segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Palavra de Deus como regra de fé e prática:

Todos os seguimentos cristãos, especialmente os evangélicos, buscam afirmar que tem seu corpo doutrinário firmados na Bíblia Sagrada. Todos eles se denominam fiéis à Palavra de Deus, embora seja evidente que nem todos crêem nas mesmas coisas, nem mesmo em relação às doutrinas essenciais. Algumas vezes a divergência doutrinária é tão grande que até poderíamos perguntar; será se eles usam a mesma Bíblia? Ou, será se a pessoa de quem estão falando não é outro Jesus? Sendo assim, surge a seguinte questão; seria isso um problema? Para esta pergunta contamos com duas pressuposições diferentes basicamente. De um lado, encontramos aqueles que não vêem problema algum com essa “miscelânea evangélica”. Tais pessoas enfatizam que o importante é que a fé evangélica esteja sendo propagada. A questão é: o que é de fato a fé evangélica? Será se compreendemos realmente o que é a fé evangélica? Será se compreendemos realmente a nossa própria fé? Hoje em dia fica difícil definir o que de fato é ser evangélico. O termo é uma designação tão ambígua que alguns historiadores julgam que a melhor definição é a de George Marsden: "Qualquer pessoa que gosta de Billy Graham". Por outro lado, há também aqueles que partindo para o extremo oposto fecham-se para suas pressuposições doutrinárias e consideram apenas estas como fielmente fundamentadas na Palavra de Deus, enquanto que as demais são consideradas procedentes da mentalidade humana, influências mundanas e até demoníacas. Mas, pensando nas divergências doutrinárias existentes no meio do evangelicalismo, especialmente aquelas divergências gritantes, que chegamos até pensar que se estar pregando um outro evangelho, precisamos insistir; seria isso um problema? Se o leitor acha que não, aconselho que reflita um pouco em algumas advertências do Senhor neste sentido. Seria interessante nos perguntarmos; o que o Senhor Jesus quer nos ensinar em passagens que expressam a necessidade de se conhecer a sã doutrina? Por exemplo; Em Mateus 7.15-23 o senhor deixa claro que nem todas as pessoas que o chamam “Senhor, Senhor,” pertencem ao grupo dos eleitos. O senhor afirma que naquele dia muitos lhe dirão: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? Então lhes direi claramente: nunca os conheci. Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal! (Grifo meu). Em Atos 20.28-30 encontramos o apóstolo Paulo profundamente preocupado com a saúde doutrinária da igreja. Ao convocar os lideres das igrejas ele adverte-os com estas palavras: Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que Ele comprou com o seu próprio sangue. Sei que, depois da minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos (grifo meu). Note que o apóstolo fala de pessoas que como lobos ferozes penetrariam no meio dos irmãos (lideres?) e não pouparia o rebanho. E mais, dentre eles mesmos se levantariam homens que torceriam a verdade a fim de atrair os discípulos. Outras passagens bíblicas como Rm 16.17-18; I Co 15.33,34; II Co 11.13-15; Gl 1.6-9; Ef 4.11-14; 6.10-18; Fp 3.2; Cl 2.8,16,18-19; I Ts 4.1,13; II Ts 2.1-3; I Tm 1.3-7; II Tm 2.15-18; Tt 1.6-11 leva-nos a perceber que a Sã Doutrina deve ser uma preocupação de todo cristão consciente, especialmente dos obreiros cristãos. Se fossemos alistar todas as referências bíblicas que nos advertem sobre problemas doutrinários, teríamos uma lista muito extensa, e não é este nosso propósito aqui. Por enquanto queremos ajudar o leitor a se recordar das advertências do Senhor neste sentido e ver a importância de investir tempo suficiente com este tema. Pensando nas divergências doutrinárias existentes no meio do evangelicalismo, especialmente aquelas divergências gritantes, que afetam as doutrinas fundamentais do evangelho, e diante das evidências bíblicas apresentadas acima, podemos considerar legítima a preocupação conscienciosa dos lideres cristãos. Mas, para que possamos compreender melhor a questão precisamos nos perguntar; Qual o motivo de tanta divergência no meio evangélico? As vezes na mesma denominação existem várias divergências doutrinárias o que, por vezes, acaba provocando divisões em algumas igrejas locais. Por mais que a convenção procure manter uma unidade doutrinária, muitas igrejas locais, através de sua liderança, procuram desenvolver e estabelecer seus próprios princípios doutrinários, e tudo isso sob a alegação de que “estão seguindo a Bíblia como regra de fé e prática”. O problema se agrava pelo fato de que dentro da própria igreja começam surgir divergências doutrinárias que, mais tarde, leva a divisão do grupo. Mas, não alegam serem guiados pelo mesmo espírito? Não professam servir o mesmo Senhor; Jesus Cristo? Todos não usam a mesma Bíblia? O que acontece que acabam chegando a conclusões bem diferentes sobre determinados temas bíblicos? Creio que parte da resposta a estas indagações encontra-se no fato de que grande parte da igreja tem desprezado a importância do estudo teológico. Quanto aos crentes leigos da igreja não estranhamos o fato de não entenderem a importância da teologia para a vida da Igreja, ou para a própria vida cristã, até porque, a maturidade cristã e firmeza doutrinária de cada membro leigo de nossas igrejas dependem e muito da qualidade do ministério de seus lideres. Em outras palavras, o conhecimento doutrinário de cada membro da igreja depende de seu líder procurar apresentar-se a Deus como obreiro aprovado que não tem do que se envergonhar, mas que maneje bem a Palavra da verdade (II Tm. 2.15). No entanto muitos líderes não reconhecem a necessidade de se dedicarem ao estudo para conhecer de modo mais profundo algumas questões que são cruciais para a fé cristã. Dessa forma eles ignoram a orientação da Palavra de Deus referente aos líderes para que estes sejam aptos para ensinar (I Tm. 3.2; 4.13; II Tm. 2.24), para que sejam capazes de encorajarem outros pela sã doutrina e refutarem os que se opõem a ela (Tt. 1.9). O incrível é que, para nossa decepção, ainda existem alguns lideres que não somente desprezam a importância do estudo teológico, mas ensinam seus ouvintes a seguirem o mesmo caminho. Alegam que “a letra” mata, mas o Espírito vivifica. A letra que mata, para eles, é o estudar. A idéia é se entregar ao Espírito, em um tipo de religiosidade baseada em pragmatismo e experiências sensacionalistas. E é exatamente por falta de estudo que eles deixam de compreender que a letra a que o apóstolo se refere é a Lei mosaica (II Co. 3.6,7; conf. v. 3). Certa vez fiquei impressionado quando ouvi uma irmã, formada em Bacharel em Educação Cristã, esposa de um pastor conhecido meu, chegou a declarar que para nós não deveria ter importância as palavras do apóstolo Paulo (o que ele disse), e sim suas obras (o que ele fez). Dá para perceber a gravidade do problema? Para essa irmã a igreja poderia abrir mão de quase um terço do Novo Testamento. Para ela não tinha importância o que Paulo escreveu. Bastavam para nós as narrativas que encontramos no livro de Atos sobre o ministério do apóstolo. E, em parte, é essa recusa em estudar com mais dedicação as doutrinas cristãs que tem levado muitas de nossas igrejas a experimentarem o dissabor da divisão, e, embora aleguem serem guiados pelo mesmo espírito, professem servir o mesmo Senhor e, embora use a mesma Bíblia o povo acabará chegando a conclusões bem diferentes ao estudar sobre determinados temas bíblicos, visto que falta, por parte de muitos, um bom nível de orientação teológica. Vale lembrar que, a maioria das seitas ou grupos heréticos possui fortes argumentações na defesa de suas falsas doutrinas e somente quando estudamos com seriedades os temas ou doutrinas relacionados a suas heresias teremos condições de refutá-las, e assim, estaremos preparados para discernir e tomarmos cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que temos recebido (Rm. 16.17,18). Mas esta indisposição em aplicar-se ao estudo da Sã Doutrina ganhou nos últimos tempos um aliado muito forte; a gana por conquistar grandes números de pessoas para a confissão evangélica. Aqueles que têm se enveredado por esse caminho vêem no estudo teológico/doutrinário um grande obstáculo para seu ministério, pois quando tratamos de questões doutrinárias parece que mechemos com o ego inflamado de muitos que se propõe dar as mãos para conquistar o mundo para Cristo. Para isso é necessário haver unidade entre as comunidades religiosas, e alguns argumentam que a fascinação com a verdade destrói a comunidade. De acordo com tais pessoas não é possível buscar ao mesmo tempo a comunidade real e a verdade que transcende a comunidade. Se formos honestos diante do que foi exposto até aqui, devemos admitir que essa opinião não se diferencia da declaração daquela irmã que afirma que não devemos dar importância para as palavras do apóstolo Paulo. Estas pessoas, na verdade, é o que podemos descrever como os “pragmáticos”. E, como observa Stott, o espírito de anti-intelectualismo é corrente hoje em dia. No mundo moderno multiplicam-se os pragmatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: É verdade? Mas sim: “Será que funciona”? Já que a filosofia corrente é “ganhar o maior número possível”, muitos estão lançando mão de todos os meios em detrimento de um crescimento saudável, firmado na Palavra de Deus. Isso tem gerado um grande número de “crentes inconstantes”sem a adequada noção das “fundamentais” doutrinas cristãs. Se quisermos ter igrejas doutrinariamente saudáveis, se desejamos formar cristãos espiritualmente maduros, é necessário que gastemos mais tempo com algumas questões doutrinárias teológicas que são de fundamental importância para a vida da igreja e de cada crente em Jesus Cristo. Minimizando os problemas doutrinários: Prosseguindo na discussão do assunto, precisamos considerar a seguinte pergunta; como poderíamos minimizar os problemas doutrinários em nosso meio? Por mais estranho que possa parecer, o caminho para a diminuição das divergências doutrinárias é o mesmo caminho pelo qual elas têm surgido. Explico. Precisamos trilhar esse caminho, mas em sentido contrário, até descobrirmos a fonte de origem, pois é aqui onde devemos trabalhar. E ao refletirmos sobre isso, para surpresa nossa, na maioria das vezes, estas divergências têm surgido como resultado de uma atividade saudável e recomendada pela Escritura Sagrada. Ironicamente, algumas pessoas têm tomado a iniciativa de estudarem mais a Bíblia e quando iniciam seu estudo, sem nenhum acompanhamento ou orientação sobre alguns temas mais delicados, deparam-se com algumas afirmações que mal interpretadas levam a idéias ou posições doutrinárias diferentes. Quando algumas destas pessoas procuram seus líderes para sanarem suas dúvidas as respostas que recebem são no mínimo insatisfatórias, pois em algumas situações, as questões levantadas não podem ser resolvidas de maneira superficial. Melhor dizendo, uma leitura superficial das Escrituras não poderá resolver a questão. Na mente de alguns a Bíblia está ensinando uma coisa e “a denominação”, com seu corpo doutrinário, nega tal ensinamento, pois alguns não procuram responder às questões com argumentos bíblicos e claros, mas com a famosa frase; “nós não cremos assim”. Precisamos incentivar as pessoas a fazer algo mais importante do que ler a Bíblia em um ano. É necessário que as orientemos a “estudarem” a Escritura Sagrada, de maneira que compreendam e apliquem os princípios cristãos em suas vidas. E, para que não haja confusão e equívocos em seus estudos, é necessário que as ajudemos, ensinando-lhes os princípios básicos de interpretação das Escrituras. O problema é que até alguns lideres ignoram tais princípios. Porque estas orientações ajudarão a diminuir as divergências doutrinárias no meio da igreja? A resposta se encontra exatamente nas afirmações que fizemos por meio das indagações feitas no inicio. Em primeiro lugar, alegamos que somos guiados pelo mesmo Espírito. Portanto, seria incoerente com sua natureza o Espírito Santo ensinar uma verdade para uma pessoa e logo em seguida se opor a essa verdade, ensinando algo diferente para outro. A questão é que muitas vezes somos guiados por nossos instintos humanos, nossos preconceitos e pressuposições doutrinárias. Porém, quanto mais formos guiados pelo Espírito Santo menos diferença doutrinária teremos, pois Ele não se contradiz. Em segundo lugar, já que servimos ao mesmo Senhor, Jesus Cristo, não é conveniente pensarmos que para um de seus servos Ele peça que realize algo e logo em seguida, para outro, Ele revele que este algo é incompatível com a sua vontade. Sendo assim, quanto mais tivermos sintonia com o Senhor e sua vontade, mais estaremos unidos no cumprimento da mesma. Quanto mais nos desprendermos de nossa própria vontade e pensamento e procurarmos conhecer e realizar a “boa, perfeita e agradável vontade do Senhor” mais união teremos em nosso ministério, pois estaremos focando a vontade de um só; nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Em terceiro lugar, e o que fecharia a questão, visto que, todos nós, usamos a mesma Bíblia, não é normal, nem no conceito bíblico nem com respeito à lógica humana, a Escritura Sagrada ensinar algo para uma pessoa e para outra algo totalmente o contrário. Se acreditássemos na possibilidade de uma passagem bíblica ensinar algo para uma pessoa, e, para outra, a mesma passagem ensinar algo totalmente contrário ao primeiro, e a uma terceira pessoa a mesma passagem ensinar algo totalmente diferente tanto da primeira quanto da segunda, e assim por diante, teríamos, o que alguns defendem, a teoria da relatividade, sendo assim não haveria nenhuma interpretação bíblica que fosse ilegítima, nem mesmo aquelas que se mostram extremamente absurdas. E, por incrível que possa parecer, da mesma maneira, não haveria nenhuma interpretação que pudesse ser considerada legítima. É a esta conclusão que leva a teoria da relatividade. Porém, precisamos não somente entender, mas afirma categoricamente que isso é impossível. Como afirma Moisés Silva; não podemos lançar uma parte das Escrituras contra outra, nem podemos interpretar um detalhe das Escrituras de forma que enfraqueça sua mensagem básica. Portanto, se reconhecermos e respeitarmos os princípios de interpretação bíblica, todas as pessoas que se empenhassem em estudar as Escrituras acabariam chegando a conclusões cada vez menos diferentes sobre determinados temas bíblicos. E neste ponto da discussão esperamos que o leitor compreenda a importância de se está firmado na Palavra de Deus, e não somente compreender mas, se ainda não o faz, tomar a iniciativa de se dedicar ao estudo sério da Palavra de Deus que é fundamental para nos tornar sábios para a salvação (I Tm. 4.16). nota: A palavra salvação, derivada do vocábulo grego soteria, inclui a idéia de tornar inteiro, completo ou sadio. Do ponto de vista de Deus, a salvação inclui ser declarado legalmente justo em Cristo e ser feito semelhante a Cristo. Esta é a maneira como o vocábulo salvação foi utilizado em 1 Timóteo 4.16, onde Paulo fala a respeito de assegurar a salvação de Timóteo e dos membros da igreja de Éfeso. Com certeza, Paulo não estava, nesta passagem bíblica, questionando se Timóteo ou outros crentes estavam em um relacionamento correto com Deus, se eles já haviam sido justificados, se os seus pecados haviam sido perdoados. Paulo estava falando sobre salvação no sentido de crescer mais e mais na semelhança de Cristo; esta semelhança é o objetivo de Deus em nos justificar. Deus tenciona que nossa vida, tal como a de nosso Senhor Jesus Cristo, seja cheia com o fruto do Espírito — amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gl 5.22,23). Isto é salvação em seu sentido mais completo. E esta é a razão por que ser tornado sábio para a salvação é um aspecto tão importante, proveitoso e crítico em resolver tanto os problemas da vida presente quanto os problemas referentes à eternidade. A.Luis

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