terça-feira, 15 de novembro de 2011

Criacionismo Bíblico, por: Antonio Luis

De todos os ataques que a Escritura Sagrada tem experimentado em toda a sua existência um dos que mais perdura é aquele que não a ataca diretamente, mas de forma indireta, procurando anular a fonte da mesma; o próprio Deus. A teoria da evolução com seus pressupostos é um dos meios principais pelos quais alguns têm procurado veementemente lançar de sobre si o senso de responsabilidade e prestação de contas para com o Criador, Soberano, Santo e Justo Juiz, para com quem toda a humanidade encontra-se em dívida. Embora o evolucionismo não seja uma cosmo-visão moderna, podendo ter suas origens traçadas até os tempos dos filósofos gregos, a cerca de 2600 anos atrás, foi a parti do final do século XV e começo do século XVI que o questionamento das antigas propostas filosóficas ganhou a perspectiva experimental, passando a ser avaliadas através de estudos e observações [Lourenço, pg.21]. Como observa Franklin Ferreira; Hoje, o debate toma uma forma bem mais sofisticada, com a introdução de teorias advindas da biologia, da física e da astronomia [Ferreira, pg.251]. O fato é que, a teoria evolucionista, em detrimento do criacionismo, tem prevalecido como a matéria principal no que diz respeito à explicação das origens do universo e da vida, apesar de seus inumeráveis equívocos e falhas. Tanto é que até mesmo em círculos cristãos alguns têm aderido às idéias naturalistas, aplicando-as como meios de interpretar alguns fatos bíblicos. A exemplo disto podemos citar o que se conhece hoje por “criacionismo evolucionista”, ou “teísmo evolucionista”.
Sendo assim, nos dias atuais verificamos algumas divergências acerca de temas relacionados às passagens de Gênesis capítulos 1 e 6-8.
Neste trabalho estaremos tratando de algumas questões relacionadas a estas passagens bíblicas (Gn. 1, 6 e 8). Discorreremos acerca das origens do universo, a existência e idade da terra, a existência da vida na terra, a existência do homem e o conceito de um dilúvio.






As origens do universo:
Ao considerar as origens do universo a humanidade geralmente toma dois caminhos diferentes: Criacionismo (cosmovisão que propõe que a origem do universo e da vida são resultados de um ato criador intencional), e o naturalismo (cosmovisão materialista que propõe que a natureza e os processos naturais correspondem a tudo que existe, considerando como não existente e desconhecido tudo o que possa ser inerentemente diferente de um fenômeno natural), o qual tem se propagado e perpetuado no meio secular e científico através da teoria da evolução (teoria naturalista que propõe que mudanças das características hereditárias de uma população, através de sucessivas gerações, por longos períodos de tempo, teriam sido responsáveis pelo aparecimento das novas espécies [Lourenço – xiii]).
O naturalismo filosófico, mesmo tendo experimentado muitas correções no decorrer da história, ainda prevalece nos dias atuais como a teoria mais importante no mundo secular, tanto com relação à origem da vida na terra como também a explicação do universo ou as origens em geral. Na verdade o evolucionismo pode ser considerado como um lugar de “refúgio” para aqueles que rejeitam o Deus Soberano e Criador de todas as coisas. “O evolucionismo, como filosofia ou cosmovisão realmente envolve uma negação aberta de realidades espirituais, assim como rejeita também a existência de um Deus pessoal. Todos os seus principais expoentes têm declarado isso em termos inequívocos” [Archer, pg.107]. Os naturalistas rejeitam o fato de que a criação tem origem em Deus, o qual criou todas as coisas com propósito definido; glorificá-lo. 
O naturalismo, como observa Ferreira, “faz questão de afirmar que o universo consiste apenas de energia e matéria. Tudo que existe surgiu através de processos naturais” [Ferreira, pg. 255]. Os pressupostos do naturalismo, ou da teoria da evolução, têm sido questionados e até mesmo abandonados por vários cientistas que, com o passar do tempo, tem percebido sua inconsistência. Na verdade a teoria evolucionista não passa de mera hipótese. Como observa Berkhof; “A própria incerteza que prevalece no campo dos evolucionistas é prova categórica de que o evolucionismo é apenas uma hipótese” [Berkhof, pg.160]. Porém, mesmo com todas as suas falhas e equívocos, o evolucionismo continua sendo a teoria mais propagada no meio secular com relação às origens do universo e da vida, embora a evolução não seja realmente um fato comprovado e nem uma lei cientifica demonstrada, mas, “apenas uma interpretação de determinados fatos e, portanto não passa de uma crença por parte dos que a sustentam” [Thomas, pg.142].
A visão criacionista das origens do universo e da vida, por outro lado, embora não seja divulgada tanto quanto a visão naturalista, pelo menos no meio secular, têm se mostrado, no decorrer da história, uma posição coerente e consistente até mesmo com relação a alguns fatores da própria ciência.
Em nossa discussão sobre o referido tema precisamos definir algumas questões fundamentais. Antes de continuarmos nossa abordagem, precisamos definir a parti de qual ponto de vista daremos inicio à nossa argumentação.
Qual será a base de nossos pressupostos para o estudo sobre as origens; as teorias científicas, as quais tem se mostrado passiveis de várias correções no decorrer da história, ou a Escritura sagrada, que a cada ataque sofrido se mostra digna de toda credibilidade? Já que, como teista, ou criacionista, iniciaremos nossa abordagem a parti do ponto de vista bíblico da criação, precisamos manter-nos firmes na defesa da veracidade da Escritura Sagrada. Conseqüentemente todos os nossos argumentos terão como base as verdades reveladas na Palavra de Deus, sem detrimento de qualquer conceito ou princípio revelado na mesma. Reconhecemos o fato de que muitos, inclusive alguns criacionistas que esposam as teorias e pressuposições da ciência naturalista, nos atribuirão ignorância com relação aos supostos dados científicos que atestam a antiguidade do universo. No entanto, vale lembrar que, temos consciência destes supostos dados, e também do fato de que os mesmos não passam de mera hipótese. Este fato poderá ser verificado no decorrer da discussão, quando tratarmos dos outros tópicos, expondo o ponto de vista do criacionismo bíblico.      
Mas o que a bíblia realmente ensina acerca das origens do universo e da vida? Qual a causa e a razão de tudo que existe no universo? Poderíamos tomar aqui as palavras de Grudem ao definir a doutrina da criação: “Deus criou todo o universo do nada; este era originalmente muito bom, e ele o criou para glorificar a si mesmo” [Grudem, pg. 19].
Quando nos referimos à criação do universo a parti do nada não implica dizer que o mundo veio a existir sem causa. Pois entendemos que a vontade soberana de Deus é a causa de toda criação. Antes afirmamos que o universo foi criado pela Palavra de Deus, “de modo que aquilo que se vê não foi feito do que é visível” (Hb. 11.3). Em outras palavras, foi o decreto soberano de Deus que trouxe todas as coisas à existência, como observa o salmista; “Mediante a Palavra do Senhor foram feitos os céus, e os corpos celestes pelo sopro de sua boca”. “Pois Ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu” (Salmo, 33.6,9).
No entanto, como observa o autor de Hebreus, é mediante a fé que alcançamos este entendimento. E todo aquele que procura explicação ou compreensão através de quaisquer outros meios, para não dizer as pressuposições das teorias da ciência moderna, acabarão emaranhados em idéias e conceitos equivocados. A fé, ao contrário do que alguns pensam, não nos deixa bitolados, antes nos abre os olhos para que possamos contemplar e compreender através de toda a criação que nos cerca e especialmente por meio da Escritura, a grande e majestosa sabedoria divina manifestada através de toda a criação.
Por outro lado, “nenhum fato real, tomado em particular, ou nenhum grupo de fatos científicos conhecidos até agora, provam que a criação feita por Deus não constitui a verdadeira explicação da origem da vida” [Thomas, pg. 136]. Portanto, insistimos em afirmar; Deus é o Criador Soberano de todas as coisas.
É importante também aqui ressaltar o fato de que quando falamos que Deus criou todas as coisas, é obvio que nos referimos à Trindade Santa. Como observa Grudem, ao destacar o papel do Filho e do Espírito Santo na Criação, mostrando que “ambos, assim como Deus Pai, que foi o agente primordial ao iniciar o ato da criação, estiveram ativos na criação de todas as coisas” [Grudem, pg.202]. Do Filho é dito que “todas as coisa foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3). “Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Quanto ao Espírito Santo, este geralmente é retratado como aquele que conclui, preenche e dá vida à criação divina. Como afirma Jó: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do todo poderoso me dá vida” (Jó, 33. 4).
Portanto, uma verdade que devemos ressaltar neste ponto é que; Deus criou o universo para revelar a sua glória. Em Apocalipse 4.11, por exemplo, este fato é reconhecido pelos vinte e quatro anciãos que prostrados diante de Deus em adoração declaram; “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”.
A criação tem origem em Deus, e tem como finalidade glorificá-lo acima de todas as coisas. Como diz o salmista; “os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite” [Sl. 19.1-2 – NVI].
É com base nestas verdades que formulamos nosso ponto de vista com respeito às origens do universo. Deus é o Criador, Soberano e Senhor de todas as coisas. Todo o universo tem origem em Deus, em sua soberana vontade. Esta é a visão da igreja cristã desde os primórdios, como observa Berkhof, “a igreja cristã desde o começo ensinava a doutrina da criação ex nihilo (do nada) e como um ato livre de Deus” [Berkhof, pg.17]. Esta doutrina fundamenta-se não apenas em algumas passagens da Escritura, mas é um conceito evidenciado em todo o conteúdo da mesma. Desde seu primeiro livro (Gênesis) até o ultimo (Apocalipse).  

Existência e idade da terra
Nenhuma teoria tem sofrido tanta correção quanto a teoria darwiniana da evolução e, embora seja ela uma das principais bases para o naturalismo dos dias atuais, tem causado tanta influência e pressão sobre o mundo científico que até mesmo alguns cientistas teistas tem demonstrado sua dependência com relação à mesma. Que o meio secular não aceite a posição criacionista do universo e da vida não é de se estranhar, visto que o homem obstinado por rejeitar a Deus lança mão de todos os meios para explicar a inexistência de Deus e, conseqüentemente a invalidade da Escritura sagrada. Mas, a questão se agrava quando percebemos tais idéias se infiltrando no meio da igreja, de tal forma que muitos passam a defender alguns pontos de vistas evolucionistas, mesmo que não o queiram admitir. 
Embora possamos ser tidos como intransigentes e resignados quanto à nossa postura com relação à posição que assumimos, não devemos nos intimidar e aceitar determinados pontos de vistas teológicos apenas para nos conformarmos a certas pressuposições científicas. Se nos dispusermos em concordar com todos os que pensam e pregam contrário aquilo que cremos, com base na Escritura, especialmente se tais idéias são claramente incompatíveis com os ensinos escriturísticos, no mínimo seremos traidores de nossa própria consciência e não seriamos dignos de ser chamados ministros de Cristo. Pois somos chamados não apenas para pregar as verdades relacionadas à fé cristã, mas, como ministros do evangelho, devemos viver por elas tanto na prática das mesmas como em sua defesa. Do contrário, a relatividade acabará suprimindo as verdades cristãs.
Quando nos propomos a considerar as teorias relacionadas à criação percebemos que os teistas evolucionistas não têm causado tanta influência no meio evangélico como alguns criacionistas que abraçam algumas teorias da ciência moderna.
Quanto à existência e idade da terra, muitos cientistas e teólogos estão divididos entre si em alguns aspectos. De um lado, um grupo defende a tese da terra jovem. Por outro lado existem aqueles que defendem a tese da terra antiga. Os defensores desta tese argumentam que a terra foi criada cerca de 4,5 bilhões de anos atrás. Esta abordagem acerca da idade da terra eliminaria a aparente divergência entre a fé criacionista e as pressuposições da ciência moderna. Como afirma Grudem; “A vantagem evidente dessa concepção (tese do dia-era) é que, se está correta a atual afirmativa científica de uma idade de 4,5 bilhões de anos para a terra, ela explica porque a Bíblia se revela coerente com esse fato [Grudem, pg. 230]. Por outro lado, os criacionistas defensores da tese da terra jovem insistem em afirmar que a existência da terra gira em torno de 6 a 10 mil anos.
Vale lembrar que não são poucos os defensores da tese da terra antiga. Grudem, por exemplo, quando trata da questão da idade da terra, reconhece que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [Idem, pg.239]. No entanto, ele admite que “hoje tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções válidas para os cristãos que crêem na Bíblia. Ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. Mesmo parecendo não querer decidir-se por nenhum dos dois lados Grudem, por fim, demonstra forte inclinação pela defesa da tese da terra antiga. De fato ele chega a afirmar que “talvez 15 bilhões de anos sejam precisamente a extensão de tempo certa para preparar o universo para a chegada do homem, e, 4,5 bilhões de anos o tempo certo para preparar a terra” [Idem, pg.229].
Sendo assim, necessariamente procura conformar-se a tais “novas descobertas”. Para isso, ele apega-se à “possível compreensão de dia como um longo período de tempo (milhões de anos durante os quais Deus executou as ações criadoras de Gênesis um). Segundo ele, talvez seja a melhor interpretação a adotar [Idem, pg.227].
Grudem argumenta também que em outras passagens onde aparece a palavra dia (Ex. 20.12; Jo. 5.17; Hb.4.4,9-10) o significado é de um longo período de tempo. Mas, percebemos certa incoerência em sua lógica aqui. Quando trata a respeito da teoria do intervalo ele refuta esse tipo de argumento, pois afirma; “não é correto transferir as circunstâncias que cercam uma palavra num trecho ao uso dessa mesma palavra noutro trecho, quando o significado da palavra e seu uso no segundo contexto não exigem as mesmas circunstâncias” [Idem, pg.221]. Porém, é isso o que ele faz em não considerar as circunstâncias e contexto em que a palavra dia ocorre com outro sentido. Nas referências apresentadas por ele, para provar os diferentes usos da palavra dia, as circunstâncias que cercam a palavra se mostram bem definidas, enquanto que, em Gênesis 1 se tivéssemos de pensar em alguma circunstância não seria outra alem de dias de 24 horas. Ferreira, citando John MacArthur Jr., escreve; Nada nas Escrituras admite a idéia de que a criação foi qualquer outra coisa além de dias de 24 horas, literalmente. Apenas influencias externas – como as teorias da ciência moderna, as idéias da alta crítica e outros ataques contra a historicidade das Escrituras – levariam alguém a interpretar os dias de Gênesis como longas eras [Ferreira, pg.262]. No entanto, os defensores da tese da terra antiga não consideram estas observações.
Ainda falando a respeito da teoria do intervalo Grudem declara; “essa teoria precisa supor que Deus fez uma criação anterior que existiu durante milhões de anos sem a presença do aspecto mais elevado da obra criadora: o próprio homem”. E mais adiante ele afirma que; “...o fato de Deus não ter coroado a criação (a milhões de anos atrás) com a sua criatura mais sublime, o homem, parece incompatível com o retrato bíblico de Deus, com aquele que sempre alcança seus desígnios em tudo o que faz [Grudem, pg.222]. No entanto, a menos que Grudem admita que o homem também foi criado a 15 bilhões, ou no mínimo 4,5 bilhões de anos, é exatamente essa idéia que ele apóia em sua defesa da tese da terra antiga [Idem, pg. 229].
Portanto, como podemos observar, é muito difícil para alguém querer defender conceitos bíblicos (criacionismo) lado a lado com pressupostos naturalistas. Em outras palavras, tal atitude parece querer adaptar conceitos bíblicos a conceitos científicos ou vice versa. Conceitos estes (científicos) que não passam de pressupostos sem comprovação. O problema é que “Na verdade, os criacionistas da Terra-antiga subjugaram as Escrituras a certas teorias atualmente bastante aceitas na cosmologia do big bang. As teorias cosmológicas se impuseram nas Escrituras como uma rede interpretativa e permitiram redefinir o tamanho dos dias da criação” [Ferreira, pg. 262].
O que podemos verificar, à luz de todas estas observações, é que os criacionistas defensores da tese da terra antiga estão dando demasiado crédito às teorias sem provas, oriundas do naturalismo. O motivo pode ser diverso, mas, inicialmente podemos ver certa preocupação em se adaptar diante de algumas “pressuposições” predominantes no meio daqueles que sempre procuram rejeitar o criacionismo. Portanto, creio que os defensores da tese da terra antiga deveriam refletir melhor ou avaliar a verdadeira motivação que os tem levado a aceitarem os pressupostos do naturalismo tão prontamente, mesmo sabendo que, em vários momentos eles tem se mostrado não passar de mera hipótese.
Por outro lado, considerando o caráter de Deus apresentado na Escritura precisamos reafirmar o fato de que o universo foi criado do nada e que esta criação não figura de milhões ou bilhões de anos, mas foi criado recentemente, completo, complexo, funcional e com uma idade aparente. Este ponto de vista é completamente compatível com o caráter de Deus conforme apresentado nas paginas da Bíblia. E não é de se estranhar o fato de que os incrédulos não possam aceitar esta verdade, pois seus corações estarão sempre indispostos para as verdades divinas expressas na Escritura. O que estranhamos na verdade é o fato de que muitos evangélicos estão valorizando as pressuposições naturalistas, a ponto de partirem para a interpretação de alguns temas com base em conceitos puramente científicos e não com critérios exegéticos para com o próprio texto bíblico.
Como criacionistas bíblicos, precisamos interpretar os dados científicos à luz da Escritura Sagrada e não interpretarmos os dados bíblicos à luz das pressuposições naturalistas.    
Existência da vida na terra 
Quanto à existência da vida na terra, há também divergências entre os teólogos. Já foi observado acima que certos evangélicos têm esposado algumas teorias que expressam, em maior ou menor grau, alguns conceitos evolucionistas. Os teistas evolucionistas, por exemplo, defendem e pregam algumas idéias que se parece mais com o naturalismo secular do que com teísmo propriamente dito. Estas teorias estão relacionadas não apenas com a existência e idade da terra, mas também implica na questão da existência da vida na terra. E não são apenas os teistas evolucionistas que se enquadram no grupo daqueles que tem esposado algumas teorias evolucionistas em suas abordagens sobre a criação. Há também alguns evangélicos conservadores que aderiram algumas pressuposições do naturalismo, na tentativa de harmonizar dados bíblicos com teorias científicas. Comentando a passagem de Gênesis 1.1-2, Macdonald afirma; “A teoria denominada criação e reconstrução, uma dentre várias interpretações conservadoras da narrativa de Gênesis, considera que entre os versículos 1 e 2 houve uma catástrofe gigantesca, possivelmente a queda de Satanás. Isso tornou a criação perfeita e original de Deus sem forma e vazia” [Macdonald, pg.13]. Segundo estes interpretes, os fósseis antigos encontrados na terra, muitos deles datados de milhões de anos, são da primeira criação (4.500.000.000 de anos atrás), mencionada somente em Gênesis 1.1.
Essa teoria tem como base o argumento de que as palavras “sem forma e fazia” e “trevas” que ocorrem em Gênesis 1.2 retratam uma terra que sofrera os efeitos do juízo de Deus, visto que por toda parte no Antigo testamento muitas vezes “trevas” aparece como resultado ou sinal do juízo de Deus, e as palavras hebraicas tohû (sem forma) e bohû (vazio, vácuo) em outras passagens, como Isaías 34.11, por exemplo, e Jeremias 34.23, referem-se a locais como desertos que sofreram as desoladoras conseqüências do juízo divino [Grudem pg. 220]. Sendo assim, argumentam, o texto poderia ser traduzido; “a terra, porém, ficou sem forma e vazia” [Macdonald, pg.13]. Os proponentes desta teoria, denominada “criação e reconstrução”, ou simplesmente “teoria do intervalo”, não são os únicos a se empenharem em harmonizar dados bíblicos com teorias científicas. Há também outros evangélicos que se enquadram neste grupo; os proponentes da tese da terra antiga. A única diferença entre estes dois grupos está na maneira de entender os versículos 1 e 2 do primeiro capitulo de Gênesis. A base de interpretação de ambos continua sendo as teorias naturalistas. Tanto os teistas evolucionistas como os defensores da tese da terra antiga que interpretam os dias de Gênesis 1 como “dias eras”, estão condicionados pelas pressuposições do naturalismo em suas interpretações. Como observa Ferreira; Em linhas gerais, os proponentes desta teoria (“dias eras”) acreditam que Deus criou todas as coisas, utilizando processos naturais durante muito tempo, mas algumas vezes Ele interveio diretamente para criar novas coisas. O universo físico evoluiu do big bang, e depois que as condições se tornaram suficientes para sustentar a vida, Deus criou coisas vivas diretamente [Ferreira, pg. 265]. Vale lembrar que nem todos os defensores ou proponentes da tese da terra antiga estariam dispostos a pensar desta maneira, porém, a grosso modo, todos, admitindo ou não, rejeitam o fato de Deus criar todas as coisas de maneira instantânea. 
Porém, o ponto de vista do criacionismo bíblico é que a existência da vida na terra é resultado da criação instantânea; Deus ordenou e as coisas foram criadas no mesmo instante, conforme nos relata os primeiros capítulos de Gênesis. Portanto, voltamos a reafirma o fato de que todas as formas de vida foram criadas no principio de maneira completa, complexa e com uma diversidade básica e capacidade de adaptação limitada. Esta posição está em completo acordo com o conceito de Deus apresentado em toda a Escritura Sagrada; Deus é aquele que falou, e tudo se fez; ordenou e tudo surgiu (Sl. 33.6,9). Como o apóstolo afirma em Rm. 4.17b; “o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem, como se existissem”.
Este ponto de vista também é coerente com o propósito divino com respeito à sua criação; glorificar a Deus por sua grandeza e majestade, expressas por meio de toda criação. Este conceito realça a grandeza e majestade de Deus, que além de ser o Criador de todas as coisas o fez de modo incomparável.
Existência do homem 
Quanto à existência do homem, esta também pode ser vista sob dois prismas; pode-se observar a parti do ponto de vista evolucionista (ou com base nos pressupostos naturalistas) ou a parti do ponto de vista criacionista bíblico (o ponto de vista que leva em consideração a autoridade da Bíblia como meio de interpretação ou compreensão do universo). O ponto de vista naturalista, com o propósito de tentar corroborar os pressupostos da teoria evolucionista, tenta estender a existência do homem a uma data mais antiga possível, porém, “as provas a favor de uma vida humana mais antiga são muito escassas, bastante esparsas no tempo e no espaço e existem dúvidas quanto às datas propostas. Não se pode atribuir grande antiguidade ao ser humano, com base apenas na geologia e paleontologia” [Thomas, pg.221].
Grudem afirma que as atuais estimativas científicas dizem que o homem surgiu na terra por volta de 2,5 milhões de anos atrás. Porém, continua Grudem, é importante verificar de que espécie de “homem” se está falando [Grudem, pg.224].
Por outro lado, J. D. Thomas observa que “nenhum cientista afirmaria que o homem tem estado aqui por mais de dois milhões de anos. De fato a afirmação mais recente não fica abaixo de um milhão e setecentos e cinqüenta mil anos, data que se baseia no exame radiativo de certa lava encontrada junto a um esqueleto no desfiladeiro de Olduvai, em Tanganica (África Oriental). A pessoa que descobriu esse esqueleto datou-o primeiramente de seiscentos mil anos antes de Cristo. Essas datas revelam uma considerável discrepância nos critérios científicos” [Thomas, pg. 211].
Como podemos verificar a parti das observações de Grudem e Thomas, até mesmo para os naturalistas fica difícil estender a existência do homem para um período tão recuado como o fazem com relação à existência dos animais fósseis.
Com respeito a posição criacionista, quanto a existência do homem, não encontramos tanta divergência. Grudem observa que, “quer os cristãos defendam a tese da terra jovem, quer da terra antiga, todos eles concordarão que o homem está certamente na terra desde o tempo das pinturas rupestres do homem de Cro-Magnon, pinturas datadas de aproximadamente 10.000 a.C [Grudem, pg.224].    
No entanto, vale destacar que mesmo dentre os teistas existem alguns que defendem a idéia de evolução após a criação, talvez levando ao desenvolvimento de organismos cada vez mais complexos. Mas, como observa Grudem, “seria muito difícil alguém sustentar, com completa fidelidade às Escrituras, que os seres humanos são resultado de um longo processo evolutivo” [Idem, pg.201].
Portanto, pode-se afirmar que, quanto à existência do homem esta deve ser observada paralelamente com os tópicos relacionados acima; as origens do universo, existência e idade da terra e a existência da vida na terra. Em outras palavras, a existência do homem deve ser interpretada sob a mesma ótica aplicada nos referidos tópicos. Quando afirmamos que todas as coisas criadas constituem o produto de um ato único e soberano por parte de um Criador onisciente, onipotente e pessoal, isso inclui o próprio homem.
Outro fator que também deve ser observado é a questão da idade com a qual o homem foi criado. Se admitirmos os fatos como nos são apresentados nas Escrituras, como até mesmo alguns teistas evolucionistas e outros evangélicos partidários das pressuposições do naturalismo o fazem, então precisamos aceitar o fato, conforme defendemos em nosso ponto de vista, de que o homem foi criado já com uma idade adulta. Pois é desta forma que a Escritura retrata a realidade a respeito da criação do homem. Não vemos, no relato da criação, nenhuma evidência de que o primeiro homem (Adão) tenha passado pelo processo natural de crescimento. O que a Escritura apresenta é o fato de que depois de criar o homem, o Senhor mandou que ele exercesse domínio “sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra” (Gn. 1.26).  
Isso aponta a seguinte questão; se alguns teistas naturalistas e os evangélicos defensores da tese da terra antiga não questionam, e até admitem, a idade aparente do homem, porque então não aplicam o mesmo princípio para a criação do universo, ou da terra? Seria o universo grandioso de mais para ser criado por Deus da mesma forma? Se alguém alimenta este tipo de suspeita, seria aconselhável reavaliar sua fé, se realmente o Deus que ele professa é o mesmo apresentado nas Escrituras Sagradas.    
Mas, qual a posição do homem com relação ao restante da criação? Como este é visto dentre as demais criaturas?
Em O Novo Dicionário da Bíblia encontramos a seguinte afirmação; “O relato da criação, em Gênesis, dá ao homem um lugar supremo dentro do cosmos. Sua criação não foi apenas a obra final de Deus, mas no homem é que a obra dos outros cinco dias encontra seu cumprimento e seu significado” [Douglas, pg.593].
Dockery também observa que “a história bíblica retrata a humanidade como o clímax da criação – a imagem de Deus” [Dockery, pg.156].
O homem, como o único ser dentre a criação que recebeu a designação de que foi criado à imagem e semelhança de Deus, foi criado com o propósito de desenvolver uma vida de relacionamento pessoal com seu Criador, adorando e louvando-o por seus grandes feitos. Porém, como resultado do pecado, grande parte da humanidade, a exemplo dos naturalistas ou proponentes do evolucionismo, tem rejeitado esta verdade, recusando-se a reconhecer a primazia de Deus sobre todo o universo, inclusive sobre a própria vida do homem. Esta primazia se deve pelo fato de ser ele (Deus) o Criador soberano.
O homem, como criação pertence a Deus e a este deve sua própria existência. Enquanto não reconhecer esta verdade, e entender o propósito de sua existência, atendendo as verdades expressas na Escritura sagrada, o homem jamais experimentará ou desfrutará a vida em sua plenitude.
Por outro lado, enquanto o homem estiver sob o domínio do pecado e em atitude de rebeldia para com o seu Criador, continuará recorrendo a todos os meios possíveis para tentar anular sua responsabilidade perante Deus, o Soberano Criador de todo o universo, inclusive do próprio homem.  

O conceito de um dilúvio
O relato de Gênesis 6-9 acera do dilúvio global tem encontrado duas oposições basicamente; de um lado os naturalistas consideram apenas as teorias que seguem o uniformitarianismo, e, por outro lado, os detalhes do dilúvio bíblico têm difícil aceitação pelo homem moderno.
O uniformitarianismo, paradigma dominante da geologia naturalista, pressupõe que as forças naturais de erosão, sedimentação e ação magmática (ou vulcânica) têm operado nas eras antigas exatamente da mesma maneira que hoje se verifica. Porém, vale ressaltar aqui que, como observa Archer, “o uniformitarianismo tem sido vigorosamente desafiado por algumas autoridades, por causa da evidência dada pelo metamorfismo termodinâmico com violentas inclinações e torções que aparecem em muitas montanhas, e em regiões que são ou eram montanhosas” [Archer, pg.91].
A teoria do uniformitarianismo serviu não apenas para os naturalistas como base para suas pressuposições e rejeição da tese criacionista, mas, ultimamente, tem sido utilizada por alguns evangélicos para interpretar outros temas bíblicos, como a existência e idade da terra por exemplo. Os proponentes da tese da terra antiga rejeitam a geologia do dilúvio como explicação das formações geológicas da terra. Para Grudem, que demonstra preferência pela tese da terra antiga, embora o dilúvio possa ter sido a nível mundial, e tenha exercido um impacto significativo sobre a face da terra, não é convincente a explicação de que todas as formações geológicas da terra tenham sido causadas pelo dilúvio, e não por milhões de anos de sedimentação, erupções vulcânicas, movimentos de geleiras, deslocamentos sedimentais e por ai a fora [Grudem, pg. 237].
Outros evangélicos que também podem ser destacados aqui são os proponentes da teoria da harmonização, os quais procuram harmonizar a Escritura com a ciência presumindo que os dias da criação foram períodos de milhares de anos. Estes também se apoiaram na teoria do uniformitarianismo como base para sua interpretação. É impressionante como alguns evangélicos são prontamente influenciados com as teorias ou pressuposições naturalistas, deixando que estas venham afetar sua interpretação de alguns fatos bíblicos. Berkhof observa que “a opinião de que os dias da criação foram longos períodos tornou a vir para o primeiro plano em anos recentes, não, porém, como resultado de estudos exegéticos, mas sob a influência de declarações da ciência” [Berkhof, pg.152].
É importante observar que é questionável o fato destes interpretes não considerarem algumas questões relevantes no que diz respeito às teorias e pressuposições científicas. Archer, por exemplo, afirma que “há uma coletânea impressionante de evidências que tende a comprovar a falsidade das suposições do uniformitarianismo, feita por Harold W. Clark, em New Diluvianism [Archer, nota, pg.91]. Berkhof, por sua vez, apresenta uma lista de objeções mostrando que “a idéia de que os extratos da terra indicam positivamente longos e sucessivos períodos de desenvolvimento da história da sua origem, não passa de mera hipótese dos geólogos, hipótese baseada em generalizações infundadas” [Berkhof, pg.159].
Mesmo assim, tal hipótese tem recebido bastante credibilidade por parte de evangélicos, tanto dos proponentes da teoria da harmonização como também dos defensores da tese da terra antiga. E é com base nestes mesmos pressupostos que surge a divergência quanto à extensão do dilúvio.          
Enquanto uns admitem que o dilúvio deva ter ocorrido globalmente, outros defendem o conceito de dilúvio local, ou limitado, argumentando que, devido algumas evidências científicas, seria impossível a ocorrência de um dilúvio a nível global.
Dockery lista alguns argumentos utilizados por aqueles que rejeitam o conceito de um dilúvio global [Dockery, pg.158].
Uma objeção apresentada é com respeito à quantidade de água necessária para cobrir a montanha mais alta, que seria oito vezes maior do que a existente na terra (segundo as melhores estimativas, um nível de água para cobrir os Himalaias exigiria oito vezes mais água do que o total atualmente existente em nosso planeta [Archer, pg.118]). Outra objeção apresentada é com relação aos problemas práticos para abrigar e alimentar tantos animais durante um ano.
Também se argumenta que a destruição de toda a vida vegetal submersa em sal e água por um ano seria inevitável (quase nenhuma vida vegetal poderia ter sobrevivido à submersão na água salgada durante mais de um ano). Além disso, tem também a idéia de que para destruir a raça humana era necessária apenas uma inundação cobrindo as áreas habitadas da terra naquele tempo (George F. Wright parece inclinado à possibilidade que possa ter sido limitado ao vale do Eufrates, entendendo-se que a raça humana tivesse sido restrita a essa área naquela época, sendo, pois, totalmente destruída. Faz, porém, referências às evidências geológicas do dilúvio no Egito, na Palestina, na Sicília, na França e na Inglaterra [Idem, pg.117]). E, por fim, argumenta-se que faltam evidências geológicas de um cataclismo mundial.
Como podemos verificar, as objeções fundamentam-se em observações superficiais da natureza. Além do mais, vale lembrar que os proponentes de um dilúvio limitado parecem ignorar alguns fatores muito relevantes para a interpretação ou compreensão do dilúvio bíblico. Em Gênesis 7.19, por exemplo, lemos o seguinte; As águas dominavam cada vez mais a terra, e foram cobertas todas as altas montanhas debaixo do céu. O próprio relato bíblico (a Palavra de Deus) declara categoricamente que todas as altas montanhas foram cobertas. Sendo assim, fica difícil sustentar a idéia de um dilúvio local ou limitado, mesmo que alguns queiram argumentar que as referidas montanhas fossem meramente as daquela região, o que seria difícil sustentar com base no texto.
O texto bíblico nos informa; As águas foram baixando pouco a pouco sobre a terra. Ao fim de cento e cinqüenta dias, as águas tinham diminuído, e, no décimo sétimo dia do sétimo mês, a arca pousou nas montanhas de Ararate (Gênesis 8.3-4 - NVI). Como podemos verificar, é evidente que as águas cobriram o pico do monte Ararate, visto que foi exatamente neste monte que a arca encalhou.
Archer observa que a inferência inevitável é que o nível de água tenha subido até mais do que 5.000 metros acima do atual nível do mar. Isso cria para a teoria do âmbito restrito do dilúvio dificuldades quase tão graves como aquelas que a teoria procura evitar. Como é que o nível poderia ter chegado ao cume do Ararate sem ter subido a mesma altura no mundo inteiro? “Admitir que a Armênia tivesse recebido 5.000 metros de água sem ter havido nenhuma inundação em Auvergne na França, é propor um milagre mais incrível do que qualquer coisa implicada pela maneira tradicional de crer num Dilúvio universal” [Idem, pg.119].
Além do mais, as evidências geológicas de um dilúvio global são patentes para todo aquele que está disposto a observá-las e entendê-las sem preconceitos firmados pelas pressuposições cientificas. Já foi observado que “as imensas forças que formaram as grandes cordilheiras montanhosas dos Alpes, dos Andes e das montanhas rochosas, não podem ter sequer remotamente qualquer paralelo com qualquer fenômeno que se observa hoje”.
... “Uma coisa que parece indisputável é que forças tremendas, além de qualquer coisa que hoje se conhece (e impossível de ser estimadas cronologicamente), perturbaram a superfície da terra em escala e ritmo que hoje não se conhece” [Archer, pg.92; citando Harold W. Clark].
Portanto, se alguns evangélicos rejeitam o conceito de um Dilúvio global sob a alegação de falta de evidências científicas, é porque sua interpretação ou avaliação de tais evidências se apóiam tão somente em princípios científicos e não na Escritura Sagrada. Neste caso, seria prudente, em meio às incertezas oferecidas pelas pressuposições científicas, assumir uma posição mais coerente com a Escritura sagrada, como observa Dockery; “enquanto todas as nossas dúvidas não puderem ser respondidas, as informações bíblicas apontam para um dilúvio universal” [Dockery, pg.158].
Por outro lado, às vezes temos a impressão de que os evangélicos que rejeitam o conceito de um dilúvio universal parece basearem-se nos mesmos motivos que os naturalistas; dificuldades em acreditar em fatos sobrenaturais, operados pelo Deus que é capaz de fazer tudo o que lhe apraz. Apesar de que alguns possam alegar que argumentos desse nível pareçam uma evasiva para um tema complexo, se analisarmos outros temas relacionados à fé cristã veremos que estes são os argumentos mais comuns, pois é exatamente nesta esfera de operações que o glorioso poder e majestade de Deus sobre todas as coisas são manifestados. Vários temas do cristianismo são fundamentados exatamente nesta verdade; o impossível para o homem é plenamente possível para Deus, pois Ele é aquele que falou, e tudo se fez; ordenou e tudo surgiu (Sl. 33.6,9). Ele é “o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem como se existissem” (Rm. 4.17b).
Conclusão
Conforme pudemos verificar no decorrer de nossa abordagem, a cosmovisão criacionista sempre teve certa rejeição desde que a filosofia naturalista entrou em cena. Várias teorias oriundas do naturalismo têm surgido, porém, a maioria delas já foi rejeitada por estarem equivocas em suas pressuposições. Mas, com a teoria da evolução o naturalismo tem ganhado bastante espaço no meio secular e entre os cientistas, a ponto de prevalecer nos dias atuais como a teoria mais importante no mundo secular, tanto com relação à origem da vida na terra como também a explicação do universo ou as origens em geral. E isso não se deve às pressuposições infundadas do evolucionismo, mas a indisposição continua do homem natural em reconhecer os caminhos de Deus e submeter-se à sua Palavra. E é triste quando percebemos alguns evangélicos dando credibilidade a tais pressuposições, mesmo reconhecendo suas possíveis falhas, e isso com o intento de se amoldar à “modernidade científica”, para não parecerem com um grupo de teólogos superados.   
Na verdade muitos argumentos são apresentados pelo naturalismo e por muitos partidários de suas teorias com respeito às questões que envolvem os capítulos 1 e 6-8 de Gênesis (as origens do universo, a existência e idade da terra, a existência da vida na terra, a existência do homem e o conceito de um dilúvio), no entanto, se considerarmos tais argumentos à luz das declarações da Escritura, e da imagem que esta apresenta da pessoa de Deus, aquele que é Onipotente, infinitamente sábio, e capaz de realizar todos os seus intentos, veremos que tais argumentos perdem sua significância.
Se quisermos ser coerentes com a designação de “criacionistas bíblicos” não podemos agir de maneira incoerente, interpretando fatos bíblicos à luz de pressuposições ou teorias naturalistas, mas, ao contrario, devemos interpretar tais teorias à luz da Escritura Sagrada. 

BIBLIOGRAFIA
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LOURENÇO, Adalto. Como tudo começou: São José dos Campos – Editora Fiel, 2007.

Uma abordagem de Romanos 7.7-25 por: Antonio Luis

Depois de discorrer acerca da dinâmica da vida cristã no capitulo seis (Rm, 6), argumentando que já morremos para o pecado e vivemos para Deus, devido nossa união com Cristo, tanto em sua morte quanto em sua vida, mostrando que o viver na graça implica em um novo estilo de vida, Paulo passa agora, em Romanos 7.1-25, a mostrar para os cristãos que estes tem uma nova relação com a Lei. Do versículo um a seis (Rm. 7.1-6), Paulo, usando como ilustração o casamento, deixa evidente que o crente não está mais debaixo da Lei.
Embora a lei seja santa, justa e boa, viver sob a Lei é algo terrível para o crente, e isso não por causa da própria Lei em si, mas, por causa da nossa natureza humana corrompida pelo pecado.
Mas, o que significa viver sob a Lei? Podemos entender que, viver sob a lei é buscar refúgio nela, ou seja; o homem encontra-se sujeito ao juízo divino por causa do pecado, e alguns procuram escapar desse juízo divino através da Lei. Mais claramente falando, através da guarda ou observância da Lei. Mas, porque é tão terrível para o homem recorrer à Lei para escapar da ira divina? Porque é a própria Lei que condena o homem pecador. E já que todos são pecadores (3.9-23) todos estão sob a condenação da mesma. A Lei não foi dada para salvar o homem (o problema é que muitos não entenderam, e até hoje não entendem), mas para mostrar que ele precisa de salvação (3.19,20;5.20a; 7.7,14; Gl. 3.11,19,21). O único meio de se “alcançar” salvação é por meio da fé em Jesus Cristo (Ef. 2.8,9; At. 4.12; Rm. 3.21-25). E não adianta o homem querer encontrar defeito ou imperfeição na Lei. Ela não é ruim e nem má. O problema todo está na natureza humana que foi corrompida pelo pecado; “todos se extraviaram...”. A Lei simplesmente destaca esta verdade (e, para pasmo de muitos; para o nosso próprio bem. Sem a Lei não reconheceríamos nosso pleno estado de perdição).
Um problema fundamental é o fato de muitos não compreenderem o papel da lei, e também não compreender a abrangência da graça, tanto no AT como no NT.  
A partir de Romanos 7.7 o apóstolo começa a tratar de uma questão um tanto difícil para alguns. Para aqueles que procuram apegar-se ou refugiar-se na lei, para alcançar um estilo de vida agradável a Deus, ele mostra categoricamente que é impossível. Ninguém consegue satisfazer as exigências da lei, especialmente baseando-se em seus próprios esforços em cumpri-la. E isso, por causa da impotência da natureza humana diante da santidade da Lei.
Com respeito a este ponto e vista sobre a lei não encontramos nenhuma divergência entre os interpretes, pois a maioria compartilha este conceito doutrinário. No entanto, com respeito a interpretação da passagem de Romanos 7.7-25, especialmente com relação a identificação da pessoa a quem o apóstolo Paulo se refere na primeira pessoa do singular, há algumas divergências entre os interpretes, visto que aparecem algumas questões difíceis de entender, principalmente se a passagem for estudada com base em pressuposições.
Por exemplo, Já foi observado que “se estamos em busca de uma descrição da vida cristã normal, é em Romanos 8 que iremos encontrá-la; Romanos 7, com sua concentração na lei e sua omissão do Espí­rito, não pode ser uma referência para descrever a normalidade da vida cristã” (Stott, 2000).   
Esta observação deve chamar nossa atenção para algumas questões que se levantam quando decidimos estudar o capitulo sete de Romanos. Se partirmos para o estudo de Romanos 7 com este conceito, certamente o “eu”, que aparece com bastante freqüência na passagem, dificilmente se aplicaria ao próprio Paulo, pois se assim fosse estaríamos admitindo que ele, ao escrever a referida passagem, não estava experimentando uma vida cristã normal. Por outro lado, se admitirmos que o “eu”, de Romanos 7 trata-se da pessoa do apóstolo, como explicar a aparente incoerência com a vida cristã?
Neste trabalho discorreremos sobre esta questão. Procurando chegar a uma conclusão coerente com o texto, mesmo considerando as dificuldades que surgem na passagem.
Ponto de vista.
Neste capitulo nos deparamos com algumas palavras do apóstolo que temos séria dificuldade em admitir que se trate de uma pessoa alheia às questões da fé cristã, ou alguém que não tenha tido uma experiência com o evangelho. Por outro lado, segundo alguns argumentam, em alguns momentos, parece tratar de alguém que ainda não foi transformado pelo evangelho. Podemos destacar algumas características marcantes do indivíduo re­tratado em Romanos 7.14-25 que dificulta sua identificação. Conforme observa Stott, “ele ama a lei, portan­to, parece ser uma pessoa convertida. No entanto, ele ainda é escravo do pecado sendo assim, parece não ser um cristão liberto”.
Diante disto, surgiram várias interpretações desta passagem, considerando tanto uma posição (trata-se do incrédulo, a pessoa antes da conversão) quanto a outra (trata-se de um crente regenerado).
Outro fato importante de ser considerado, e que parece dificultar mais ainda o entendimento da passagem, é que o apóstolo discorre no texto sempre usando a primeira pessoa. Será se Paulo está falando de si mesmo ou em sua pessoa ele representa outrem, ou outro grupo de pessoas?
Já houve quem interpretasse a passagem como se Paulo não estivesse falando historicamente de si mesmo, mas teologicamente. “Como se ele estivesse vendo toda a vida humana baseada em Gênesis 3. Como se estivesse afirmando; quando adão viveu, eu vivi. Quando ele foi enganado, eu fui enganado” [Apostila do prof.]. A passagem também tem sido abordada com vistas aos períodos na vida do apóstolo, antes e depois de sua conversão. Enquanto que nos versículos de 7 a 13, predomina o tempo passado, nos versículos 14 a 25, utiliza-se o tempo presente. Estes fatores indicariam que Paulo está descrevendo suas experiências tanto anteriores quanto posteriores à sua conversão. Porém, alguns comentaristas encontram dificuldade nesta abordagem, pois,           argumentam, há algumas características na pessoa referida na passagem que não condiz com um cristão regenerado. Dificilmente Paulo estaria referindo-se a si mesmo como alguém tão preso ao pecado (7.14-25).
Por isso, argumentam, não devemos entender a passagem como uma abordagem autobiográfica, visto que, se tratando de um cristão regenerado, especialmente alguém como o apóstolo Paulo, o qual, no decorrer da epístola vem demonstrando uma compreensão tão profunda da obra regeneradora e justificadora de Deus na vida do crente seria uma idéia no mínimo absurda. Dessa forma, a passagem não deve ser interpretada como uma autobiografia do apóstolo.
Para Stott, “o “miserável homem” do versículo 24 tipifica muitos cris­tãos judeus da época de Paulo, convertidos, mas não libertados, vivendo debaixo da lei e não no Espírito ou debaixo do Espíri­to. Eles confia­vam na lei e, no entanto, ainda não haviam resolvido a questão da sua fragilidade. A fim de enfatizar isso, Paulo identifica-se com eles falando na sua própria peregrinação, particularmente nesse estágio. Ele representa a impotência da lei através de uma dramatização em que são revividas experiências pessoais” [Stott, 2000].
Cranfield, comentando sobre a referida passagem, não ignora o uso que o apóstolo Paulo faz da primeira pessoa na referida passagem. Ele observa que “a explicação mais provável, em seu ponto de vista, é que nos defrontamos aqui com o emprego generalizado da primeira pessoa do singular, com vistas a retratar vivamente a situação do homem na ausência da lei e na sua presença [Cranfield, 2005].
Quanto a este uso generalizado que o apóstolo faz da primeira pessoa na passagem, Stott afirma que; “se abordarmos essa questão da perspectiva da "história da salvação", isto é, da evolução do propósito de Deus, o tal "eu" pode ser um crente do Antigo Testamento, um israelita que vive debaixo da lei, inclusive os discípulos de Jesus antes do Pentecoste, e provavelmente muitos cristãos judeus contempo­râneos de Paulo. Essas pessoas eram convertidas. Os crentes do Antigo Testamento tinham, com relação à lei, uma postura que beirava o êxtase” [Stott, 2000].
Abordando a passagem desta forma, Stott parece descaracterizar um pouco o sentido do uso pelo apóstolo da primeira pessoa do singular que perpassa por praticamente toda a passagem de Romanos 7.7-25. Embora possamos admitir o fato de que os cristãos judeus possuíam tal visão a respeito da lei, interpretar o “eu” predominante no texto como “o “miserável homem” do versículo 24 tipificando muitos cris­tãos judeus da época de Paulo, convertidos, mas não libertados, vivendo debaixo da lei e não no Espírito ou debaixo do Espíri­to, e entendendo que o próprio apóstolo, a fim de enfatizar isso, identifica-se com eles falando na sua própria peregrinação, particularmente nesse estágio, seria não considerar seriamente a ênfase de Paulo na primeira pessoa do singular.
De fato, para quem dispensa bastante atenção para os argumentos do apóstolo, anteriores e posteriores ao texto de Romanos 7, poderá encontrar séria dificuldade em identificar o apóstolo com a pessoa referida na passagem. Visto que a imagem que ele apresenta acerca de uma pessoa regenerada pelo Espírito Santo (o crente) parece incompatível com as características encontradas na pessoa retratada em Romanos 7.7-25.
No entanto, ao atentarmos para o ensino do apóstolo acerca da dinâmica da vida cristã normal em outras passagens bíblicas, relacionando as mesmas verdades ou princípios com a referida passagem (Rm. 7.7-25), não teremos dificuldade para entender que aqui, o apóstolo está se referindo a si mesmo. O “eu” de romanos 7.7-25 não pode ser outra pessoa alem do próprio apóstolo Paulo. Com sua própria experiência ele ensina a verdade a respeito da vida de toda pessoa que se converte ao Senhor pela mensagem do evangelho. Como afirma Cranfield; “talvez tenhamos razão em supor que a escolha de Paulo desta forma de falar não foi devida exclusivamente seu desejo de vivacidade retórica, mas também reflete seu sentido profundo de envolvimento pessoal, sua consciência de que ao extrair a verdade geral, ele exprime a verdade a respeito de si mesmo” [Cranfield, 2005]. Como podemos ver no Novo Testamento, especialmente nas epístolas paulinas, o crente, embora seja uma pessoa liberta do poder e da penalidade do pecado ainda sofre a influência ou pressão da natureza caída, a “carne”, e às vezes, até ao ponto de não realizar o que deseja (Gálatas 5.17).
Não podemos negar o fato de que na passagem o apóstolo expressa a verdade sobre a realidade da vida de um cristão, a contínua luta entre a carne e o espírito. Em Romanos capitulo oito encontramos a vida cristã ideal, a qual todo cristão autêntico, levado pelo Espírito, busca e se aproxima a cada dia. Já no capitulo sete encontramos o ponto de partida para Rm. 8. O capitulo sete trata da realidade do crente. Não podemos confundir o real com o ideal. 
  
Interpretação.
Reconhecendo que o “eu” de Rm. 7 refere-se à própria pessoa do apóstolo Paulo precisamos entender agora as palavras usadas por ele na passagem, sem deixar de considerar o conflito expresso pelo apóstolo.  
Como já foi destacado acima, alguns comentaristas argumentam que sempre são evidenciadas características de uma pessoa regenerada (um crente) como também de uma pessoa não regenerada (um não crente) em Romanos sete. Estas características perpassam por toda a passagem paralelamente, sem transparecer ou sugerir a idéia de períodos, “o antes e o depois” da vida de uma pessoa, visto que o conflito entre o querer fazer o bem e o “não poder evitar o mal” parece acompanhar o argumento de Paulo até o versículo 24.
Atentando para o versículo sete, percebemos que o apóstolo interage com o leitor a respeito da possível conclusão equivocada que alguns podem ter tido com relação ao que ele acaba de dizer acerca da lei em Rm. 7.1-6. Paulo argumenta; Que diremos então? A Lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: “Não cobiçarás” (Rm.7.7). Sem deixar de destacar o caráter imaculável da Lei, o apóstolo desenvolve seu argumento concernente ao efeito da Lei na vida do homem. Ao mesmo tempo em que deixa clara a impossibilidade de alguém conseguir cumprir as exigências da Lei, ele mostra que o pecado, que habita em nossa natureza humana (nossa natureza corrompida pelo pecado) é o único responsável por não conseguirmos cumprir as exigências da Lei. Embora não tenha sido dada com o propósito de salvar ou redimir o pecador, a Lei continua sendo santa justa e boa. O apóstolo faz questão de destacar o caráter santo da Lei (No versículo 12,  [mevn - “indubitavelmente”] é a palavra usada com o objetivo de resguardar, de antemão, o caráter inatacável da lei [Fritz, 1985]). O pecado que habita em nós é quem nos impede de cumprir suas exigências. Esta verdade fica evidente pelo argumento do apóstolo no decorrer de sua discussão.
Portanto, a ênfase do apóstolo no capitulo sete de Romanos está na impotência da natureza humana diante da santidade da Lei. Paulo fala aos cristãos acerca do resultado da Lei na vida do homem, tanto na vida do não crente quanto na vida do crente. Para isso, o apóstolo toma como base sua própria experiência diante da Lei. Ele fala de sua experiência anterior à conversão (Rm.7.7-13) e a atual luta que enfrenta com relação à sua natureza humana diante da Lei, que é Santa, justa e boa (Rm.7.14-24). Conforme observado na apostila do professor, lição 10, “Paulo descreve o conflito e o transtorno interiores que ele tem experimentado como crente”. No entanto, o apóstolo não deixar de destacar sua confiança na providência divina, manifestada na pessoa de Jesus Cristo (Rm.7.25). O retrato que Paulo deixa de si mesmo na referida passagem não é o de uma pessoa escravizada pelo pecado, mas, alguém que ainda luta contra as inclinações pecaminosas da natureza humana. Luta esta que perdurará até o momento em que seremos transformados (1 Co. 15.50-58).
Se entendemos que o apóstolo Paulo era tão humano quanto qualquer um de nós, e que, mesmo liberto da escravidão do pecado e da Lei (Romanos 6 e 7), lutava contra as inclinações carnais, não temos motivos para rejeitar o fato de que ele fala a respeito de sua própria experiência em Romanos 7. O discurso de Paulo nesta passagem tem como finalidade mostrar que o crente, sempre que avalia sua vida à luz da Lei inevitavelmente perceberá a total incapacidade de cumprir suas exigências. Mesmo reconhecendo a justiça, santidade e bondade da Lei o apóstolo expõe o fato de que ela é incapaz de refrear ou vencer o pecado. “A Lei não pode vencer o pecado, porque depende da cooperação da carne, que é fraca. Aquilo que a Lei exige somente pode ser operado em nós mediante o Espírito, na base da obra de Cristo” [H. H. Esser, DITNT], e é disso que ele vai falar em Rm. 8. Por isso não podemos interpretar a passagem de Romanos sete à parte do capitulo oito.
Portanto, concluímos que em Romanos capitulo sete Paulo expressa em sua própria experiência o conflito evidenciado na vida de todo crente redimido pelo sacrifício de Jesus Cristo.

Estrutura
A partir do versículo 14 o argumento do apóstolo Paulo segue mostrando a impossibilidade do homem, por si só, alcançar o padrão divino de santidade impresso na Lei. Quanto mais o crente olha sua vida à luz da Lei mais nítida fica a fragilidade da natureza humana ou sua incapacidade de passar pelo crivo divino. Como afirma Dockery; “em nenhum outro lugar das epístolas de Paulo, nem em outra obra literária antiga, existe uma descrição tão penetrante da condição deplorável e da contradição humana como em Romanos 7. 1-25” [Dockery, 2001].
O argumento do apóstolo segue uma estrutura da seguinte forma:
Uma declaração sobre sua condição – 7.14-17
Explicação da declaração – 7.18-20
Conclusão – 7.21-25 [Apostila do professor].
Romanos 7.14-17
Paulo inicia sua descrição fazendo algumas declarações acerca de sua condição humana. O apóstolo destaca o fato de que a natureza humana, em si mesma, encontra-se completamente e irremediavelmente corrompida pelo pecado; “fui vendido como escravo ao pecado” [pepramevno": Part. Perf. Pass. O perfeito enfatiza o estado ou condição, “vendido” – Fritz, 1985]. Se considerarmos o fato de que o particípio encontra-se na voz passiva, perceberemos que a declaração do apóstolo refere-se à sua natureza humana, a qual foi sujeita ao pecado desde os tempos de Adão. Ele fala do velho homem, do corpo do pecado que precisa ser anulado (Rm. 6.6). Embora o novo “eu” de Paulo, o homem interior, deseje realizar o bem, suas ações quando confrontadas pela Lei, se mostram incompatíveis com a santidade da Lei. Paulo, como todo crente que ama a Deus, se pudesse, cumpriria à risca todos os mandamentos da Lei. Cumpriria todas as suas exigências. Mas, sempre que olha para suas ações percebe a inclinação que a natureza humana tem para o mal. Por isso Paulo admite que a Lei é boa, no entanto o pecado ainda habita em sua natureza humana e somente quando for transformado ele se livrará desse corpo corruptível (1 Co.15.50,53,54).
Romanos 7.18-20
Já que o pecado ainda habita em sua natureza humana, e já que esta é continuamente inclinada para o pecado, Paulo reconhece que nada de bom habita em sua carne, pois, embora deseje fazer o que é bom de acordo com os padrões da Lei sua natureza carnal não consegue alcançar os padrões divinos. Por isso reconhece que as ações reprovadas pela Lei são frutos do pecado que reside em sua natureza carnal. Toda vez que olhamos para nossa vida sob a ótica da Lei o resultado sempre será este.
Nosso relacionamento com Deus deve-se tão somente à sua grande graça e misericórdia, que por meio de Cristo e pela ação do Espírito Santo nos molda dia após dia de acordo com sua vontade (2 Co. 3.18).    
Romanos 7.21-25  
 
A conclusão que o apóstolo chega é que, pelo fato do pecado habitar em sua natureza humana, quando ele quer fazer o bem, o mal está junto a ele. A idéia aqui não é que o apóstolo esteja escravizado pelo pecado, como alguns possam querer insinuar, mas, que o apóstolo ainda possui uma natureza que foi definitivamente afetada pelo pecado, ficando sujeita à suas inclinações. Da mesma forma todo crente quando se propõe a desenvolver uma vida moralmente santa, baseando-se nas justas exigências da Lei, logo perceberá sua incapacidade ou impossibilidade de alcançar este alvo. Conforme observamos em Tiago, se alguém tropeça em um só ponto da Lei, compromete-a por completo. “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente” (Tg.2.10). Apenas o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo foi capaz de cumprir toda a Lei sem tropeçar em um só ponto. Por isso Ele pode desafiar seus opositores; “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado”? (Jo.8.46). Em Romanos sete (Rm, 7) podemos perceber a eficácia da Lei ao cumpri seu papel; mostrar claramente a condição da natureza humana corrompida pelo pecado e a impotência da mesma em satisfazer ou alcançar o padrão divino de santidade impresso na Lei.    
O cristão precisa entender que a Lei não tem poder para produzir santidade em sua vida. E a razão pela qual a Lei não produz santidade na vida cristã é a mesma pela qual não produz justificação. Ela não foi promulgada para justificar o pecador ou perdoar seus pecados, mas, para realçar o pecado, condenando-o. E, desta forma, conduz o pecador até os pés de Cristo, onde podemos encontrar refúgio verdadeiro, sendo libertos do poder e penalidade do pecado.
Quando afirmamos que somos libertos do poder do pecado, não significa necessariamente que somos perfeitos, no sentido de não cometer mais pecados (cf. 1 Jo, 1.8-10). Queremos dizer o que Paulo afirma em Romanos 6; por estarmos sob a graça, e não sob a lei, o pecado não nos dominará. Quando compreendemos corretamente e verdadeiramente vivemos sob a graça, cada vez mais o pecado perde sua força influenciadora em nossas vidas. É compreendendo e vivendo na graça que “anulamos” ou “tornamos inoperante” [Fritz, 1985] o corpo do pecado (Rm 6.6). Como a Lei não foi promulgada com a finalidade de justificar o pecador, da mesma forma, ela não foi dada para produzir santidade na vida cristã, mas para mostrar-nos o quanto carecemos da mesma para alcançarmos o padrão divino. Embora os princípios da Lei nos ofereçam o padrão de santidade para a vida cristã, tal santidade só pode ser alcançada por obra do Espírito Santo na vida do crente. Tudo começa em Cristo e continua nele ou por meio dele.

Conclusão
Como já foi observado, não podemos interpretar o capitulo sete de Romanos à parte de seu contexto maior, o qual corresponde aos capítulos seis a oito (Rm. 6-8). Em Romanos seis o apóstolo mostra a seus leitores que todo aquele que se uniu a Cristo encontra-se em condições de desenvolver um estilo de vida agradável diante de Deus (Rm. 6.12-13). O pecado não dominará mais o crente (6.14a). Esta é uma verdade implícita na passagem, e esta verdade tem como base o fato de que o crente não está mais debaixo da Lei, mas debaixo da graça (6.14b). Somente por não está mais debaixo da Lei, o crente agora pode desenvolver uma vida de santidade. Antes, sob a Lei, o crente vivia escravizado pelo pecado, que tomou ocasião, por causa da fraqueza da carne perante a Lei. Agora, sob a graça, o crente vive livre da Lei e conseqüentemente livre domínio do pecado, para oferecer-se a Deus, em santidade de vida com base na Lei do Espírito de vida (8.2).
No capitulo sete (Rm, 7), o apóstolo destaca mais claramente a real condição humana perante a Lei. Esta é santa, justa e boa, nós, porém, somos pecadores por natureza. A Lei é espiritual, nós, porém, somo carnais (Rm. 7.14), isto é; nossa natureza humana foi afetada pelo pecado, e ainda continua presa a ele. As inclinações desta natureza são sempre contrárias à santidade de Deus, não se submete à Lei (Rm. 87). Os impulsos carnais, em todo e qualquer momento oportuno, manifestam-se em ações contrárias às justas exigências da Lei. Faz parte da natureza humana corrompida pelo pecado o agir contrário à vontade de Deus. Ai está a razão pela qual não podemos tomar como base a observância da Lei para desenvolver uma vida de santidade para com Deus. Nossa natureza carnal milita contra toda instituição que queira refrear seus impulsos pecaminosos.
Portanto, é a conclusão do apóstolo, para que o cristão desenvolva uma vida de santidade para com Deus, é necessário viver sob a direção do Espírito Santo, em total dependência deste. Esta conclusão encontra-se no capitulo oito, onde Paulo apresenta o viver cristão ideal. É nesta perspectiva de vida que todos nós devemos nos apegar. Sem perder de vista nossa real posição como filhos de Deus e herdeiros com Cristo. É a ação do Espírito Santo na vida do crente que o leva a viver de modo agradável diante de Deus, produzindo fruto de justiça, por intermédio de Jesus Cristo, para glória de Deus.
A vida cristã vitoriosa só é possível se vivida segundo o Espírito; “Por isso digo: Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne” (Gálatas 5.16).
O Senhor nos conceda sempre a graça de compreender, crê e viver esta verdade.                
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Fontes não publicadas

_______________Apostila do professor. Horizon International Schools

TURRADO, Lorenzo. Biblia comentada - Hechos de los Apóstoles y Epístola a los Romanos: Texto de la Nácar-Colunga. Para Usos Internos y Didácticos Solamente - Adaptación pedagógica: Carlos Etchevarne.