quinta-feira, 17 de março de 2011

Teologia e Vida cristã

A importância do Estudo teológico para a boa saúde da igreja:
Todos os seguimentos cristãos, especialmente os evangélicos, buscam afirmar que tem seu corpo doutrinário firmados na Bíblia Sagrada. Todos eles se denominam fiéis à Palavra de Deus, embora seja evidente que nem todos crêem nas mesmas coisas, nem mesmo em relação às doutrinas essenciais. Algumas vezes a divergência doutrinária é tão grande que até poderíamos perguntar; será se eles usam a mesma Bíblia? Ou, será se a pessoa de quem estão falando não é outro Jesus? Sendo assim, surge a seguinte questão; seria isso um problema?
Para esta pergunta contamos com duas pressuposições diferentes basicamente. De um lado, encontramos aqueles que não vêem problema algum com essa “miscelânea evangélica”. Tais pessoas enfatizam que o importante é que a fé evangélica esteja sendo propagada. A questão é: o que é de fato a fé evangélica? Será se compreendemos realmente o que é a fé evangélica? Será se compreendemos realmente a nossa própria fé? Hoje em dia fica difícil definir o que de fato é ser evangélico. O termo é uma designação tão ambígua que alguns historiadores julgam que a melhor definição é a de George Marsden: "Qualquer pessoa que gosta de Billy Graham".[1]
Por outro lado, há também aqueles que partindo para o extremo oposto fecham-se para suas pressuposições doutrinárias e consideram apenas estas como fielmente fundamentadas na Palavra de Deus, enquanto que as demais são consideradas procedentes da mentalidade humana, influências mundanas e até demoníacas.
Mas, pensando nas divergências doutrinárias existentes no meio do evangelicalismo, especialmente aquelas divergências gritantes, que chegamos até pensar que se estar pregando um outro evangelho, precisamos insistir; seria isso um problema? Se o leitor acha que não, aconselho que reflita um pouco em algumas advertências do Senhor neste sentido. Seria interessante nos perguntarmos; o que o Senhor Jesus quer nos ensinar em passagens que expressam a necessidade de se conhecer a sã doutrina? Por exemplo;
Em Mateus 7.15-23 o senhor deixa claro que nem todas as pessoas que o chamam “Senhor, Senhor,” pertencem ao grupo dos eleitos. O senhor afirma que naquele dia muitos lhe dirão: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então lhes direi claramente: nunca os conheci. Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal! (Grifo meu).
Em Atos 20.28-30 encontramos o apóstolo Paulo profundamente preocupado com a saúde doutrinária da igreja. Ao convocar os lideres das igrejas ele adverte-os com estas palavras: Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que Ele comprou com o seu próprio sangue. Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos (grifo meu). Note que o apóstolo fala de pessoas que como lobos ferozes penetrariam no meio dos irmãos (lideres?) e não pouparia o rebanho. E mais, dentre eles mesmos se levantariam homens que torceriam a verdade a fim de atrair os discípulos. Outras passagens bíblicas como Rm 16.17-18; I Co 15.33,34; II Co 11.13-15; Gl 1.6-9; Ef 4.11-14; 6.10-18; Fp 3.2; Cl 2.8,16,18-19; I Ts 4.1,13; II Ts 2.1-3; I Tm 1.3-7; II Tm 2.15-18; Tt 1.6-11 leva-nos a perceber que a Sã Doutrina deve ser uma preocupação de todo cristão consciente, especialmente dos obreiros cristãos.
Se fossemos alistar todas as referências bíblicas que nos advertem sobre problemas doutrinários, teríamos uma lista muito extensa, e não é este nosso propósito aqui. Por enquanto queremos ajudar o leitor a se recordar das advertências do Senhor neste sentido e ver a importância de investir tempo suficiente com este tema. Pensando nas divergências doutrinárias existentes no meio do evangelicalismo, especialmente aquelas divergências gritantes, que afetam as doutrinas fundamentais do evangelho, e diante das evidências bíblicas apresentadas acima, podemos considerar legítima a preocupação conscienciosa dos lideres cristãos.
Mas, para que possamos compreender melhor a questão precisamos nos perguntar; Qual o motivo de tanta divergência no meio evangélico? As vezes na mesma denominação existem várias divergências doutrinárias o que, por vezes, acaba provocando divisões em algumas igrejas locais. Por mais que a convenção procure manter uma unidade doutrinária, muitas igrejas locais, através de sua liderança, procuram desenvolver e estabelecer seus próprios princípios doutrinários, e tudo isso sob a alegação de que “estão seguindo a Bíblia como regra de fé e prática”. O problema se agrava pelo fato de que dentro da própria igreja começam surgir divergências doutrinárias que, mais tarde, leva a divisão do grupo. Mas, não alegam serem guiados pelo mesmo espírito? Não professam servir o mesmo Senhor; Jesus Cristo? Todos não usam a mesma Bíblia? O que acontece que acabam chegando a conclusões bem diferentes sobre determinados temas bíblicos? Creio que parte da resposta a estas indagações encontra-se no fato de que grande parte da igreja tem desprezado a importância do estudo teológico. Quanto aos crentes leigos da igreja não estranhamos o fato de não entenderem a importância da teologia para a vida da Igreja, ou para a própria vida cristã, até porque, a maturidade cristã e firmeza doutrinária de cada membro leigo de nossas igrejas dependem e muito da qualidade do ministério de seus lideres. Em outras palavras, o conhecimento doutrinário de cada membro da igreja depende de seu líder procurar apresentar-se a Deus como obreiro aprovado que não tem do que se envergonhar, mas que maneje bem a Palavra da verdade (II Tm. 2.15). No entanto muitos líderes não reconhecem a necessidade de se dedicarem ao estudo para conhecer de modo mais profundo algumas questões que são cruciais para a fé cristã. Dessa forma eles ignoram a orientação da Palavra de Deus referente aos líderes para que estes sejam aptos para ensinar (I Tm. 3.2; 4.13; II Tm. 2.24), para que sejam capazes de encorajarem outros pela sã doutrina e refutarem os que se opõem a ela (Tt. 1.9). O incrível é que, para nossa decepção, ainda existem alguns lideres que não somente desprezam a importância do estudo teológico, mas ensinam seus ouvintes a seguirem o mesmo caminho. Alegam que “a letra” mata, mas o Espírito vivifica. A letra que mata, para eles, é o estudar. A idéia é se entregar ao Espírito, em um tipo de religiosidade baseada em pragmatismo e experiências sensacionalistas. E é exatamente por falta de estudo que eles deixam de compreender que a letra a que o apóstolo se refere é a Lei mosaica (II Co. 3.6,7; conf. v. 3). Certa vez fiquei impressionado quando ouvi uma irmã, formada em Bacharel em Educação Cristã, esposa de um pastor conhecido meu, chegou a declarar que para nós não deveria ter importância as palavras do apóstolo Paulo (o que ele disse), e sim suas obras (o que ele fez). Dá para perceber a gravidade do problema? Para essa irmã a igreja poderia abrir mão de quase um terço do Novo Testamento. Para ela não tinha importância o que Paulo escreveu. Bastavam para nós as narrativas que encontramos no livro de Atos sobre o ministério do apóstolo. E, em parte, é essa recusa em estudar com mais dedicação as doutrinas cristãs que tem levado muitas de nossas igrejas a experimentarem o dissabor da divisão, e, embora aleguem serem guiados pelo mesmo espírito, professem servir o mesmo Senhor e, embora use a mesma Bíblia o povo acabará chegando a conclusões bem diferentes ao estudar sobre determinados temas bíblicos, visto que falta, por parte de muitos, um bom nível de orientação teológica. Vale lembrar que, a maioria das seitas ou grupos heréticos possui fortes argumentações na defesa de suas falsas doutrinas e somente quando estudamos com seriedades os temas ou doutrinas relacionados a suas heresias teremos condições de refutá-las, e assim, estaremos preparados para discernir e tomarmos cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que temos recebido (Rm. 16.17,18).


[1] Horton, Michael.

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