quinta-feira, 29 de março de 2012

Uma reflexão em Romanos 7

Introdução. Depois de discorrer acerca da dinâmica da vida cristã no capitulo seis (Rm, 6), argumentando que já morremos para o pecado e vivemos para Deus, devido nossa união com Cristo, tanto em sua morte quanto em sua vida, mostrando que o viver na graça implica em um novo estilo de vida, Paulo passa agora, em Romanos 7.1-25, a mostrar para os cristãos que estes tem uma nova relação com a Lei. Do versículo um a seis (Rm. 7.1-6), Paulo, usando como ilustração o casamento, deixa evidente que o crente não está mais debaixo da Lei. Embora a lei seja santa, justa e boa, viver sob a Lei é algo terrível para o crente, e isso não por causa da própria Lei em si, mas, por causa da nossa natureza humana corrompida pelo pecado. Mas, o que significa viver sob a Lei? Podemos entender que, viver sob a lei é buscar refúgio nela, ou seja; o homem encontra-se sujeito ao juízo divino por causa do pecado, e alguns procuram escapar desse juízo divino através da Lei. Mais claramente falando, através da guarda ou observância da Lei. Mas, porque é tão terrível para o homem recorrer à Lei para escapar da ira divina? Porque é a própria Lei que condena o homem pecador. E já que todos são pecadores (3.9-23) todos estão sob a condenação da mesma. A Lei não foi dada para salvar o homem (o problema é que muitos não entenderam, e até hoje não entendem), mas para mostrar que ele precisa de salvação (3.19,20;5.20a; 7.7,14; Gl. 3.11,19,21). O único meio de se “alcançar” salvação é por meio da fé em Jesus Cristo (Ef. 2.8,9; At. 4.12; Rm. 3.21-25). E não adianta o homem querer encontrar defeito ou imperfeição na Lei. Ela não é ruim e nem má. O problema todo está na natureza humana que foi corrompida pelo pecado; “todos se extraviaram...”. A Lei simplesmente destaca esta verdade (e, para pasmo de muitos; para o nosso próprio bem. Sem a Lei não reconheceríamos nosso pleno estado de perdição). Um problema fundamental é o fato de muitos não compreenderem o papel da lei, e também não compreender a abrangência da graça, tanto no AT como no NT. A partir de Romanos 7.7 o apóstolo começa a tratar de uma questão um tanto difícil para alguns. Para aqueles que procuram apegar-se ou refugiar-se na lei, para alcançar um estilo de vida agradável a Deus, ele mostra categoricamente que é impossível. Ninguém consegue satisfazer as exigências da lei, especialmente baseando-se em seus próprios esforços em cumpri-la. E isso, por causa da impotência da natureza humana diante da santidade da Lei. Com respeito a este ponto e vista sobre a lei não encontramos nenhuma divergência entre os interpretes, pois a maioria compartilha este conceito doutrinário. No entanto, com respeito a interpretação da passagem de Romanos 7.7-25, especialmente com relação a identificação da pessoa a quem o apóstolo Paulo se refere na primeira pessoa do singular, há algumas divergências entre os interpretes, visto que aparecem algumas questões difíceis de entender, principalmente se a passagem for estudada com base em pressuposições. Por exemplo, Já foi observado que “se estamos em busca de uma descrição da vida cristã normal, é em Romanos 8 que iremos encontrá-la; Romanos 7, com sua concentração na lei e sua omissão do Espí¬rito, não pode ser uma referência para descrever a normalidade da vida cristã” (Stott, 2000). Esta observação deve chamar nossa atenção para algumas questões que se levantam quando decidimos estudar o capitulo sete de Romanos. Se partirmos para o estudo de Romanos 7 com este conceito, certamente o “eu”, que aparece com bastante freqüência na passagem, dificilmente se aplicaria ao próprio Paulo, pois se assim fosse estaríamos admitindo que ele, ao escrever a referida passagem, não estava experimentando uma vida cristã normal. Por outro lado, se admitirmos que o “eu”, de Romanos 7 trata-se da pessoa do apóstolo, como explicar a aparente incoerência com a vida cristã? Neste trabalho discorreremos sobre esta questão. Procurando chegar a uma conclusão coerente com o texto, mesmo considerando as dificuldades que surgem na passagem. Ponto de vista. Neste capitulo nos deparamos com algumas palavras do apóstolo que temos séria dificuldade em admitir que se trate de uma pessoa alheia às questões da fé cristã, ou alguém que não tenha tido uma experiência com o evangelho. Por outro lado, segundo alguns argumentam, em alguns momentos, parece tratar de alguém que ainda não foi transformado pelo evangelho. Podemos destacar algumas características marcantes do indivíduo re¬tratado em Romanos 7.14-25 que dificulta sua identificação. Conforme observa Stott, “ele ama a lei, portan¬to, parece ser uma pessoa convertida. No entanto, ele ainda é escravo do pecado sendo assim, parece não ser um cristão liberto”. Diante disto, surgiram várias interpretações desta passagem, considerando tanto uma posição (trata-se do incrédulo, a pessoa antes da conversão) quanto a outra (trata-se de um crente regenerado). Outro fato importante de ser considerado, e que parece dificultar mais ainda o entendimento da passagem, é que o apóstolo discorre no texto sempre usando a primeira pessoa. Será se Paulo está falando de si mesmo ou em sua pessoa ele representa outrem, ou outro grupo de pessoas? Já houve quem interpretasse a passagem como se Paulo não estivesse falando historicamente de si mesmo, mas teologicamente. “Como se ele estivesse vendo toda a vida humana baseada em Gênesis 3. Como se estivesse afirmando; quando adão viveu, eu vivi. Quando ele foi enganado, eu fui enganado” [Apostila do prof.]. A passagem também tem sido abordada com vistas aos períodos na vida do apóstolo, antes e depois de sua conversão. Enquanto que nos versículos de 7 a 13, predomina o tempo passado, nos versículos 14 a 25, utiliza-se o tempo presente. Estes fatores indicariam que Paulo está descrevendo suas experiências tanto anteriores quanto posteriores à sua conversão. Porém, alguns comentaristas encontram dificuldade nesta abordagem, pois, argumentam, há algumas características na pessoa referida na passagem que não condiz com um cristão regenerado. Dificilmente Paulo estaria referindo-se a si mesmo como alguém tão preso ao pecado (7.14-25). Por isso, argumentam, não devemos entender a passagem como uma abordagem autobiográfica, visto que, se tratando de um cristão regenerado, especialmente alguém como o apóstolo Paulo, o qual, no decorrer da epístola vem demonstrando uma compreensão tão profunda da obra regeneradora e justificadora de Deus na vida do crente seria uma idéia no mínimo absurda. Dessa forma, a passagem não deve ser interpretada como uma autobiografia do apóstolo. Para Stott, “o “miserável homem” do versículo 24 tipifica muitos cris¬tãos judeus da época de Paulo, convertidos, mas não libertados, vivendo debaixo da lei e não no Espírito ou debaixo do Espíri¬to. Eles confia¬vam na lei e, no entanto, ainda não haviam resolvido a questão da sua fragilidade. A fim de enfatizar isso, Paulo identifica-se com eles falando na sua própria peregrinação, particularmente nesse estágio. Ele representa a impotência da lei através de uma dramatização em que são revividas experiências pessoais” [Stott, 2000]. Cranfield, comentando sobre a referida passagem, não ignora o uso que o apóstolo Paulo faz da primeira pessoa na referida passagem. Ele observa que “a explicação mais provável, em seu ponto de vista, é que nos defrontamos aqui com o emprego generalizado da primeira pessoa do singular, com vistas a retratar vivamente a situação do homem na ausência da lei e na sua presença [Cranfield, 2005]. Quanto a este uso generalizado que o apóstolo faz da primeira pessoa na passagem, Stott afirma que; “se abordarmos essa questão da perspectiva da "história da salvação", isto é, da evolução do propósito de Deus, o tal "eu" pode ser um crente do Antigo Testamento, um israelita que vive debaixo da lei, inclusive os discípulos de Jesus antes do Pentecoste, e provavelmente muitos cristãos judeus contempo¬râneos de Paulo. Essas pessoas eram convertidas. Os crentes do Antigo Testamento tinham, com relação à lei, uma postura que beirava o êxtase” [Stott, 2000]. Abordando a passagem desta forma, Stott parece descaracterizar um pouco o sentido do uso pelo apóstolo da primeira pessoa do singular que perpassa por praticamente toda a passagem de Romanos 7.7-25. Embora possamos admitir o fato de que os cristãos judeus possuíam tal visão a respeito da lei, interpretar o “eu” predominante no texto como “o “miserável homem” do versículo 24 tipificando muitos cris¬tãos judeus da época de Paulo, convertidos, mas não libertados, vivendo debaixo da lei e não no Espírito ou debaixo do Espíri¬to, e entendendo que o próprio apóstolo, a fim de enfatizar isso, identifica-se com eles falando na sua própria peregrinação, particularmente nesse estágio, seria não considerar seriamente a ênfase de Paulo na primeira pessoa do singular. De fato, para quem dispensa bastante atenção para os argumentos do apóstolo, anteriores e posteriores ao texto de Romanos 7, poderá encontrar séria dificuldade em identificar o apóstolo com a pessoa referida na passagem. Visto que a imagem que ele apresenta acerca de uma pessoa regenerada pelo Espírito Santo (o crente) parece incompatível com as características encontradas na pessoa retratada em Romanos 7.7-25. No entanto, ao atentarmos para o ensino do apóstolo acerca da dinâmica da vida cristã normal em outras passagens bíblicas, relacionando as mesmas verdades ou princípios com a referida passagem (Rm. 7.7-25), não teremos dificuldade para entender que aqui, o apóstolo está se referindo a si mesmo. O “eu” de romanos 7.7-25 não pode ser outra pessoa alem do próprio apóstolo Paulo. Com sua própria experiência ele ensina a verdade a respeito da vida de toda pessoa que se converte ao Senhor pela mensagem do evangelho. Como afirma Cranfield; “talvez tenhamos razão em supor que a escolha de Paulo desta forma de falar não foi devida exclusivamente seu desejo de vivacidade retórica, mas também reflete seu sentido profundo de envolvimento pessoal, sua consciência de que ao extrair a verdade geral, ele exprime a verdade a respeito de si mesmo” [Cranfield, 2005]. Como podemos ver no Novo Testamento, especialmente nas epístolas paulinas, o crente, embora seja uma pessoa liberta do poder e da penalidade do pecado ainda sofre a influência ou pressão da natureza caída, a “carne”, e às vezes, até ao ponto de não realizar o que deseja (Gálatas 5.17). Não podemos negar o fato de que na passagem o apóstolo expressa a verdade sobre a realidade da vida de um cristão, a contínua luta entre a carne e o espírito. Em Romanos capitulo oito encontramos a vida cristã ideal, a qual todo cristão autêntico, levado pelo Espírito, busca e se aproxima a cada dia. Já no capitulo sete encontramos o ponto de partida para Rm. 8. O capitulo sete trata da realidade do crente. Não podemos confundir o real com o ideal. Interpretação. Reconhecendo que o “eu” de Rm. 7 refere-se à própria pessoa do apóstolo Paulo precisamos entender agora as palavras usadas por ele na passagem, sem deixar de considerar o conflito expresso pelo apóstolo. Como já foi destacado acima, alguns comentaristas argumentam que sempre são evidenciadas características de uma pessoa regenerada (um crente) como também de uma pessoa não regenerada (um não crente) em Romanos sete. Estas características perpassam por toda a passagem paralelamente, sem transparecer ou sugerir a idéia de períodos, “o antes e o depois” da vida de uma pessoa, visto que o conflito entre o querer fazer o bem e o “não poder evitar o mal” parece acompanhar o argumento de Paulo até o versículo 24. Atentando para o versículo sete, percebemos que o apóstolo interage com o leitor a respeito da possível conclusão equivocada que alguns podem ter tido com relação ao que ele acaba de dizer acerca da lei em Rm. 7.1-6. Paulo argumenta; Que diremos então? A Lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: “Não cobiçarás” (Rm.7.7). Sem deixar de destacar o caráter imaculável da Lei, o apóstolo desenvolve seu argumento concernente ao efeito da Lei na vida do homem. Ao mesmo tempo em que deixa clara a impossibilidade de alguém conseguir cumprir as exigências da Lei, ele mostra que o pecado, que habita em nossa natureza humana (nossa natureza corrompida pelo pecado) é o único responsável por não conseguirmos cumprir as exigências da Lei. Embora não tenha sido dada com o propósito de salvar ou redimir o pecador, a Lei continua sendo santa justa e boa. O apóstolo faz questão de destacar o caráter santo da Lei (No versículo 12, [ - “indubitavelmente”] é a palavra usada com o objetivo de resguardar, de antemão, o caráter inatacável da lei [Fritz, 1985]). O pecado que habita em nós é quem nos impede de cumprir suas exigências. Esta verdade fica evidente pelo argumento do apóstolo no decorrer de sua discussão. Portanto, a ênfase do apóstolo no capitulo sete de Romanos está na impotência da natureza humana diante da santidade da Lei. Paulo fala aos cristãos acerca do resultado da Lei na vida do homem, tanto na vida do não crente quanto na vida do crente. Para isso, o apóstolo toma como base sua própria experiência diante da Lei. Ele fala de sua experiência anterior à conversão (Rm.7.7-13) e a atual luta que enfrenta com relação à sua natureza humana diante da Lei, que é Santa, justa e boa (Rm.7.14-24). Conforme observado na apostila do professor, lição 10, “Paulo descreve o conflito e o transtorno interiores que ele tem experimentado como crente”. No entanto, o apóstolo não deixar de destacar sua confiança na providência divina, manifestada na pessoa de Jesus Cristo (Rm.7.25). O retrato que Paulo deixa de si mesmo na referida passagem não é o de uma pessoa escravizada pelo pecado, mas, alguém que ainda luta contra as inclinações pecaminosas da natureza humana. Luta esta que perdurará até o momento em que seremos transformados (1 Co. 15.50-58). Se entendemos que o apóstolo Paulo era tão humano quanto qualquer um de nós, e que, mesmo liberto da escravidão do pecado e da Lei (Romanos 6 e 7), lutava contra as inclinações carnais, não temos motivos para rejeitar o fato de que ele fala a respeito de sua própria experiência em Romanos 7. O discurso de Paulo nesta passagem tem como finalidade mostrar que o crente, sempre que avalia sua vida à luz da Lei inevitavelmente perceberá a total incapacidade de cumprir suas exigências. Mesmo reconhecendo a justiça, santidade e bondade da Lei o apóstolo expõe o fato de que ela é incapaz de refrear ou vencer o pecado. “A Lei não pode vencer o pecado, porque depende da cooperação da carne, que é fraca. Aquilo que a Lei exige somente pode ser operado em nós mediante o Espírito, na base da obra de Cristo” [H. H. Esser, DITNT], e é disso que ele vai falar em Rm. 8. Por isso não podemos interpretar a passagem de Romanos sete à parte do capitulo oito. Portanto, concluímos que em Romanos capitulo sete Paulo expressa em sua própria experiência o conflito evidenciado na vida de todo crente redimido pelo sacrifício de Jesus Cristo. Estrutura A partir do versículo 14 o argumento do apóstolo Paulo segue mostrando a impossibilidade do homem, por si só, alcançar o padrão divino de santidade impresso na Lei. Quanto mais o crente olha sua vida à luz da Lei mais nítida fica a fragilidade da natureza humana ou sua incapacidade de passar pelo crivo divino. Como afirma Dockery; “em nenhum outro lugar das epístolas de Paulo, nem em outra obra literária antiga, existe uma descrição tão penetrante da condição deplorável e da contradição humana como em Romanos 7. 1-25” [Dockery, 2001]. O argumento do apóstolo segue uma estrutura da seguinte forma: Uma declaração sobre sua condição – 7.14-17 Explicação da declaração – 7.18-20 Conclusão – 7.21-25 [Apostila do professor]. Romanos 7.14-17 Paulo inicia sua descrição fazendo algumas declarações acerca de sua condição humana. O apóstolo destaca o fato de que a natureza humana, em si mesma, encontra-se completamente e irremediavelmente corrompida pelo pecado; “fui vendido como escravo ao pecado” [: Part. Perf. Pass. O perfeito enfatiza o estado ou condição, “vendido” – Fritz, 1985]. Se considerarmos o fato de que o particípio encontra-se na voz passiva, perceberemos que a declaração do apóstolo refere-se à sua natureza humana, a qual foi sujeita ao pecado desde os tempos de Adão. Ele fala do velho homem, do corpo do pecado que precisa ser anulado (Rm. 6.6). Embora o novo “eu” de Paulo, o homem interior, deseje realizar o bem, suas ações quando confrontadas pela Lei, se mostram incompatíveis com a santidade da Lei. Paulo, como todo crente que ama a Deus, se pudesse, cumpriria à risca todos os mandamentos da Lei. Cumpriria todas as suas exigências. Mas, sempre que olha para suas ações percebe a inclinação que a natureza humana tem para o mal. Por isso Paulo admite que a Lei é boa, no entanto o pecado ainda habita em sua natureza humana e somente quando for transformado ele se livrará desse corpo corruptível (1 Co.15.50,53,54). Romanos 7.18-20 Já que o pecado ainda habita em sua natureza humana, e já que esta é continuamente inclinada para o pecado, Paulo reconhece que nada de bom habita em sua carne, pois, embora deseje fazer o que é bom de acordo com os padrões da Lei sua natureza carnal não consegue alcançar os padrões divinos. Por isso reconhece que as ações reprovadas pela Lei são frutos do pecado que reside em sua natureza carnal. Toda vez que olhamos para nossa vida sob a ótica da Lei o resultado sempre será este. Nosso relacionamento com Deus deve-se tão somente à sua grande graça e misericórdia, que por meio de Cristo e pela ação do Espírito Santo nos molda dia após dia de acordo com sua vontade (2 Co. 3.18). Romanos 7.21-25 A conclusão que o apóstolo chega é que, pelo fato do pecado habitar em sua natureza humana, quando ele quer fazer o bem, o mal está junto a ele. A idéia aqui não é que o apóstolo esteja escravizado pelo pecado, como alguns possam querer insinuar, mas, que o apóstolo ainda possui uma natureza que foi definitivamente afetada pelo pecado, ficando sujeita à suas inclinações. Da mesma forma todo crente quando se propõe a desenvolver uma vida moralmente santa, baseando-se nas justas exigências da Lei, logo perceberá sua incapacidade ou impossibilidade de alcançar este alvo. Conforme observamos em Tiago, se alguém tropeça em um só ponto da Lei, compromete-a por completo. “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente” (Tg.2.10). Apenas o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo foi capaz de cumprir toda a Lei sem tropeçar em um só ponto. Por isso Ele pode desafiar seus opositores; “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado”? (Jo.8.46). Em Romanos sete (Rm, 7) podemos perceber a eficácia da Lei ao cumpri seu papel; mostrar claramente a condição da natureza humana corrompida pelo pecado e a impotência da mesma em satisfazer ou alcançar o padrão divino de santidade impresso na Lei. O cristão precisa entender que a Lei não tem poder para produzir santidade em sua vida. E a razão pela qual a Lei não produz santidade na vida cristã é a mesma pela qual não produz justificação. Ela não foi promulgada para justificar o pecador ou perdoar seus pecados, mas, para realçar o pecado, condenando-o. E, desta forma, conduz o pecador até os pés de Cristo, onde podemos encontrar refúgio verdadeiro, sendo libertos do poder e penalidade do pecado. Quando afirmamos que somos libertos do poder do pecado, não significa necessariamente que somos perfeitos, no sentido de não cometer mais pecados (cf. 1 Jo, 1.8-10). Queremos dizer o que Paulo afirma em Romanos 6; por estarmos sob a graça, e não sob a lei, o pecado não nos dominará. Quando compreendemos corretamente e verdadeiramente vivemos sob a graça, cada vez mais o pecado perde sua força influenciadora em nossas vidas. É compreendendo e vivendo na graça que “anulamos” ou “tornamos inoperante” [Fritz, 1985] o corpo do pecado (Rm 6.6). Como a Lei não foi promulgada com a finalidade de justificar o pecador, da mesma forma, ela não foi dada para produzir santidade na vida cristã, mas para mostrar-nos o quanto carecemos da mesma para alcançarmos o padrão divino. Embora os princípios da Lei nos ofereçam o padrão de santidade para a vida cristã, tal santidade só pode ser alcançada por obra do Espírito Santo na vida do crente. Tudo começa em Cristo e continua nele ou por meio dele. Conclusão Como já foi observado, não podemos interpretar o capitulo sete de Romanos à parte de seu contexto maior, o qual corresponde aos capítulos seis a oito (Rm. 6-8). Em Romanos seis o apóstolo mostra a seus leitores que todo aquele que se uniu a Cristo encontra-se em condições de desenvolver um estilo de vida agradável diante de Deus (Rm. 6.12-13). O pecado não dominará mais o crente (6.14a). Esta é uma verdade implícita na passagem, e esta verdade tem como base o fato de que o crente não está mais debaixo da Lei, mas debaixo da graça (6.14b). Somente por não está mais debaixo da Lei, o crente agora pode desenvolver uma vida de santidade. Antes, sob a Lei, o crente vivia escravizado pelo pecado, que tomou ocasião, por causa da fraqueza da carne perante a Lei. Agora, sob a graça, o crente vive livre da Lei e conseqüentemente livre domínio do pecado, para oferecer-se a Deus, em santidade de vida com base na Lei do Espírito de vida (8.2). No capitulo sete (Rm, 7), o apóstolo destaca mais claramente a real condição humana perante a Lei. Esta é santa, justa e boa, nós, porém, somos pecadores por natureza. A Lei é espiritual, nós, porém, somo carnais (Rm. 7.14), isto é; nossa natureza humana foi afetada pelo pecado, e ainda continua presa a ele. As inclinações desta natureza são sempre contrárias à santidade de Deus, não se submete à Lei (Rm. 87). Os impulsos carnais, em todo e qualquer momento oportuno, manifestam-se em ações contrárias às justas exigências da Lei. Faz parte da natureza humana corrompida pelo pecado o agir contrário à vontade de Deus. Ai está a razão pela qual não podemos tomar como base a observância da Lei para desenvolver uma vida de santidade para com Deus. Nossa natureza carnal milita contra toda instituição que queira refrear seus impulsos pecaminosos. Portanto, é a conclusão do apóstolo, para que o cristão desenvolva uma vida de santidade para com Deus, é necessário viver sob a direção do Espírito Santo, em total dependência deste. Esta conclusão encontra-se no capitulo oito, onde Paulo apresenta o viver cristão ideal. É nesta perspectiva de vida que todos nós devemos nos apegar. Sem perder de vista nossa real posição como filhos de Deus e herdeiros com Cristo. É a ação do Espírito Santo na vida do crente que o leva a viver de modo agradável diante de Deus, produzindo fruto de justiça, por intermédio de Jesus Cristo, para glória de Deus. A vida cristã vitoriosa só é possível se vivida segundo o Espírito; “Por isso digo: Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne” (Gálatas 5.16). O Senhor nos conceda sempre a graça de compreender, crê e viver esta verdade. Antonio Luis. BIBLIOGRAFIA BRUCE, F. F. Romanos: Introdução e comentário: São Paulo – Mundo Cristão, 1981 HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento: São Paulo – Hagnos, 2001 CRANFIELD, C. E. B. Comentário de Romanos: versículo por versículo: São Paulo – Vida Nova, 2005 DOCKERY, David S. Manual bíblico vida nova: São Paulo – Vida Nova, 2001 LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento: Rio de Janeiro – Juerp, 1993. STOTT, John R. W. A Mensagem de Romanos: São Paulo – Abu, 2000. RIENECKER, Fritz / ROGERS, Cleon. Chave lingüística do Novo Testamento Grego: São Paulo – Vida Nova, 1985. BROWN, Colin / COENEN, Lothar. Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. 2ª edição: São Paulo - Vida Nova, 2000. MACDONALD, William. Comentário bíblico popular: Novo Testamento. São Paulo – Mundo Cristão, 2010. Fontes não publicadas _______________Apostila do professor. Horizon International Schools TURRADO, Lorenzo. Biblia comentada - Hechos de los Apóstoles y Epístola a los Romanos: Texto de la Nácar-Colunga. Para Usos Internos y Didácticos Solamente - Adaptación pedagógica: Carlos Etchevarne.

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