sábado, 7 de setembro de 2013

Interpretação de Romanos 7 - II

Estrutura A partir do versículo 14 o argumento do apóstolo Paulo segue mostrando a impossibilidade do homem, por si só, alcançar o padrão divino de santidade impresso na Lei. Quanto mais o crente olha sua vida à luz da Lei mais nítida fica a fragilidade da natureza humana ou sua incapacidade de passar pelo crivo divino. Como afirma Dockery; “em nenhum outro lugar das epístolas de Paulo, nem em outra obra literária antiga, existe uma descrição tão penetrante da condição deplorável e da contradição humana como em Romanos 7. 1-25” [Dockery, 2001]. O argumento do apóstolo segue uma estrutura da seguinte forma: Uma declaração sobre sua condição – 7.14-17 Explicação da declaração – 7.18-20 Conclusão – 7.21-25. Romanos 7.14-17 Paulo inicia sua descrição fazendo algumas declarações acerca de sua condição humana. O apóstolo destaca o fato de que a natureza humana, em si mesma, encontra-se completamente e irremediavelmente corrompida pelo pecado; “fui vendido como escravo ao pecado” [: Part. Perf. Pass. O perfeito enfatiza o estado ou condição, “vendido” – Fritz, 1985]. Se considerarmos o fato de que o particípio encontra-se na voz passiva, perceberemos que a declaração do apóstolo refere-se à sua natureza humana, a qual foi sujeita ao pecado desde os tempos de Adão. Ele fala do velho homem, do corpo do pecado que precisa ser anulado (Rm. 6.6). Embora o novo “eu” de Paulo, o homem interior, deseje realizar o bem, suas ações quando confrontadas pela Lei, se mostram incompatíveis com a santidade da Lei. Paulo, como todo crente que ama a Deus, se pudesse, cumpriria à risca todos os mandamentos da Lei. Cumpriria todas as suas exigências. Mas, sempre que olha para suas ações percebe a inclinação que a natureza humana tem para o mal. Por isso Paulo admite que a Lei é boa, no entanto o pecado ainda habita em sua natureza humana e somente quando for transformado ele se livrará desse corpo corruptível (1 Co.15.50,53,54). Romanos 7.18-20 Já que o pecado ainda habita em sua natureza humana, e já que esta é continuamente inclinada para o pecado, Paulo reconhece que nada de bom habita em sua carne, pois, embora deseje fazer o que é bom de acordo com os padrões da Lei sua natureza carnal não consegue alcançar os padrões divinos. Por isso reconhece que as ações reprovadas pela Lei são frutos do pecado que reside em sua natureza carnal. Toda vez que olhamos para nossa vida sob a ótica da Lei o resultado sempre será este. Nosso relacionamento com Deus deve-se tão somente à sua grande graça e misericórdia, que por meio de Cristo e pela ação do Espírito Santo nos molda dia após dia de acordo com sua vontade (2 Co. 3.18). Romanos 7.21-25 A conclusão que o apóstolo chega é que, pelo fato do pecado habitar em sua natureza humana, quando ele quer fazer o bem, o mal está junto a ele. A idéia aqui não é que o apóstolo esteja escravizado pelo pecado, como alguns possam querer insinuar, mas, que o apóstolo ainda possui uma natureza que foi definitivamente afetada pelo pecado, ficando sujeita à suas inclinações. Da mesma forma todo crente quando se propõe a desenvolver uma vida moralmente santa, baseando-se nas justas exigências da Lei, logo perceberá sua incapacidade ou impossibilidade de alcançar este alvo. Conforme observamos em Tiago, se alguém tropeça em um só ponto da Lei, compromete-a por completo. “Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente” (Tg.2.10). Apenas o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo foi capaz de cumprir toda a Lei sem tropeçar em um só ponto. Por isso Ele pode desafiar seus opositores; “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado”? (Jo.8.46). Em Romanos sete (Rm, 7) podemos perceber a eficácia da Lei ao cumpri seu papel; mostrar claramente a condição da natureza humana corrompida pelo pecado e a impotência da mesma em satisfazer ou alcançar o padrão divino de santidade impresso na Lei. O cristão precisa entender que a Lei não tem poder para produzir santidade em sua vida. E a razão pela qual a Lei não produz santidade na vida cristã é a mesma pela qual não produz justificação. Ela não foi promulgada para justificar o pecador ou perdoar seus pecados, mas, para realçar o pecado, condenando-o. E, desta forma, conduz o pecador até os pés de Cristo, onde podemos encontrar refúgio verdadeiro, sendo libertos do poder e penalidade do pecado. Quando afirmamos que somos libertos do poder do pecado, não significa necessariamente que somos perfeitos, no sentido de não cometer mais pecados (cf. 1 Jo, 1.8-10). Queremos dizer o que Paulo afirma em Romanos 6; por estarmos sob a graça, e não sob a lei, o pecado não nos dominará. Quando compreendemos corretamente e verdadeiramente vivemos sob a graça, cada vez mais o pecado perde sua força influenciadora em nossas vidas. É compreendendo e vivendo na graça que “anulamos” ou “tornamos inoperante” [Fritz, 1985] o corpo do pecado (Rm 6.6). Como a Lei não foi promulgada com a finalidade de justificar o pecador, da mesma forma, ela não foi dada para produzir santidade na vida cristã, mas para mostrar-nos o quanto carecemos da mesma para alcançarmos o padrão divino. Embora os princípios da Lei nos ofereçam o padrão de santidade para a vida cristã, tal santidade só pode ser alcançada por obra do Espírito Santo na vida do crente. Tudo começa em Cristo e continua nele ou por meio dele.

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