realizada correta e diligentemente, mas a menos que a fé esteja em operação, Deus não é honrado e a alma não é edificada. A fé abre o coração para Deus, e fé é o que se recebe de Deus; não uma mera aceitação do que é revelado em Sua Palavra, mas um princípio sobrenatural de graça que existe no Deus das Escrituras. Isso o homem natural, não importa o quanto religioso ou ortodoxo ele seja, não tem e nenhum de seus esforços, nem atos da sua vontade , podem adquirir. É um dom supremo de Deus.

A fé deve operar em todas as atividades do cristão, se Deus há de ser glorificado e ele edificado. Primeiro, na leitura da palavra: “Estes, porém, foram registrados para que creiais” (Jo. 20:31). Segundo, no ouvir da pregação dos servos de Deus: “A pregação da fé” (Gl. 3:2). Terceiro, na oração: “Peça-a porém com fé, em nada duvidando” (Tg. 1:6). Quarto, na nossa vida diária: “Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos” (2Co. 5:7) e “esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no filho de Deus” (Gl. 2:20). Quinto, em nossa partida deste mundo: “Todos estes morreram na fé” (Hb. 11:13).

O que o fôlego é para o corpo, a fé é para a alma, pois alguém que sem fé busca realizar ações espirituais, é como se colocasse uma mola em um boneco de madeira, fazendo-o mover-se mecanicamente.

Um professo não-regenerado pode ler as Escrituras e ainda assim não ter qualquer fé espiritual. Assim como o hindu devoto lê atentamente o Upanishad e o muçulmano o seu Alcorão, muitos países “cristãos” adotam o estudo da Bíblia e mesmo assim não tem mais da vida de Deus em suas almas do que têm os seus irmãos pagãos. Milhares nesta terra lêem a Bíblia, crêem na sua autoria divina e se tornam mais ou menos familiarizados com o seu conteúdo. Um mero professo pode ler vários capítulos diariamente e mesmo assim nunca compreender um único versículo. Mas a fé aplica a Palavra de Deus: ela proclama Suas terríveis ameaças e tremores diante deles; ela proclama Seus solenes avisos, e procura alertá-los; ela proclama Seus preceitos e clama a Ele por graça para andar neles.

Acontece o mesmo no ouvir da Palavra pregada. Um professo carnal se orgulhará de ter comparecido a esta ou aquela conferência, de ter ouvido aquele famoso professor e aquele renomado pregador e ter tido tanto proveito para a sua alma, quanto se nunca tivesse ouvido qualquer um deles. Ele pode ouvir dois sermões todo domingo e depois de cinqüenta anos ser tão morto espiritualmente como o é hoje. Mas o homem regenerado compreende a mensagem e avalia a si mesmo pelo que ouve. Ele é muitas vezes convencido dos seus pecados e os lamenta. Ele testa a si mesmo pelo padrão de Deus e se sente tão longe de ser aquilo que deveria, que sinceramente duvida da sinceridade da sua própria profissão (de fé). A palavra o corta em pedaços , como uma espada de dois gumes e o faz clamar: “desventurado homem que sou!”.

Na oração, o mero professo muitas vezes faz o crente humilde envergonhar-se de si mesmo. O religioso carnal, que tem o “dom da palavra”, nunca se perde com elas; frases fluem de seus lábios tão prontamente como águas de um riacho murmurante; versículos das Escrituras parecem correr através da sua mente tão livremente como pó passa pela peneira, ao passo que o pobre e oprimido filho de Deus é muitas vezes incapaz de fazer algo mais do que clamar: “Ó Deus sê propício a mim pecador!”. Ah, meus amigos, nós precisamos distinguir nitidamente entre a aptidão natural em fazer “boas” orações e o espírito de súplica verdadeira: um consiste meramente de palavras, o outro de “gemidos inexprimíveis”; um é adquirido por educação religiosa, o outro é implantado na alma pelo Espírito Santo.

Assim é também em assuntos sobre as coisas de Deus. O professo fútil pode conversar loquazmente e muitas vezes, de modo ortodoxo, de “doutrinas”, sim, e de coisas terrenas também. De acordo com a sua disposição, ou dependendo da sua audiência, assim é o seu tema. Mas o filho de Deus, embora sendo pronto para ouvir o que é para a edificação, é “tardio para falar”. Oh meu leitor, cuidado com pessoas que falam muito; um tambor faz bastante barulho mas é vazio por dentro! “Muitos proclamam a sua própria benignidade, mais o homem fidedigno quem o achará?” (Pv. 20:6). Quando um santo de Deus abre os seus lábios para falar de assuntos espirituais, é para dizer o que o Senhor, em Sua infinita misericórdia, tem feito por ele; mas o religioso carnal está ansioso para que os outros saibam o que ele tem feito pelo Senhor.

A diferença é evidente da mesma forma, entre o crente genuíno e o crente nominal, com relação à vida diária: conquanto este último possa parecer exteriormente justo, ainda assim por dentro está “cheio de hipocrisia e iniquidade” (Mt. 23:28). Eles colocarão a pele de uma verdadeira ovelha, mas na realidade são lobos em pele de ovelhas. Mas os filhos de Deus têm a natureza da ovelha, e aprendem dAquele que é “manso e humilde de coração” e, como eleitos de Deus, se revestem de “ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl. 3:12). Eles são em secreto o que são em público. Eles adoram a Deus em espírito e em verdade.

Também é assim no fim de suas vidas. Um professo vazio pode morrer tão fácil e tranqüilamente como viveu - abandonado pelo Espírito Santo e não perturbado pelo diabo; como diz o salmista: “para ele não há preocupações” (Sl. 73:4). Mas isso é muito diferente do fim daquele cuja consciência, profundamente sulcada e reconhecidamente corrompida, foi aspergida com o precioso sangue de Cristo: “Observa o homem íntegro, e contempla o justo; porquanto o fim daquele homem é de paz” (Sl. 37:37) - sim, uma paz que “excede todo o entendimento”. Tendo vivido a vida do justo, ele morre “a morte do justo” (Nm". 23:10).

E o que é que distingue um caráter do outro? onde está a diferença entre o crente genuíno e o que o é apenas no nome? Nisso: em uma fé dada por Deus e implantada no coração pelo Espírito. Não um mero concordar intelectual com a Verdade, mas um vivo, espiritual e vital princípio no coração - uma fé que “purifica o coração” (At. 15:9), que “atua pelo amor” (Gl. 5:6), que “vence o mundo” (1Jo. 5:4). Sim, uma fé que é divinamente mantida em meio a provações por dentro e oposições por fora; uma fé que exclama “ainda que Ele me mate, nEle confiarei” (Jó 13:15).

É bem verdade que essa fé não está sempre em atuação, nem é igualmente forte em todo o tempo. O beneficiário dela deve ser ensinado por dolorosa experiência que da mesma forma como ele não a criou, ele também não pode comandá-la; por essa razão ele se volta para o seu Autor e diz: “Senhor eu creio, ajuda-me com a minha falta de fé”. E é assim para que quando ler a Palavra ele seja capaz de apossar-se das suas preciosas promessas; quando prostrar-se diante do trono da graça, ele seja capaz de lançar o seu fardo sobre o Senhor; que quando ele levantar-se para seus deveres temporais, seja capaz de apoiar-se nos braços eternos; e quando ele for chamado a passar pelo vale da sombra da morte, clame triunfantemente: “não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo”. “Senhor aumenta-nos a fé”.

Tradução: Ronaldo Pernambuco

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Criacionismo Bíblico, por: Antonio Luis

De todos os ataques que a Escritura Sagrada tem experimentado em toda a sua existência um dos que mais perdura é aquele que não a ataca diretamente, mas de forma indireta, procurando anular a fonte da mesma; o próprio Deus. A teoria da evolução com seus pressupostos é um dos meios principais pelos quais alguns têm procurado veementemente lançar de sobre si o senso de responsabilidade e prestação de contas para com o Criador, Soberano, Santo e Justo Juiz, para com quem toda a humanidade encontra-se em dívida. Embora o evolucionismo não seja uma cosmo-visão moderna, podendo ter suas origens traçadas até os tempos dos filósofos gregos, a cerca de 2600 anos atrás, foi a parti do final do século XV e começo do século XVI que o questionamento das antigas propostas filosóficas ganhou a perspectiva experimental, passando a ser avaliadas através de estudos e observações [Lourenço, pg.21]. Como observa Franklin Ferreira; Hoje, o debate toma uma forma bem mais sofisticada, com a introdução de teorias advindas da biologia, da física e da astronomia [Ferreira, pg.251]. O fato é que, a teoria evolucionista, em detrimento do criacionismo, tem prevalecido como a matéria principal no que diz respeito à explicação das origens do universo e da vida, apesar de seus inumeráveis equívocos e falhas. Tanto é que até mesmo em círculos cristãos alguns têm aderido às idéias naturalistas, aplicando-as como meios de interpretar alguns fatos bíblicos. A exemplo disto podemos citar o que se conhece hoje por “criacionismo evolucionista”, ou “teísmo evolucionista”.
Sendo assim, nos dias atuais verificamos algumas divergências acerca de temas relacionados às passagens de Gênesis capítulos 1 e 6-8.
Neste trabalho estaremos tratando de algumas questões relacionadas a estas passagens bíblicas (Gn. 1, 6 e 8). Discorreremos acerca das origens do universo, a existência e idade da terra, a existência da vida na terra, a existência do homem e o conceito de um dilúvio.






As origens do universo:
Ao considerar as origens do universo a humanidade geralmente toma dois caminhos diferentes: Criacionismo (cosmovisão que propõe que a origem do universo e da vida são resultados de um ato criador intencional), e o naturalismo (cosmovisão materialista que propõe que a natureza e os processos naturais correspondem a tudo que existe, considerando como não existente e desconhecido tudo o que possa ser inerentemente diferente de um fenômeno natural), o qual tem se propagado e perpetuado no meio secular e científico através da teoria da evolução (teoria naturalista que propõe que mudanças das características hereditárias de uma população, através de sucessivas gerações, por longos períodos de tempo, teriam sido responsáveis pelo aparecimento das novas espécies [Lourenço – xiii]).
O naturalismo filosófico, mesmo tendo experimentado muitas correções no decorrer da história, ainda prevalece nos dias atuais como a teoria mais importante no mundo secular, tanto com relação à origem da vida na terra como também a explicação do universo ou as origens em geral. Na verdade o evolucionismo pode ser considerado como um lugar de “refúgio” para aqueles que rejeitam o Deus Soberano e Criador de todas as coisas. “O evolucionismo, como filosofia ou cosmovisão realmente envolve uma negação aberta de realidades espirituais, assim como rejeita também a existência de um Deus pessoal. Todos os seus principais expoentes têm declarado isso em termos inequívocos” [Archer, pg.107]. Os naturalistas rejeitam o fato de que a criação tem origem em Deus, o qual criou todas as coisas com propósito definido; glorificá-lo. 
O naturalismo, como observa Ferreira, “faz questão de afirmar que o universo consiste apenas de energia e matéria. Tudo que existe surgiu através de processos naturais” [Ferreira, pg. 255]. Os pressupostos do naturalismo, ou da teoria da evolução, têm sido questionados e até mesmo abandonados por vários cientistas que, com o passar do tempo, tem percebido sua inconsistência. Na verdade a teoria evolucionista não passa de mera hipótese. Como observa Berkhof; “A própria incerteza que prevalece no campo dos evolucionistas é prova categórica de que o evolucionismo é apenas uma hipótese” [Berkhof, pg.160]. Porém, mesmo com todas as suas falhas e equívocos, o evolucionismo continua sendo a teoria mais propagada no meio secular com relação às origens do universo e da vida, embora a evolução não seja realmente um fato comprovado e nem uma lei cientifica demonstrada, mas, “apenas uma interpretação de determinados fatos e, portanto não passa de uma crença por parte dos que a sustentam” [Thomas, pg.142].
A visão criacionista das origens do universo e da vida, por outro lado, embora não seja divulgada tanto quanto a visão naturalista, pelo menos no meio secular, têm se mostrado, no decorrer da história, uma posição coerente e consistente até mesmo com relação a alguns fatores da própria ciência.
Em nossa discussão sobre o referido tema precisamos definir algumas questões fundamentais. Antes de continuarmos nossa abordagem, precisamos definir a parti de qual ponto de vista daremos inicio à nossa argumentação.
Qual será a base de nossos pressupostos para o estudo sobre as origens; as teorias científicas, as quais tem se mostrado passiveis de várias correções no decorrer da história, ou a Escritura sagrada, que a cada ataque sofrido se mostra digna de toda credibilidade? Já que, como teista, ou criacionista, iniciaremos nossa abordagem a parti do ponto de vista bíblico da criação, precisamos manter-nos firmes na defesa da veracidade da Escritura Sagrada. Conseqüentemente todos os nossos argumentos terão como base as verdades reveladas na Palavra de Deus, sem detrimento de qualquer conceito ou princípio revelado na mesma. Reconhecemos o fato de que muitos, inclusive alguns criacionistas que esposam as teorias e pressuposições da ciência naturalista, nos atribuirão ignorância com relação aos supostos dados científicos que atestam a antiguidade do universo. No entanto, vale lembrar que, temos consciência destes supostos dados, e também do fato de que os mesmos não passam de mera hipótese. Este fato poderá ser verificado no decorrer da discussão, quando tratarmos dos outros tópicos, expondo o ponto de vista do criacionismo bíblico.      
Mas o que a bíblia realmente ensina acerca das origens do universo e da vida? Qual a causa e a razão de tudo que existe no universo? Poderíamos tomar aqui as palavras de Grudem ao definir a doutrina da criação: “Deus criou todo o universo do nada; este era originalmente muito bom, e ele o criou para glorificar a si mesmo” [Grudem, pg. 19].
Quando nos referimos à criação do universo a parti do nada não implica dizer que o mundo veio a existir sem causa. Pois entendemos que a vontade soberana de Deus é a causa de toda criação. Antes afirmamos que o universo foi criado pela Palavra de Deus, “de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível” (Hb. 11.3). Em outras palavras, foi o decreto soberano de Deus que trouxe todas as coisas à existência, como observa o salmista; “Mediante a Palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes pelo sopro de sua boca”. “Pois Ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu” (Salmo, 33.6,9).
No entanto, como observa o autor de Hebreus, é mediante a fé que alcançamos este entendimento. E todo aquele que procura explicação ou compreensão através de quaisquer outros meios, para não dizer as pressuposições das teorias da ciência moderna, acabarão emaranhados em idéias e conceitos equivocados. A fé, ao contrário do que alguns pensam, não nos deixa bitolados, antes nos abre os olhos para que possamos contemplar e compreender através de toda a criação que nos cerca e especialmente por meio da Escritura, a grande e majestosa sabedoria divina manifestada através de toda a criação.
Por outro lado, “nenhum fato real, tomado em particular, ou nenhum grupo de fatos científicos conhecidos até agora, provam que a criação feita por Deus não constitui a verdadeira explicação da origem da vida” [Thomas, pg. 136]. Portanto, insistimos em afirmar; Deus é o Criador Soberano de todas as coisas.
É importante também aqui ressaltar o fato de que quando falamos que Deus criou todas as coisas, é obvio que nos referimos à Trindade Santa. Como observa Grudem, ao destacar o papel do Filho e do Espírito Santo na Criação, mostrando que “ambos, assim como Deus Pai, que foi o agente primordial ao iniciar o ato da criação, estiveram ativos na criação de todas as coisas” [Grudem, pg.202]. Do Filho é dito que “todas as coisa foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3). “Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Quanto ao Espírito Santo, este geralmente é retratado como aquele que conclui, preenche e dá vida à criação divina. Como afirma Jó: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do todo poderoso me dá vida” (Jó, 33. 4).
Portanto, uma verdade que devemos ressaltar neste ponto é que; Deus criou o universo para revelar a sua glória. Em Apocalipse 4.11, por exemplo, este fato é reconhecido pelos vinte e quatro anciãos que prostrados diante de Deus em adoração declaram; “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”.
A criação tem origem em Deus, e tem como finalidade glorificá-lo acima de todas as coisas. Como diz o salmista; “os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite” [Sl. 19.1-2 – NVI].
É com base nestas verdades que formulamos nosso ponto de vista com respeito às origens do universo. Deus é o Criador, Soberano e Senhor de todas as coisas. Todo o universo tem origem em Deus, em sua soberana vontade. Esta é a visão da igreja cristã desde os primórdios, como observa Berkhof, “a igreja cristã desde o começo ensinava a doutrina da criação ex nihilo (do nada) e como um ato livre de Deus” [Berkhof, pg.17]. Esta doutrina fundamenta-se não apenas em algumas passagens da Escritura, mas é um conceito evidenciado em todo o conteúdo da mesma. Desde seu primeiro livro (Gênesis) até o ultimo (Apocalipse).  

Existência e idade da terra
Nenhuma teoria tem sofrido tanta correção quanto a teoria darwiniana da evolução e, embora seja ela uma das principais bases para o naturalismo dos dias atuais, tem causado tanta influência e pressão sobre o mundo científico que até mesmo alguns cientistas teistas tem demonstrado sua dependência com relação à mesma. Que o meio secular não aceite a posição criacionista do universo e da vida não é de se estranhar, visto que o homem obstinado por rejeitar a Deus lança mão de todos os meios para explicar a inexistência de Deus e, conseqüentemente a invalidade da Escritura sagrada. Mas, a questão se agrava quando percebemos tais idéias se infiltrando no meio da igreja, de tal forma que muitos passam a defender alguns pontos de vistas evolucionistas, mesmo que não o queiram admitir. 
Embora possamos ser tidos como intransigentes e resignados quanto à nossa postura com relação à posição que assumimos, não devemos nos intimidar e aceitar determinados pontos de vistas teológicos apenas para nos conformarmos a certas pressuposições científicas. Se nos dispusermos em concordar com todos os que pensam e pregam contrário aquilo que cremos, com base na Escritura, especialmente se tais idéias são claramente incompatíveis com os ensinos escriturísticos, no mínimo seremos traidores de nossa própria consciência e não seriamos dignos de ser chamados ministros de Cristo. Pois somos chamados não apenas para pregar as verdades relacionadas à fé cristã, mas, como ministros do evangelho, devemos viver por elas tanto na prática das mesmas como em sua defesa. Do contrário, a relatividade acabará suprimindo as verdades cristãs.
Quando nos propomos a considerar as teorias relacionadas à criação percebemos que os teistas evolucionistas não têm causado tanta influência no meio evangélico como alguns criacionistas que abraçam algumas teorias da ciência moderna.
Quanto à existência e idade da terra, muitos cientistas e teólogos estão divididos entre si em alguns aspectos. De um lado, um grupo defende a tese da terra jovem. Por outro lado existem aqueles que defendem a tese da terra antiga. Os defensores desta tese argumentam que a terra foi criada cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. Esta abordagem acerca da idade da terra eliminaria a aparente divergência entre a fé criacionista e as pressuposições da ciência moderna. Como afirma Grudem; “A vantagem evidente dessa concepção (tese do dia-era) é que, se está correta a atual afirmativa científica de uma idade de 4,5 bilhões de anos para a terra, ela explica porque a Bíblia se revela coerente com esse fato [Grudem, pg. 230]. Por outro lado, os criacionistas defensores da tese da terra jovem insistem em afirmar que a existência da terra gira em torno de 6 a 10 mil anos.
Vale lembrar que não são poucos os defensores da tese da terra antiga. Grudem, por exemplo, quando trata da questão da idade da terra, reconhece que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [Idem, pg.239]. No entanto, ele admite que “hoje tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções válidas para os cristãos que crêem na Bíblia. Ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. Mesmo parecendo não querer decidir-se por nenhum dos dois lados Grudem, por fim, demonstra forte inclinação pela defesa da tese da terra antiga. De fato ele chega a afirmar que “talvez 15 bilhões de anos sejam precisamente a extensão de tempo certa para preparar o universo para a chegada do homem, e, 4,5 bilhões de anos o tempo certo para preparar a terra” [Idem, pg.229].
Sendo assim, necessariamente procura conformar-se a tais “novas descobertas”. Para isso, ele apega-se à “possível compreensão de dia como um longo período de tempo (milhões de anos durante os quais Deus executou as ações criadoras de Gênesis um). Segundo ele, talvez seja a melhor interpretação a adotar [Idem, pg.227].
Grudem argumenta também que em outras passagens onde aparece a palavra dia (Ex. 20.12; Jo. 5.17; Hb.4.4,9-10) o significado é de um longo período de tempo. Mas, percebemos certa incoerência em sua lógica aqui. Quando trata a respeito da teoria do intervalo ele refuta esse tipo de argumento, pois afirma; “não é correto transferir as circunstâncias que cercam uma palavra num trecho ao uso dessa mesma palavra noutro trecho, quando o significado da palavra e seu uso no segundo contexto não exigem as mesmas circunstâncias” [Idem, pg.221]. Porém, é isso o que ele faz em não considerar as circunstâncias e contexto em que a palavra dia ocorre com outro sentido. Nas referências apresentadas por ele, para provar os diferentes usos da palavra dia, as circunstâncias que cercam a palavra se mostram bem definidas, enquanto que, em Gênesis 1 se tivéssemos de pensar em alguma circunstância não seria outra alem de dias de 24 horas. Ferreira, citando John MacArthur Jr., escreve; Nada nas Escrituras admite a idéia de que a criação foi qualquer outra coisa além de dias de 24 horas, literalmente. Apenas influencias externas – como as teorias da ciência moderna, as idéias da alta crítica e outros ataques contra a historicidade das Escrituras – levariam alguém a interpretar os dias de Gênesis como longas eras [Ferreira, pg.262]. No entanto, os defensores da tese da terra antiga não consideram estas observações.
Ainda falando a respeito da teoria do intervalo Grudem declara; “essa teoria precisa supor que Deus fez uma criação anterior que existiu durante milhões de anos sem a presença do aspecto mais elevado da obra criadora: o próprio homem”. E mais adiante ele afirma que; “...o fato de Deus não ter coroado a criação (a milhões de anos atrás) com a sua criatura mais sublime, o homem, parece incompatível com o retrato bíblico de Deus, com aquele que sempre alcança seus desígnios em tudo o que faz [Grudem, pg.222]. No entanto, a menos que Grudem admita que o homem também foi criado a 15 bilhões, ou no mínimo 4,5 bilhões de anos, é exatamente essa idéia que ele apóia em sua defesa da tese da terra antiga [Idem, pg. 229].
Portanto, como podemos observar, é muito difícil para alguém querer defender conceitos bíblicos (criacionismo) lado a lado com pressupostos naturalistas. Em outras palavras, tal atitude parece querer adaptar conceitos bíblicos a conceitos científicos ou vice versa. Conceitos estes (científicos) que não passam de pressupostos sem comprovação. O problema é que “Na verdade, os criacionistas da Terra-antiga subjugaram as Escrituras a certas teorias atualmente bastante aceitas na cosmologia do big bang. As teorias cosmológicas se impuseram nas Escrituras como uma rede interpretativa e permitiram redefinir o tamanho dos dias da criação” [Ferreira, pg. 262].
O que podemos verificar, à luz de todas estas observações, é que os criacionistas defensores da tese da terra antiga estão dando demasiado crédito às teorias sem provas, oriundas do naturalismo. O motivo pode ser diverso, mas, inicialmente podemos ver certa preocupação em se adaptar diante de algumas “pressuposições” predominantes no meio daqueles que sempre procuram rejeitar o criacionismo. Portanto, creio que os defensores da tese da terra antiga deveriam refletir melhor ou avaliar a verdadeira motivação que os tem levado a aceitarem os pressupostos do naturalismo tão prontamente, mesmo sabendo que, em vários momentos eles tem se mostrado não passar de mera hipótese.
Por outro lado, considerando o caráter de Deus apresentado na Escritura precisamos reafirmar o fato de que o universo foi criado do nada e que esta criação não figura de milhões ou bilhões de anos, mas foi criado recentemente, completo, complexo, funcional e com uma idade aparente. Este ponto de vista é completamente compatível com o caráter de Deus conforme apresentado nas paginas da Bíblia. E não é de se estranhar o fato de que os incrédulos não possam aceitar esta verdade, pois seus corações estarão sempre indispostos para as verdades divinas expressas na Escritura. O que estranhamos na verdade é o fato de que muitos evangélicos estão valorizando as pressuposições naturalistas, a ponto de partirem para a interpretação de alguns temas com base em conceitos puramente científicos e não com critérios exegéticos para com o próprio texto bíblico.
Como criacionistas bíblicos, precisamos interpretar os dados científicos à luz da Escritura Sagrada e não interpretarmos os dados bíblicos à luz das pressuposições naturalistas.    
Existência da vida na terra 
Quanto à existência da vida na terra, há também divergências entre os teólogos. Já foi observado acima que certos evangélicos têm esposado algumas teorias que expressam, em maior ou menor grau, alguns conceitos evolucionistas. Os teistas evolucionistas, por exemplo, defendem e pregam algumas idéias que se parece mais com o naturalismo secular do que com teísmo propriamente dito. Estas teorias estão relacionadas não apenas com a existência e idade da terra, mas também implica na questão da existência da vida na terra. E não são apenas os teistas evolucionistas que se enquadram no grupo daqueles que tem esposado algumas teorias evolucionistas em suas abordagens sobre a criação. Há também alguns evangélicos conservadores que aderiram algumas pressuposições do naturalismo, na tentativa de harmonizar dados bíblicos com teorias científicas. Comentando a passagem de Gênesis 1.1-2, Macdonald afirma; “A teoria denominada criação e reconstrução, uma dentre várias interpretações conservadoras da narrativa de Gênesis, considera que entre os versículos 1 e 2 houve uma catástrofe gigantesca, possivelmente a queda de Satanás. Isso tornou a criação perfeita e original de Deus sem forma e vazia” [Macdonald, pg.13]. Segundo estes interpretes, os fósseis antigos encontrados na terra, muitos deles datados de milhões de anos, são da primeira criação (4.500.000.000 de anos atrás), mencionada somente em Gênesis 1.1.
Essa teoria tem como base o argumento de que as palavras “sem forma e fazia” e “trevas” que ocorrem em Gênesis 1.2 retratam uma terra que sofrera os efeitos do juízo de Deus, visto que por toda parte no Antigo testamento muitas vezes “trevas” aparece como resultado ou sinal do juízo de Deus, e as palavras hebraicas tohû (sem forma) e bohû (vazio, vácuo) em outras passagens, como Isaías 34.11, por exemplo, e Jeremias 34.23, referem-se a locais como desertos que sofreram as desoladoras conseqüências do juízo divino [Grudem pg. 220]. Sendo assim, argumentam, o texto poderia ser traduzido; “a terra, porém, ficou sem forma e vazia” [Macdonald, pg.13]. Os proponentes desta teoria, denominada “criação e reconstrução”, ou simplesmente “teoria do intervalo”, não são os únicos a se empenharem em harmonizar dados bíblicos com teorias científicas. Há também outros evangélicos que se enquadram neste grupo; os proponentes da tese da terra antiga. A única diferença entre estes dois grupos está na maneira de entender os versículos 1 e 2 do primeiro capitulo de Gênesis. A base de interpretação de ambos continua sendo as teorias naturalistas. Tanto os teistas evolucionistas como os defensores da tese da terra antiga que interpretam os dias de Gênesis 1 como “dias eras”, estão condicionados pelas pressuposições do naturalismo em suas interpretações. Como observa Ferreira; Em linhas gerais, os proponentes desta teoria (“dias eras”) acreditam que Deus criou todas as coisas, utilizando processos naturais durante muito tempo, mas algumas vezes Ele interveio diretamente para criar novas coisas. O universo físico evoluiu do big bang, e depois que as condições se tornaram suficientes para sustentar a vida, Deus criou coisas vivas diretamente [Ferreira, pg. 265]. Vale lembrar que nem todos os defensores ou proponentes da tese da terra antiga estariam dispostos a pensar desta maneira, porém, a grosso modo, todos, admitindo ou não, rejeitam o fato de Deus criar todas as coisas de maneira instantânea. 
Porém, o ponto de vista do criacionismo bíblico é que a existência da vida na terra é resultado da criação instantânea; Deus ordenou e as coisas foram criadas no mesmo instante, conforme nos relata os primeiros capítulos de Gênesis. Portanto, voltamos a reafirma o fato de que todas as formas de vida foram criadas no principio de maneira completa, complexa e com uma diversidade básica e capacidade de adaptação limitada. Esta posição está em completo acordo com o conceito de Deus apresentado em toda a Escritura Sagrada; Deus é aquele que falou, e tudo se fez; ordenou e tudo surgiu (Sl. 33.6,9). Como o apóstolo afirma em Rm. 4.17b; “o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem, como se existissem”.
Este ponto de vista também é coerente com o propósito divino com respeito à sua criação; glorificar a Deus por sua grandeza e majestade, expressas por meio de toda criação. Este conceito realça a grandeza e majestade de Deus, que além de ser o Criador de todas as coisas o fez de modo incomparável.
Existência do homem 
Quanto à existência do homem, esta também pode ser vista sob dois prismas; pode-se observar a parti do ponto de vista evolucionista (ou com base nos pressupostos naturalistas) ou a parti do ponto de vista criacionista bíblico (o ponto de vista que leva em consideração a autoridade da Bíblia como meio de interpretação ou compreensão do universo). O ponto de vista naturalista, com o propósito de tentar corroborar os pressupostos da teoria evolucionista, tenta estender a existência do homem a uma data mais antiga possível, porém, “as provas a favor de uma vida humana mais antiga são muito escassas, bastante esparsas no tempo e no espaço e existem dúvidas quanto às datas propostas. Não se pode atribuir grande antiguidade ao ser humano, com base apenas na geologia e paleontologia” [Thomas, pg.221].
Grudem afirma que as atuais estimativas científicas dizem que o homem surgiu na terra por volta de 2,5 milhões de anos atrás. Porém, continua Grudem, é importante verificar de que espécie de “homem” se está falando [Grudem, pg.224].
Por outro lado, J. D. Thomas observa que “nenhum cientista afirmaria que o homem tem estado aqui por mais de dois milhões de anos. De fato a afirmação mais recente não fica abaixo de um milhão e setecentos e cinqüenta mil anos, data que se baseia no exame radiativo de certa lava encontrada junto a um esqueleto no desfiladeiro de Olduvai, em Tanganica (África Oriental). A pessoa que descobriu esse esqueleto datou-o primeiramente de seiscentos mil anos antes de Cristo. Essas datas revelam uma considerável discrepância nos critérios científicos” [Thomas, pg. 211].
Como podemos verificar a parti das observações de Grudem e Thomas, até mesmo para os naturalistas fica difícil estender a existência do homem para um período tão recuado como o fazem com relação à existência dos animais fósseis.
Com respeito a posição criacionista, quanto a existência do homem, não encontramos tanta divergência. Grudem observa que, “quer os cristãos defendam a tese da terra jovem, quer da terra antiga, todos eles concordarão que o homem está certamente na terra desde o tempo das pinturas rupestres do homem de Cro-Magnon, pinturas datadas de aproximadamente 10.000 a.C [Grudem, pg.224].    
No entanto, vale destacar que mesmo dentre os teistas existem alguns que defendem a idéia de evolução após a criação, talvez levando ao desenvolvimento de organismos cada vez mais complexos. Mas, como observa Grudem, “seria muito difícil alguém sustentar, com completa fidelidade às Escrituras, que os seres humanos são resultado de um longo processo evolutivo” [Idem, pg.201].
Portanto, pode-se afirmar que, quanto à existência do homem esta deve ser observada paralelamente com os tópicos relacionados acima; as origens do universo, existência e idade da terra e a existência da vida na terra. Em outras palavras, a existência do homem deve ser interpretada sob a mesma ótica aplicada nos referidos tópicos. Quando afirmamos que todas as coisas criadas constituem o produto de um ato único e soberano por parte de um Criador onisciente, onipotente e pessoal, isso inclui o próprio homem.
Outro fator que também deve ser observado é a questão da idade com a qual o homem foi criado. Se admitirmos os fatos como nos são apresentados nas Escrituras, como até mesmo alguns teistas evolucionistas e outros evangélicos partidários das pressuposições do naturalismo o fazem, então precisamos aceitar o fato, conforme defendemos em nosso ponto de vista, de que o homem foi criado já com uma idade adulta. Pois é desta forma que a Escritura retrata a realidade a respeito da criação do homem. Não vemos, no relato da criação, nenhuma evidência de que o primeiro homem (Adão) tenha passado pelo processo natural de crescimento. O que a Escritura apresenta é o fato de que depois de criar o homem, o Senhor mandou que ele exercesse domínio “sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra” (Gn. 1.26).  
Isso aponta a seguinte questão; se alguns teistas naturalistas e os evangélicos defensores da tese da terra antiga não questionam, e até admitem, a idade aparente do homem, porque então não aplicam o mesmo princípio para a criação do universo, ou da terra? Seria o universo grandioso de mais para ser criado por Deus da mesma forma? Se alguém alimenta este tipo de suspeita, seria aconselhável reavaliar sua fé, se realmente o Deus que ele professa é o mesmo apresentado nas Escrituras Sagradas.    
Mas, qual a posição do homem com relação ao restante da criação? Como este é visto dentre as demais criaturas?
Em O Novo Dicionário da Bíblia encontramos a seguinte afirmação; “O relato da criação, em Gênesis, dá ao homem um lugar supremo dentro do cosmos. Sua criação não foi apenas a obra final de Deus, mas no homem é que a obra dos outros cinco dias encontra seu cumprimento e seu significado” [Douglas, pg.593].
Dockery também observa que “a história bíblica retrata a humanidade como o clímax da criação – a imagem de Deus” [Dockery, pg.156].
O homem, como o único ser dentre a criação que recebeu a designação de que foi criado à imagem e semelhança de Deus, foi criado com o propósito de desenvolver uma vida de relacionamento pessoal com seu Criador, adorando e louvando-o por seus grandes feitos. Porém, como resultado do pecado, grande parte da humanidade, a exemplo dos naturalistas ou proponentes do evolucionismo, tem rejeitado esta verdade, recusando-se a reconhecer a primazia de Deus sobre todo o universo, inclusive sobre a própria vida do homem. Esta primazia se deve pelo fato de ser ele (Deus) o Criador soberano.
O homem, como criação pertence a Deus e a este deve sua própria existência. Enquanto não reconhecer esta verdade, e entender o propósito de sua existência, atendendo as verdades expressas na Escritura sagrada, o homem jamais experimentará ou desfrutará a vida em sua plenitude.
Por outro lado, enquanto o homem estiver sob o domínio do pecado e em atitude de rebeldia para com o seu Criador, continuará recorrendo a todos os meios possíveis para tentar anular sua responsabilidade perante Deus, o Soberano Criador de todo o universo, inclusive do próprio homem.  

O conceito de um dilúvio
O relato de Gênesis 6-9 acera do dilúvio global tem encontrado duas oposições basicamente; de um lado os naturalistas consideram apenas as teorias que seguem o uniformitarianismo, e, por outro lado, os detalhes do dilúvio bíblico têm difícil aceitação pelo homem moderno.
O uniformitarianismo, paradigma dominante da geologia naturalista, pressupõe que as forças naturais de erosão, sedimentação e ação magmática (ou vulcânica) têm operado nas eras antigas exatamente da mesma maneira que hoje se verifica. Porém, vale ressaltar aqui que, como observa Archer, “o uniformitarianismo tem sido vigorosamente desafiado por algumas autoridades, por causa da evidência dada pelo metamorfismo termodinâmico com violentas inclinações e torções que aparecem em muitas montanhas, e em regiões que são ou eram montanhosas” [Archer, pg.91].
A teoria do uniformitarianismo serviu não apenas para os naturalistas como base para suas pressuposições e rejeição da tese criacionista, mas, ultimamente, tem sido utilizada por alguns evangélicos para interpretar outros temas bíblicos, como a existência e idade da terra por exemplo. Os proponentes da tese da terra antiga rejeitam a geologia do dilúvio como explicação das formações geológicas da terra. Para Grudem, que demonstra preferência pela tese da terra antiga, embora o dilúvio possa ter sido a nível mundial, e tenha exercido um impacto significativo sobre a face da terra, não é convincente a explicação de que todas as formações geológicas da terra tenham sido causadas pelo dilúvio, e não por milhões de anos de sedimentação, erupções vulcânicas, movimentos de geleiras, deslocamentos sedimentais e por ai a fora [Grudem, pg. 237].
Outros evangélicos que também podem ser destacados aqui são os proponentes da teoria da harmonização, os quais procuram harmonizar a Escritura com a ciência presumindo que os dias da criação foram períodos de milhares de anos. Estes também se apoiaram na teoria do uniformitarianismo como base para sua interpretação. É impressionante como alguns evangélicos são prontamente influenciados com as teorias ou pressuposições naturalistas, deixando que estas venham afetar sua interpretação de alguns fatos bíblicos. Berkhof observa que “a opinião de que os dias da criação foram longos períodos tornou a vir para o primeiro plano em anos recentes, não, porém, como resultado de estudos exegéticos, mas sob a influência de declarações da ciência” [Berkhof, pg.152].
É importante observar que é questionável o fato destes interpretes não considerarem algumas questões relevantes no que diz respeito às teorias e pressuposições científicas. Archer, por exemplo, afirma que “há uma coletânea impressionante de evidências que tende a comprovar a falsidade das suposições do uniformitarianismo, feita por Harold W. Clark, em New Diluvianism [Archer, nota, pg.91]. Berkhof, por sua vez, apresenta uma lista de objeções mostrando que “a idéia de que os extratos da terra indicam positivamente longos e sucessivos períodos de desenvolvimento da história da sua origem, não passa de mera hipótese dos geólogos, hipótese baseada em generalizações infundadas” [Berkhof, pg.159].
Mesmo assim, tal hipótese tem recebido bastante credibilidade por parte de evangélicos, tanto dos proponentes da teoria da harmonização como também dos defensores da tese da terra antiga. E é com base nestes mesmos pressupostos que surge a divergência quanto à extensão do dilúvio.          
Enquanto uns admitem que o dilúvio deva ter ocorrido globalmente, outros defendem o conceito de dilúvio local, ou limitado, argumentando que, devido algumas evidências científicas, seria impossível a ocorrência de um dilúvio a nível global.
Dockery lista alguns argumentos utilizados por aqueles que rejeitam o conceito de um dilúvio global [Dockery, pg.158].
Uma objeção apresentada é com respeito à quantidade de água necessária para cobrir a montanha mais alta, que seria oito vezes maior do que a existente na terra (segundo as melhores estimativas, um nível de água para cobrir os Himalaias exigiria oito vezes mais água do que o total atualmente existente em nosso planeta [Archer, pg.118]). Outra objeção apresentada é com relação aos problemas práticos para abrigar e alimentar tantos animais durante um ano.
Também se argumenta que a destruição de toda a vida vegetal submersa em sal e água por um ano seria inevitável (quase nenhuma vida vegetal poderia ter sobrevivido à submersão na água salgada durante mais de um ano). Além disso, tem também a idéia de que para destruir a raça humana era necessária apenas uma inundação cobrindo as áreas habitadas da terra naquele tempo (George F. Wright parece inclinado à possibilidade que possa ter sido limitado ao vale do Eufrates, entendendo-se que a raça humana tivesse sido restrita a essa área naquela época, sendo, pois, totalmente destruída. Faz, porém, referências às evidências geológicas do dilúvio no Egito, na Palestina, na Sicília, na França e na Inglaterra [Idem, pg.117]). E, por fim, argumenta-se que faltam evidências geológicas de um cataclismo mundial.
Como podemos verificar, as objeções fundamentam-se em observações superficiais da natureza. Além do mais, vale lembrar que os proponentes de um dilúvio limitado parecem ignorar alguns fatores muito relevantes para a interpretação ou compreensão do dilúvio bíblico. Em Gênesis 7.19, por exemplo, lemos o seguinte; As águas dominavam cada vez mais a terra, e foram cobertas todas as altas montanhas debaixo do céu. O próprio relato bíblico (a Palavra de Deus) declara categoricamente que todas as altas montanhas foram cobertas. Sendo assim, fica difícil sustentar a idéia de um dilúvio local ou limitado, mesmo que alguns queiram argumentar que as referidas montanhas fossem meramente as daquela região, o que seria difícil sustentar com base no texto.
O texto bíblico nos informa; As águas foram baixando pouco a pouco sobre a terra. Ao fim de cento e cinqüenta dias, as águas tinham diminuído, e, no décimo sétimo dia do sétimo mês, a arca pousou nas montanhas de Ararate (Gênesis 8.3-4 - NVI). Como podemos verificar, é evidente que as águas cobriram o pico do monte Ararate, visto que foi exatamente neste monte que a arca encalhou.
Archer observa que a inferência inevitável é que o nível de água tenha subido até mais do que 5.000 metros acima do atual nível do mar. Isso cria para a teoria do âmbito restrito do dilúvio dificuldades quase tão graves como aquelas que a teoria procura evitar. Como é que o nível poderia ter chegado ao cume do Ararate sem ter subido a mesma altura no mundo inteiro? “Admitir que a Armênia tivesse recebido 5.000 metros de água sem ter havido nenhuma inundação em Auvergne na França, é propor um milagre mais incrível do que qualquer coisa implicada pela maneira tradicional de crer num Dilúvio universal” [Idem, pg.119].
Além do mais, as evidências geológicas de um dilúvio global são patentes para todo aquele que está disposto a observá-las e entendê-las sem preconceitos firmados pelas pressuposições cientificas. Já foi observado que “as imensas forças que formaram as grandes cordilheiras montanhosas dos Alpes, dos Andes e das montanhas rochosas, não podem ter sequer remotamente qualquer paralelo com qualquer fenômeno que se observa hoje”.
... “Uma coisa que parece indisputável é que forças tremendas, além de qualquer coisa que hoje se conhece (e impossível de ser estimadas cronologicamente), perturbaram a superfície da terra em escala e ritmo que hoje não se conhece” [Archer, pg.92; citando Harold W. Clark].
Portanto, se alguns evangélicos rejeitam o conceito de um Dilúvio global sob a alegação de falta de evidências científicas, é porque sua interpretação ou avaliação de tais evidências se apóiam tão somente em princípios científicos e não na Escritura Sagrada. Neste caso, seria prudente, em meio às incertezas oferecidas pelas pressuposições científicas, assumir uma posição mais coerente com a Escritura sagrada, como observa Dockery; “enquanto todas as nossas dúvidas não puderem ser respondidas, as informações bíblicas apontam para um dilúvio universal” [Dockery, pg.158].
Por outro lado, às vezes temos a impressão de que os evangélicos que rejeitam o conceito de um dilúvio universal parece basearem-se nos mesmos motivos que os naturalistas; dificuldades em acreditar em fatos sobrenaturais, operados pelo Deus que é capaz de fazer tudo o que lhe apraz. Apesar de que alguns possam alegar que argumentos desse nível pareçam uma evasiva para um tema complexo, se analisarmos outros temas relacionados à fé cristã veremos que estes são os argumentos mais comuns, pois é exatamente nesta esfera de operações que o glorioso poder e majestade de Deus sobre todas as coisas são manifestados. Vários temas do cristianismo são fundamentados exatamente nesta verdade; o impossível para o homem é plenamente possível para Deus, pois Ele é aquele que falou, e tudo se fez; ordenou e tudo surgiu (Sl. 33.6,9). Ele é “o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem como se existissem” (Rm. 4.17b).
Conclusão
Conforme pudemos verificar no decorrer de nossa abordagem, a cosmovisão criacionista sempre teve certa rejeição desde que a filosofia naturalista entrou em cena. Várias teorias oriundas do naturalismo têm surgido, porém, a maioria delas já foi rejeitada por estarem equivocas em suas pressuposições. Mas, com a teoria da evolução o naturalismo tem ganhado bastante espaço no meio secular e entre os cientistas, a ponto de prevalecer nos dias atuais como a teoria mais importante no mundo secular, tanto com relação à origem da vida na terra como também a explicação do universo ou as origens em geral. E isso não se deve às pressuposições infundadas do evolucionismo, mas a indisposição continua do homem natural em reconhecer os caminhos de Deus e submeter-se à sua Palavra. E é triste quando percebemos alguns evangélicos dando credibilidade a tais pressuposições, mesmo reconhecendo suas possíveis falhas, e isso com o intento de se amoldar à “modernidade científica”, para não parecerem com um grupo de teólogos superados.   
Na verdade muitos argumentos são apresentados pelo naturalismo e por muitos partidários de suas teorias com respeito às questões que envolvem os capítulos 1 e 6-8 de Gênesis (as origens do universo, a existência e idade da terra, a existência da vida na terra, a existência do homem e o conceito de um dilúvio), no entanto, se considerarmos tais argumentos à luz das declarações da Escritura, e da imagem que esta apresenta da pessoa de Deus, aquele que é Onipotente, infinitamente sábio, e capaz de realizar todos os seus intentos, veremos que tais argumentos perdem sua significância.
Se quisermos ser coerentes com a designação de “criacionistas bíblicos” não podemos agir de maneira incoerente, interpretando fatos bíblicos à luz de pressuposições ou teorias naturalistas, mas, ao contrario, devemos interpretar tais teorias à luz da Escritura Sagrada. 

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