segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

É preciso Nascer de Novo

Um tema bem conhecido dos cristãos é a regeneração operada pelo espírito Santo no coração do homem através da Palavra de Deus. Nos deparamos com esse ensino em várias passagens da Bíblia, especialmente em João 3.1-8. (conf. 1.12,13).
Encontramos ali o episódio em que um dos principais líderes dos judeus (Nicodemos), foi encontrar-se com Jesus, à noite. Talvez ele quisesse evitar ser visto conversando com alguém que era rejeitado pela maioria, especialmente pelas autoridades religiosas, ou talvez ele só quisesse ter uma conversa mais prolongada com aquele que durante o dia vivia cercado pelas multidões. De uma forma ou de outra, o fato é que Nicodemos, ao encontrar-se com Jesus, declarou: “Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais miraculosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele” [João 3.2]. É interessante notarmos nesta declaração de Nicodemos que este entende e acredita que Jesus é enviado da parte de Deus. No entanto podemos verificar, pelo dialogo que se segue, que o problema do homem está relacionado a uma realidade com a qual ele não estar tão acostumado. O homem necessita de uma intervenção sobrenatural em sua vida para que ele possa desfrutar a presença de Deus. Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus [3.3]. Não é apenas mera transformação. É necessário nascer de novo. Nicodemos, como muitas pessoas em nossos dias, não entendeu o significado desta declaração de Jesus, pois não estava familiarizado com a obra e propósitos de Deus. Como pode um homem nascer sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez [João, 3.4]? Uma mente presa nas coisas materiais não compreenderá as coisas espirituais. Nicodemos não está atinando para as obras de Deus. É necessário que Jesus explique o “fenômeno”. Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito [3.5,6]. Por isso é preciso que o homem experimente um novo nascimento, de outra forma ele nunca poderá ver nem entrar no Reino de Deus [v.7]. 
Este novo nascimento é sobrenatural, misterioso. É obra do Espírito Santo, e a mente humana não tem capacidade de compreender e explicar tal experiência. Ouvimos e sentimos o soprar do vento, mas não podemos saber de onde ele vem nem para onde vai [v.8]. Está além de nossa compreensão. Da mesma forma acontece na obra do Espírito no novo nascimento. No entanto, embora não possamos compreender exaustivamente a obra do Espírito Santo no novo nascimento, podemos receber ou desfrutar esta obra maravilhosa. Mas, como se pode experimentar este novo nascimento? O que significa?
 Em João 1.12,13 o apóstolo diz que Jesus veio para o que era seu e os seus não o receberam. Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem em seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.
Como pudemos ver, esse novo nascimento acontece com a pessoa quando esta recebe a Jesus. O versículo 13 enfatiza bem o novo nascimento; a pessoa que recebe a cristo, pela fé, experimenta um tipo de nascimento diferente do nascimento natural. Um nascimento que não tem origem na vontade da carne, nem na vontade do homem, mas é um nascimento que procede do próprio Deus.
Mas Nicodemos continua sem compreender, e pergunta novamente; como pode ser isto? [3.9, NVI]. Como líder espiritual Nicodemos deveria entender as coisas espirituais. Como uma pessoa se dispõe em liderar outros espiritualmente se ela mesma não entende as questões espirituais? Como uma pessoa se dispõe em guiar outros à presença de Deus se ela mesma não sabe o caminho? Como pode alguém querer levar outros à vida eterna sem saber como fazê-lo?
É por isso que Jesus o censura [3.10]. Como pode uma pessoa que toma sobre si a incumbência de ensinar as coisas concernentes ao Reino de Deus a outros e não entende estas coisas?
O problema, no entanto, está mais relacionado à fé na Palavra de Jesus Cristo. A religiosidade e o simples fato de se conhecer os temas e doutrinas bíblicos não ajudam a resolver a questão. É necessário nascer do alto. É uma obra operada por Deus. É o próprio Espírito Santo que opera este novo nascimento.

RESENHA Teologia Sistemática De Wayne Grudem: PP. 198-246

Wayne Grudem

É graduado em Harvard, mestre em divindade pelo Westminster Theological Seminary e doutor pela Universidade de Cambridge, foi professor titular do departamento de teologia bíblica e sistemática da Trinity Evangelical Divinity School durante vinte anos. Atualmente, leciona no Phoenix Seminary. Já escreveu diversos artigos e obras de referência de grande aceitação no Brasil.
O capitulo quinze (páginas 198-246) do livro de teologia sistemática de Wayne Grudem aborda as questões relacionadas à criação. Porque, como e quando Deus criou o universo? São perguntas que nos chamam a atenção para apresentar a discussão do tema.
Grudem inicia sua abordagem apontando a visão bíblica a respeito da criação; Deus criou o universo do nada [pg.198]. Sendo assim, ele passa a apresentar inúmeras provas bíblicas de que Deus é realmente o Criador de todas as coisas. Em seguida discorre sobre a criação do universo espiritual e, mesmo sendo muito sucinto em sua discussão, ele apresenta várias referências bíblicas que sustentam seu argumento. Grudem não deixa de abordar acerca da criação direta de Adão e Eva. Aqui ele já situa o leitor no ambiente da discussão, informando que há, mesmo dentro do circulo evangélico, algumas divergências quanto à extensão da evolução que pode ter ocorrido após a criação. O autor deixa claro que embora alguns defendam essa idéia, de evolução após a criação, talvez levando ao desenvolvimento de organismos cada vez mais complexos, não há como sustentar a mesma biblicamente. Ele argumenta que seria muito difícil alguém sustenta, com completa fidelidade às Escrituras, que os seres humanos são resultado de um longo processo evolutivo. Aqui Grudem articula muito bem sua posição a esse respeito, refutando tal conceito. Isso ele faz com um embasamento muito sólido nas Escrituras [pg.201]. O autor discorre também sobre o papel do Filho e do Espírito Santo na Criação, mostrando que ambos, assim como Deus Pai, que foi o agente primordial ao iniciar o ato da criação, estiveram ativos na criação de todas as coisas. Do Filho é dito que “todas as coisa foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3). “Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Quanto ao Espírito Santo, este geralmente é retratado como aquele que conclui, preenche e dá vida à criação divina. Como afirma Jó: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do todo poderoso me dá vida” (Jó, 33. 4) [pg.202].
Grudem também discorre acerca da distinção que há entre Deus e sua criação. Embora a criação seja distinta de Deus, no entanto, é sempre dependente dele. Aqui o autor faz referência a algumas filosofias que tem surgido na história e ainda são correntes em nossos dias.
O materialismo é a filosofia que nega absolutamente a existência de Deus. Para os defensores dessa filosofia “o universo material é tudo que existe”.
Já o panteísmo prega a idéia de que tudo, todo o universo, é Deus, ou faz parte de Deus.
O dualismo, por sua vez, é a idéia de que Deus e o universo material existem eternamente lado a lado, como duas forças supremas (Deus e a matéria) existindo no universo.
E o deísmo propaga a idéia de que Deus não está envolvido diretamente na criação. Para essa filosofia “Deus é encarado como um relojoeiro divino que dá corda ao “relógio” da criação no início, mas depois deixa que ele funcione sozinho”.
O autor argumenta, convincentemente, que tais filosofias diferem bastante da explicação bíblica da relação de Deus com sua criação, destacando, em cada situação, as implicações dessas filosofias.
Com muita eloqüência e fundamentação bíblica Grudem passa a mostrar que Deus criou o universo para revelar a sua glória, como é declarado em várias passagens das Escrituras Sagradas (em Apocalipse 4.11, por exemplo, este fato é reconhecido pelos vinte e quatro anciãos que prostrados diante de Deus em adoração declaram; “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”) e que este universo era “muito bom”. Mesmo que hoje haja pecado no mundo, a criação material ainda é boa aos olhos de Deus e deve também por nós ser tida como “boa”, argumenta Grudem [pg.207]. Esse conhecimento nos liberta de um falso ascetismo que considera errado o uso e o deleite da criação material.
O autor trata também da relação entre as Escrituras e as descobertas da ciência moderna. Ele observa que “em vários momentos da história, os cristãos discordaram das descobertas reconhecidas da ciência da época”. No entanto, na grande maioria dos casos, a sincera fé cristã e a firme confiança na Bíblia levaram os cientistas à descoberta de novas verdades sobre o universo de Deus, e essas descobertas mudaram a opinião científica em toda a história posterior [pg.208]. Aqui, Grudem toma o cuidado de mostrar que algumas teorias sobre a criação mostram-se nitidamente incompatíveis com os ensinamentos das Escrituras. As teorias seculares, a evolução teísta e a teoria darwiniana da evolução são exemplos disto. Já que a teoria darwiniana da evolução é predominantemente pregada ou ensinada nos últimos tempos, o autor se demora mais no tratamento da mesma. Aqui, como nas seções tratadas anteriormente sobre a criação, Grudem demonstra consistentemente a impossibilidade de sustentação da teoria. A evolução simplesmente não é uma explicação satisfatória da origem da vida na terra.
Vale lembrar também que o autor apresenta as implicações das influências destrutivas da teoria da evolução no pensamento moderno [pg.219].
Quando trata da questão da idade da terra, Grudem reconhece que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239]. No entanto, ele admite que “hoje tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções válidas para os cristãos que crêem na Bíblia. Ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. Em sua abordagem quanto a idade da terra, a consistência de Grudem pode ser observada através destas afirmações. Enquanto que ele demonstra coerência lógica e uma posição firme com respeito a autoridade da Escritura Sagrada, quando trata de outras questões, como foi observado no início, aqui, tratando da questão da idade da terra, não se pode dizer que Grudem seja consistente em seus argumentos. Talvez ele não queira demonstrar uma posição definida em prol de uma ou outra idéia mas, o que se pode ver, do início ao fim da discussão, é seu esforço em defender a tese da terra antiga. Grande parte de sua abordagem gira em torno de sua defesa em favor da mesma. Sua inconsistência pode ser vista, inclusive, no fato de ele mesmo reconhecer, e declarar, que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239] e que ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. No entanto ele não faz outra coisa a não ser querer defender a tese da terra antiga. De fato ele chega a afirmar que “talvez 15 bilhões de anos sejam precisamente a extensão de tempo certa para preparar o universo para a chegada do homem, e, 4,5 bilhões de anos o tempo certo para preparar a terra” [pg.229].
O que se pode observar, dos argumentos de Grudem, é que ele deposita demasiada confiança nas “deduções” da moderna pesquisa geológica [pg.237]. Sendo assim, necessariamente procura conformar-se a tais “novas descobertas”. Para isso, ele apega-se à “possível compreensão de dia como um longo período de tempo (milhões de anos durante os quais Deus executou as ações criadoras de Gênesis um). Segundo ele, talvez seja a melhor interpretação a adotar [pg.227]. Grudem argumenta que em outras passagens onde aparece a palavra dia (Ex. 20.12; Jo. 5.17; Hb.4.4,9-10) o significado é de um longo período de tempo. Mas, percebemos certa incoerência em sua lógica aqui. Em sua objeção à teoria do intervalo Grudem refuta esse tipo de argumento. Diz ele; “não é correto transferir as circunstâncias que cercam uma palavra num trecho ao uso dessa mesma palavra noutro trecho, quando o significado da palavra e seu uso no segundo contexto não exigem as mesmas circunstâncias” [pg.221]. Porém, é isso o que ele faz em não considerar as circunstâncias e contexto em que a palavra dia ocorre com outro sentido.
Grudem apresenta outros argumentos que pesam contra a teoria do intervalo [pg.221], mas, sem nenhuma explicação convincente ignora os mesmos argumentos em sua defesa da tese da terra antiga. A respeito da teoria do intervalo ele declara; “essa teoria precisa supor que Deus fez uma criação anterior que existiu durante milhões de anos sem a presença do aspecto mais elevado da obra criadora: o próprio homem”. E mais adiante ele afirma que; “...o fato de Deus não ter coroado a criação (a milhões de anos atrás) com a sua criatura mais sublime, o homem, parece incompatível com o retrato bíblico de Deus, com aquele que sempre alcança seus desígnios em tudo o que faz [pg.222]. No entanto, a menos que Grudem admita que o homem também foi criado a 15 bilhões, ou no mínimo 4,5 bilhões de anos, é exatamente essa idéia que ele apóia em sua defesa da tese da terra antiga [pg. 229].
Portanto, como podemos observar no conteúdo das páginas 198-246 da Teologia Sistemática de Grudem, ele argumenta com uma boa consistência lógica e coerente posição de autoridade bíblica, quando discorre acerca da criação, seu propósito, e quando trata do evolucionismo, especialmente da teoria darwiniana. Apenas quando se dispõe a falar sobre as teses referentes à idade da terra, ele demonstra inconsistência em sua abordagem, às vezes até mesmo comprometendo alguns de seus argumentos anteriores. Isso mostra o quanto devemos ser cautelosos quando desafiados a abandonar algumas posições da teologia tradicional em favor de “novas idéias”.
É uma boa leitura acerca da criação. Enquanto fornece ao leitor argumentos sólidos com respeito à visão criacionista, ambienta-o na discussão das teorias seculares, especialmente a teoria darwiniana da evolução, mostrando as incoerências e inconsistências de seus argumentos. Ao mesmo tempo desafia ao leitor a olhar e avaliar com mais cautela quando trata da questão da idade da terra.

RESENHA Teologia Sistemática De Wayne Grudem: PP. 198-246

Wayne Grudem

É graduado em Harvard, mestre em divindade pelo Westminster Theological Seminary e doutor pela Universidade de Cambridge, foi professor titular do departamento de teologia bíblica e sistemática da Trinity Evangelical Divinity School durante vinte anos. Atualmente, leciona no Phoenix Seminary. Já escreveu diversos artigos e obras de referência de grande aceitação no Brasil.
O capitulo quinze (páginas 198-246) do livro de teologia sistemática de Wayne Grudem aborda as questões relacionadas à criação. Porque, como e quando Deus criou o universo? São perguntas que nos chamam a atenção para apresentar a discussão do tema.
Grudem inicia sua abordagem apontando a visão bíblica a respeito da criação; Deus criou o universo do nada [pg.198]. Sendo assim, ele passa a apresentar inúmeras provas bíblicas de que Deus é realmente o Criador de todas as coisas. Em seguida discorre sobre a criação do universo espiritual e, mesmo sendo muito sucinto em sua discussão, ele apresenta várias referências bíblicas que sustentam seu argumento. Grudem não deixa de abordar acerca da criação direta de Adão e Eva. Aqui ele já situa o leitor no ambiente da discussão, informando que há, mesmo dentro do circulo evangélico, algumas divergências quanto à extensão da evolução que pode ter ocorrido após a criação. O autor deixa claro que embora alguns defendam essa idéia, de evolução após a criação, talvez levando ao desenvolvimento de organismos cada vez mais complexos, não há como sustentar a mesma biblicamente. Ele argumenta que seria muito difícil alguém sustenta, com completa fidelidade às Escrituras, que os seres humanos são resultado de um longo processo evolutivo. Aqui Grudem articula muito bem sua posição a esse respeito, refutando tal conceito. Isso ele faz com um embasamento muito sólido nas Escrituras [pg.201]. O autor discorre também sobre o papel do Filho e do Espírito Santo na Criação, mostrando que ambos, assim como Deus Pai, que foi o agente primordial ao iniciar o ato da criação, estiveram ativos na criação de todas as coisas. Do Filho é dito que “todas as coisa foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo.1.3). “Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Quanto ao Espírito Santo, este geralmente é retratado como aquele que conclui, preenche e dá vida à criação divina. Como afirma Jó: “O Espírito de Deus me fez, e o sopro do todo poderoso me dá vida” (Jó, 33. 4) [pg.202].
Grudem também discorre acerca da distinção que há entre Deus e sua criação. Embora a criação seja distinta de Deus, no entanto, é sempre dependente dele. Aqui o autor faz referência a algumas filosofias que tem surgido na história e ainda são correntes em nossos dias.
O materialismo é a filosofia que nega absolutamente a existência de Deus. Para os defensores dessa filosofia “o universo material é tudo que existe”.
Já o panteísmo prega a idéia de que tudo, todo o universo, é Deus, ou faz parte de Deus.
O dualismo, por sua vez, é a idéia de que Deus e o universo material existem eternamente lado a lado, como duas forças supremas (Deus e a matéria) existindo no universo.
E o deísmo propaga a idéia de que Deus não está envolvido diretamente na criação. Para essa filosofia “Deus é encarado como um relojoeiro divino que dá corda ao “relógio” da criação no início, mas depois deixa que ele funcione sozinho”.
O autor argumenta, convincentemente, que tais filosofias diferem bastante da explicação bíblica da relação de Deus com sua criação, destacando, em cada situação, as implicações dessas filosofias.
Com muita eloqüência e fundamentação bíblica Grudem passa a mostrar que Deus criou o universo para revelar a sua glória, como é declarado em várias passagens das Escrituras Sagradas (em Apocalipse 4.11, por exemplo, este fato é reconhecido pelos vinte e quatro anciãos que prostrados diante de Deus em adoração declaram; “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas”) e que este universo era “muito bom”. Mesmo que hoje haja pecado no mundo, a criação material ainda é boa aos olhos de Deus e deve também por nós ser tida como “boa”, argumenta Grudem [pg.207]. Esse conhecimento nos liberta de um falso ascetismo que considera errado o uso e o deleite da criação material.
O autor trata também da relação entre as Escrituras e as descobertas da ciência moderna. Ele observa que “em vários momentos da história, os cristãos discordaram das descobertas reconhecidas da ciência da época”. No entanto, na grande maioria dos casos, a sincera fé cristã e a firme confiança na Bíblia levaram os cientistas à descoberta de novas verdades sobre o universo de Deus, e essas descobertas mudaram a opinião científica em toda a história posterior [pg.208]. Aqui, Grudem toma o cuidado de mostrar que algumas teorias sobre a criação mostram-se nitidamente incompatíveis com os ensinamentos das Escrituras. As teorias seculares, a evolução teísta e a teoria darwiniana da evolução são exemplos disto. Já que a teoria darwiniana da evolução é predominantemente pregada ou ensinada nos últimos tempos, o autor se demora mais no tratamento da mesma. Aqui, como nas seções tratadas anteriormente sobre a criação, Grudem demonstra consistentemente a impossibilidade de sustentação da teoria. A evolução simplesmente não é uma explicação satisfatória da origem da vida na terra.
Vale lembrar também que o autor apresenta as implicações das influências destrutivas da teoria da evolução no pensamento moderno [pg.219].
Quando trata da questão da idade da terra, Grudem reconhece que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239]. No entanto, ele admite que “hoje tanto a tese da “terra antiga” quanto a da “terra jovem” são opções válidas para os cristãos que crêem na Bíblia. Ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. Em sua abordagem quanto a idade da terra, a consistência de Grudem pode ser observada através destas afirmações. Enquanto que ele demonstra coerência lógica e uma posição firme com respeito a autoridade da Escritura Sagrada, quando trata de outras questões, como foi observado no início, aqui, tratando da questão da idade da terra, não se pode dizer que Grudem seja consistente em seus argumentos. Talvez ele não queira demonstrar uma posição definida em prol de uma ou outra idéia mas, o que se pode ver, do início ao fim da discussão, é seu esforço em defender a tese da terra antiga. Grande parte de sua abordagem gira em torno de sua defesa em favor da mesma. Sua inconsistência pode ser vista, inclusive, no fato de ele mesmo reconhecer, e declarar, que os dois pontos de vista, da terra antiga e da terra jovem, apresentam dificuldades que os proponentes de cada uma das teses freqüentemente se revelam incapazes de enxergar na posição em que estão [pg.239] e que ambas as idéias são possíveis, mas nenhuma delas é segura. No entanto ele não faz outra coisa a não ser querer defender a tese da terra antiga. De fato ele chega a afirmar que “talvez 15 bilhões de anos sejam precisamente a extensão de tempo certa para preparar o universo para a chegada do homem, e, 4,5 bilhões de anos o tempo certo para preparar a terra” [pg.229].
O que se pode observar, dos argumentos de Grudem, é que ele deposita demasiada confiança nas “deduções” da moderna pesquisa geológica [pg.237]. Sendo assim, necessariamente procura conformar-se a tais “novas descobertas”. Para isso, ele apega-se à “possível compreensão de dia como um longo período de tempo (milhões de anos durante os quais Deus executou as ações criadoras de Gênesis um). Segundo ele, talvez seja a melhor interpretação a adotar [pg.227]. Grudem argumenta que em outras passagens onde aparece a palavra dia (Ex. 20.12; Jo. 5.17; Hb.4.4,9-10) o significado é de um longo período de tempo. Mas, percebemos certa incoerência em sua lógica aqui. Em sua objeção à teoria do intervalo Grudem refuta esse tipo de argumento. Diz ele; “não é correto transferir as circunstâncias que cercam uma palavra num trecho ao uso dessa mesma palavra noutro trecho, quando o significado da palavra e seu uso no segundo contexto não exigem as mesmas circunstâncias” [pg.221]. Porém, é isso o que ele faz em não considerar as circunstâncias e contexto em que a palavra dia ocorre com outro sentido.
Grudem apresenta outros argumentos que pesam contra a teoria do intervalo [pg.221], mas, sem nenhuma explicação convincente ignora os mesmos argumentos em sua defesa da tese da terra antiga. A respeito da teoria do intervalo ele declara; “essa teoria precisa supor que Deus fez uma criação anterior que existiu durante milhões de anos sem a presença do aspecto mais elevado da obra criadora: o próprio homem”. E mais adiante ele afirma que; “...o fato de Deus não ter coroado a criação (a milhões de anos atrás) com a sua criatura mais sublime, o homem, parece incompatível com o retrato bíblico de Deus, com aquele que sempre alcança seus desígnios em tudo o que faz [pg.222]. No entanto, a menos que Grudem admita que o homem também foi criado a 15 bilhões, ou no mínimo 4,5 bilhões de anos, é exatamente essa idéia que ele apóia em sua defesa da tese da terra antiga [pg. 229].
Portanto, como podemos observar no conteúdo das páginas 198-246 da Teologia Sistemática de Grudem, ele argumenta com uma boa consistência lógica e coerente posição de autoridade bíblica, quando discorre acerca da criação, seu propósito, e quando trata do evolucionismo, especialmente da teoria darwiniana. Apenas quando se dispõe a falar sobre as teses referentes à idade da terra, ele demonstra inconsistência em sua abordagem, às vezes até mesmo comprometendo alguns de seus argumentos anteriores. Isso mostra o quanto devemos ser cautelosos quando desafiados a abandonar algumas posições da teologia tradicional em favor de “novas idéias”.
É uma boa leitura acerca da criação. Enquanto fornece ao leitor argumentos sólidos com respeito à visão criacionista, ambienta-o na discussão das teorias seculares, especialmente a teoria darwiniana da evolução, mostrando as incoerências e inconsistências de seus argumentos. Ao mesmo tempo desafia ao leitor a olhar e avaliar com mais cautela quando trata da questão da idade da terra.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Você Ama a Cristo?


* * *

“A quem não havendo visto, amais.” (1Pe 1:8)

Vocês podem saber se de fato são cristãos verdadeiros pelo teste do seu amor por Jesus Cristo. Portanto, examinem-se a si mesmos, se de fato amam a Jesus Cristo a quem nunca viram. A maioria das pessoas no mundo amam verdadeiramente apenas as pessoas e coisas que viram, mas podem vocês dizer que sinceramente e sobretudo amam a Jesus Cristo, a quem não viram? O amor da maioria resulta do conhecimento que o olho fornece do objeto amado, mas resulta o seu amor do conhecimento que os ouvidos têm fornecido pela palavra da amabilidade que há em Cristo?

Pergunta: Como nós podemos saber se de fato temos um amor verdadeiro por Jesus Cristo?

Resposta: Vocês podem conhecer a verdade do seu amor por Jesus Cristo, primeiro, pelo seus anseios pela presença de Cristo; segundo pelo seu apreço e freqüência aos meios onde Cristo deve ser encontrado , e em ali buscá-lO; terceiro pelo seu amor pela imagem (auto-revelação) de Cristo; quarto, pela obediência aos mandamentos de Cristo.

I. Primeiro, pelo seus anseios pela presença de Cristo. Onde quer que haja um grande amor por uma pessoa, há um desejo pela presença dessa pessoa. Vocês séria e sinceramente desejam a presença de Cristo? Há duas formas da presença de Cristo: Sua graciosa presença aqui e Sua gloriosa presença no último dia.

1. Há a graciosa presença de Cristo aqui: “não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo. 14:18). Vocês desejam que seus amigos e parentes venham para estar com vocês, mas desejam em primeiro lugar que Cristo venha até vocês? Cristo vem aos seus discípulos na forma de uma graciosa comunhão, na forma de uma graciosa manifestação e na forma de uma doce consolação.

a.Vocês desejam que Cristo venha a vocês na forma de uma graciosa comunhão? São seus desejos que essa comunhão seja uma luz espiritual de Cristo para guiá-los e ensiná-los; de vida espiritual da parte de Cristo para estimulá-los e encorajá-los, de vigor espiritual da parte de Cristo para sustê-los sob fardos e habilitá-los para os seus deveres? Vocês realmente desejam todos os tipos de comunhão e os mais altos níveis de graça da plenitude da graça que está em Cristo?
b.Vocês desejam que Cristo venha a vocês na forma de uma graciosa manifestação? “Aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo. 14:21). Vocês realmente desejam o cumprimento dessa promessa a fim de que Cristo revele mais da beleza da Sua pessoa e do amor do Seu coração? Vocês sofrem quando o seu Amado se retira, quando a cortina é fechada, e uma nuvem se interpõe entre vocês e o Sol da Justiça; quando Ele se oculta e encobre a Sua face de vocês? Vocês anelam pelo retorno de Cristo e pelas Suas manifestações?
c.Vocês desejam que Cristo venha a vocês na forma de uma doce consolação, como resultado dessa comunhão e manifestação? Desejam vocês o óleo de alegria com o qual Cristo é ungido; que Ele lhes desse a unção do Espírito não apenas para santificá-los, mas para confortá-los também? Vocês desejam que os seus corações sejam cheios com alegria espiritual - alegria do Espírito Santo, que é indizível e cheia de glória? Vocês desejam o consolo que Cristo dá mais do que todo o conforto que o mundo e a carne pode oferecer; o consolo que entra pela porta da fé, mais do que qualquer consolo que venha pela porta dos sentidos; essas alegrias que estão em Cristo, mais do que todas as alegrias que podem ser encontrada no mais doce e desejável deleite das criaturas?

2. E vocês desejam também a gloriosa presença de Cristo no último dia? Quando Ele promete: “Certamente venho sem demora”, pode o seu coração responder como em Apocalipse 22:20: “Amém. Vem Senhor Jesus”? Você está contente por viver tão perto do fim do mundo, sabendo que o Senhor está próximo, e que sua vinda se aproxima a cada dia? Podem vocês levantar suas cabeças com alegria quando olham em direção ao lugar onde o Senhor Jesus está, a direita do trono da Majestade nas alturas? Podem vocês pensar com paz de espírito que ainda dentro de pouco tempo Aquele que vem virá, e não tardará; que dentro em pouco Cristo descerá dos céus com um brado, ao som da trombeta, e que os seus olhos O verão no esplendor da Sua glória e majestade? Se alguns de vocês dizem que temem a gloriosa presença de Cristo com receio de que seriam então rejeitados por causa desse temor, vocês não estão prontos nem preparados; mesmo que possam dizer de todo o coração que desejam acima de tudo estar prontos, que esforçam-se para isto e que lamentam por não estar mais prontos. E considerando que estivessem prontos e seguros de seu interesse em Cristo, poderiam dizer que desejariam que Cristo voltasse imediatamente, e que não desejariam maior alegria e felicidade do que viver com Cristo na glória? Podem vocês dizer que contam com a presença de Cristo como a felicidade do céu? Essas são evidências de um verdadeiro desejo pela presença gloriosa de Cristo, e de amor sincero por Cristo.

II. Segundo, vocês podem conhecer seu amor por Cristo pelo seu apreço e freqüência aos meios onde Cristo deve ser encontrado , e em ali buscá-lO. São esses os meios das suas ordenanças, tanto públicas como particulares, onde Ele pode ser encontrado: vocês obedecem às ordenanças, comparecem às reuniões de oração, à pregação da Palavra e ao sacramento da Ceia do Senhor? Vocês têm em alta conta essas ordenanças por causa do cunho da instituição de Cristo sobre elas, por causa da presença de Cristo nelas, e por serem elas meios para unirem você e Ele? E quando estão sob as ordenanças, vocês buscam diligentemente a Cristo nelas? Ficam vocês limitados à parte exterior e carnal das ordenanças de apenas encontrarem-se com o povo de Deus? Ou vocês determinam, desejam e esforçam-se por algo mais interior, espiritual e incomparavelmente doce a fim de que possam encontrar-se com Cristo para que tenham comunhão com o Pai e o Filho? E com relação a isso podem vocês dizer como Davi : “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor!” e: “pois um dia Senhor nos teus átrios valem mais que mil” ( Sl. 84:10), e: “Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que possa eu morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor, e meditar no seu templo” (Sl. 27:4)? Buscam vocês a Cristo também com suas famílias e em particular? Buscam-no em meditação e oração secreta? O seu amor por Cristo se expressa nos seus desejos ; os seus desejos se revelam na sua busca por Cristo em Seus meios.

III. Em terceiro lugar, vocês podem conhecer o seu amor por Cristo pelo seu amor pela imagem de Cristo; existe a imagem de Cristo na Sua Palavra, e existe a imagem de Cristo no seu povo.

1) Vocês amam a imagem de Cristo na sua Palavra? Assim como em uma moeda de César tem a imagem e a inscrição de César, a Palavra das Escrituras, a qual é a Palavra de Cristo, traz a imagem e a inscrição d'Ele. Vocês amam as Escrituras por causa da imagem da verdade e da sabedoria de Cristo nelas? Amam vocês os preceitos das Escrituras por causa da imagem da santidade de Cristo neles? Amam vocês as ameaças das Escrituras por causa da imagem da justiça de Cristo nelas? Amam vocês as promessas das escrituras por causa da imagem da bondade, graça, e amor de Cristo nelas? Vocês tem a Palavra de Cristo nas sua Bíblias, e às vezes em seus ouvidos, mas ela nos vossos corações? Vocês a recebem em amor?

2) Amam vocês a imagem de Cristo no Seu povo? Se vocês não amam ao seu irmão a quem vêem, como podem amar o seu Senhor a quem não viram? Todo discípulo de Cristo traz a imagem de Cristo. Se vocês amam o original amarão a imagem, mesmo que não esteja perfeitamente gravada. Se vocês amam a perfeita bondade e santidade que está em Cristo, vocês amarão a bondade e santidade que vêem nos santos, ainda que eles as tenham em uma imperfeita medida. Amam vocês os discípulos de Cristo, e isso por causa da imagem de Cristo, embora eles discordem de vocês em algumas opiniões que são circunstanciais?

IV. Em quarto lugar, vocês podem conhecer seu amor por Cristo pela sua obediência aos Seus mandamentos, João 14:15, “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”; e o versículo 21, “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”. Vocês têm os mandamentos de Cristo. Vocês os guardam? Vocês os conhecem, mas vocês os praticam? O seu amor por Cristo é conhecido pela sua obediência a Ele. Se Cristo é o seu Amado, Ele é também o seu Senhor; se vocês têm verdadeira afeição por Ele, vocês se sujeitarão a Ele. Se vocês amam a Cristo, vocês procurarão agradá-lO. Vocês não são servos da carne, para cuidarem de agradá-la, mas são servos de Cristo para procurar, acima de tudo e de todos, agradá-lO. Se vocês amam a Cristo, vocês não só temem dar ocasião de ofensa para os homens, mas acima de tudo, vocês temem desagradar e ofender o seu Senhor. Vocês se esforçam para andar de modo que agrade a Cristo na forma de uma sincera e compreensiva obediência? Vocês obedecem a Cristo de todo o coração? Têm vocês respeito por todos os seus mandamentos? Vocês lamentam quando caem em sua obediência a Cristo? Se vocês podem dizer na presença do Senhor e dos seus corações (não permitam que suas línguas mintam) que vocês não vivem e não permitem a si mesmos viverem na prática de qualquer pecado conhecido que Cristo proíbe, nem na negligência de qualquer dever conhecido que Cristo ordena, essa é uma evidência segura do verdadeiro amor por Cristo.

Rev. Thomas Vincent (1634-1678)

Thomas Vincent foi um puritano do século dezessete cujos escritos são repletos de questões para o auto-exame. Este artigo foi extraído do livro O Amor do Cristão Verdadeiro pelo Cristo Não Visto (The True Chistian’s Love for the Unseen Chist - Soli Deo Gloria, 1993).
Tradução: Ronaldo Pernambuco

Implicações do Livre-Arbítrio


Charles H. Spurgeon

De acordo com o esquema do livre-arbítrio, o Senhor tem boas intenções, mas precisa aguardar como um servo, a iniciativa de sua criatura, para saber qual é a intenção dela. Deus quer o bem e o faria, mas não pode, por causa de um homem indisposto, o qual não deseja que sejam realizadas as boas coisas de Deus. O que os senhores fazem, senão destronar o Eterno e colocar em seu lugar a criatura caída, o homem? Pois, de acordo com essa teoria, o homem aprova, e o que ele aprova torna-se o seu destino. Tem de existir um destino em algum lugar; ou é Deus ou é o homem quem decide. Se for Deus Quem decide, então Jeová se assenta soberano em seu trono de glória, e todas as hostes Lhe obedecem, e o mundo está seguro. Em caso contrário, os senhores colocam o homem em posição de dizer: “Eu quero” ou “Eu não quero. Se eu quiser, entro no céu; se quiser, desprezarei a graça de Deus. Se quiser, conquistarei o Espírito Santo, pois sou mais forte do que Deus e mais forte que a onipotência. Se eu decidir, tornarei ineficaz o sangue de Cristo, pois sou mais poderoso que o sangue, o sangue do próprio Filho de Deus. Embora Deus estipule seu propósito, me rirei desse propósito; será o meu propósito que fará o dEle realizar-se ou não”. Senhores, se isto não é ateísmo, é idolatria; é colocar o homem onde Deus deveria estar. Eu me retraio, com solene temor e horror, dessa doutrina que faz a maior das obras de Deus - a salvação do homem - depender da vontade da criatura, para que se realize ou não. Posso e hei de me gloriar neste texto da Palavra, em seu mais amplo sentido: “Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm 9.16).

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

FÉ - Arthur W. Pink


* * *

“De fato sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb. 11:6)

“... mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé, naqueles que a ouviram” (Hb. 4:2).

A conexão entre estes dois versículos nos mostra como é vã toda a atividade religiosa onde não há fé. A atividade exterior deve ser realizada correta e diligentemente, mas a menos que a fé esteja em operação, Deus não é honrado e a alma não é edificada. A fé abre o coração para Deus, e fé é o que se recebe de Deus; não uma mera aceitação do que é revelado em Sua Palavra, mas um princípio sobrenatural de graça que existe no Deus das Escrituras. Isso o homem natural, não importa o quanto religioso ou ortodoxo ele seja, não tem e nenhum de seus esforços, nem atos da sua vontade , podem adquirir. É um dom supremo de Deus.

A fé deve operar em todas as atividades do cristão, se Deus há de ser glorificado e ele edificado. Primeiro, na leitura da palavra: “Estes, porém, foram registrados para que creiais” (Jo. 20:31). Segundo, no ouvir da pregação dos servos de Deus: “A pregação da fé” (Gl. 3:2). Terceiro, na oração: “Peça-a porém com fé, em nada duvidando” (Tg. 1:6). Quarto, na nossa vida diária: “Visto que andamos por fé, e não pelo que vemos” (2Co. 5:7) e “esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no filho de Deus” (Gl. 2:20). Quinto, em nossa partida deste mundo: “Todos estes morreram na fé” (Hb. 11:13).

O que o fôlego é para o corpo, a fé é para a alma, pois alguém que sem fé busca realizar ações espirituais, é como se colocasse uma mola em um boneco de madeira, fazendo-o mover-se mecanicamente.

Um professo não-regenerado pode ler as Escrituras e ainda assim não ter qualquer fé espiritual. Assim como o hindu devoto lê atentamente o Upanishad e o muçulmano o seu Alcorão, muitos países “cristãos” adotam o estudo da Bíblia e mesmo assim não tem mais da vida de Deus em suas almas do que têm os seus irmãos pagãos. Milhares nesta terra lêem a Bíblia, crêem na sua autoria divina e se tornam mais ou menos familiarizados com o seu conteúdo. Um mero professo pode ler vários capítulos diariamente e mesmo assim nunca compreender um único versículo. Mas a fé aplica a Palavra de Deus: ela proclama Suas terríveis ameaças e tremores diante deles; ela proclama Seus solenes avisos, e procura alertá-los; ela proclama Seus preceitos e clama a Ele por graça para andar neles.

Acontece o mesmo no ouvir da Palavra pregada. Um professo carnal se orgulhará de ter comparecido a esta ou aquela conferência, de ter ouvido aquele famoso professor e aquele renomado pregador e ter tido tanto proveito para a sua alma, quanto se nunca tivesse ouvido qualquer um deles. Ele pode ouvir dois sermões todo domingo e depois de cinqüenta anos ser tão morto espiritualmente como o é hoje. Mas o homem regenerado compreende a mensagem e avalia a si mesmo pelo que ouve. Ele é muitas vezes convencido dos seus pecados e os lamenta. Ele testa a si mesmo pelo padrão de Deus e se sente tão longe de ser aquilo que deveria, que sinceramente duvida da sinceridade da sua própria profissão (de fé). A palavra o corta em pedaços , como uma espada de dois gumes e o faz clamar: “desventurado homem que sou!”.

Na oração, o mero professo muitas vezes faz o crente humilde envergonhar-se de si mesmo. O religioso carnal, que tem o “dom da palavra”, nunca se perde com elas; frases fluem de seus lábios tão prontamente como águas de um riacho murmurante; versículos das Escrituras parecem correr através da sua mente tão livremente como pó passa pela peneira, ao passo que o pobre e oprimido filho de Deus é muitas vezes incapaz de fazer algo mais do que clamar: “Ó Deus sê propício a mim pecador!”. Ah, meus amigos, nós precisamos distinguir nitidamente entre a aptidão natural em fazer “boas” orações e o espírito de súplica verdadeira: um consiste meramente de palavras, o outro de “gemidos inexprimíveis”; um é adquirido por educação religiosa, o outro é implantado na alma pelo Espírito Santo.

Assim é também em assuntos sobre as coisas de Deus. O professo fútil pode conversar loquazmente e muitas vezes, de modo ortodoxo, de “doutrinas”, sim, e de coisas terrenas também. De acordo com a sua disposição, ou dependendo da sua audiência, assim é o seu tema. Mas o filho de Deus, embora sendo pronto para ouvir o que é para a edificação, é “tardio para falar”. Oh meu leitor, cuidado com pessoas que falam muito; um tambor faz bastante barulho mas é vazio por dentro! “Muitos proclamam a sua própria benignidade, mais o homem fidedigno quem o achará?” (Pv. 20:6). Quando um santo de Deus abre os seus lábios para falar de assuntos espirituais, é para dizer o que o Senhor, em Sua infinita misericórdia, tem feito por ele; mas o religioso carnal está ansioso para que os outros saibam o que ele tem feito pelo Senhor.

A diferença é evidente da mesma forma, entre o crente genuíno e o crente nominal, com relação à vida diária: conquanto este último possa parecer exteriormente justo, ainda assim por dentro está “cheio de hipocrisia e iniquidade” (Mt. 23:28). Eles colocarão a pele de uma verdadeira ovelha, mas na realidade são lobos em pele de ovelhas. Mas os filhos de Deus têm a natureza da ovelha, e aprendem dAquele que é “manso e humilde de coração” e, como eleitos de Deus, se revestem de “ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl. 3:12). Eles são em secreto o que são em público. Eles adoram a Deus em espírito e em verdade.

Também é assim no fim de suas vidas. Um professo vazio pode morrer tão fácil e tranqüilamente como viveu - abandonado pelo Espírito Santo e não perturbado pelo diabo; como diz o salmista: “para ele não há preocupações” (Sl. 73:4). Mas isso é muito diferente do fim daquele cuja consciência, profundamente sulcada e reconhecidamente corrompida, foi aspergida com o precioso sangue de Cristo: “Observa o homem íntegro, e contempla o justo; porquanto o fim daquele homem é de paz” (Sl. 37:37) - sim, uma paz que “excede todo o entendimento”. Tendo vivido a vida do justo, ele morre “a morte do justo” (Nm". 23:10).

E o que é que distingue um caráter do outro? onde está a diferença entre o crente genuíno e o que o é apenas no nome? Nisso: em uma fé dada por Deus e implantada no coração pelo Espírito. Não um mero concordar intelectual com a Verdade, mas um vivo, espiritual e vital princípio no coração - uma fé que “purifica o coração” (At. 15:9), que “atua pelo amor” (Gl. 5:6), que “vence o mundo” (1Jo. 5:4). Sim, uma fé que é divinamente mantida em meio a provações por dentro e oposições por fora; uma fé que exclama “ainda que Ele me mate, nEle confiarei” (Jó 13:15).

É bem verdade que essa fé não está sempre em atuação, nem é igualmente forte em todo o tempo. O beneficiário dela deve ser ensinado por dolorosa experiência que da mesma forma como ele não a criou, ele também não pode comandá-la; por essa razão ele se volta para o seu Autor e diz: “Senhor eu creio, ajuda-me com a minha falta de fé”. E é assim para que quando ler a Palavra ele seja capaz de apossar-se das suas preciosas promessas; quando prostrar-se diante do trono da graça, ele seja capaz de lançar o seu fardo sobre o Senhor; que quando ele levantar-se para seus deveres temporais, seja capaz de apoiar-se nos braços eternos; e quando ele for chamado a passar pelo vale da sombra da morte, clame triunfantemente: “não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo”. “Senhor aumenta-nos a fé”.

Tradução: Ronaldo Pernambuco