quarta-feira, 29 de junho de 2011

A mensagem da cruz

Qualquer cristão sincero que deseja ter uma vida agradável diante de Deus, e que ame a verdade, preocupando-se com a segurança de sua alma e com a segurança espiritual de seu próximo, não deixa de ter certa inquietação diante da realidade evangélica de nossos dias.
Existem dezenas de grupos evangélicos, sem falar de alguns grupos religiosos que há séculos vem deturpando a mensagem do evangelho, que proclamam mensagens e ensinamentos dos mais diversos possíveis.
Como fruto disso temos uma geração confusa, e às vezes, até alguns irmãos são afetados com tudo isso depositando sua fé e confiança em ensinamentos ou fundamentos que não refletem a verdade do Evangelho.Paulo, sem dúvida alguma, foi um dos apóstolos que mais contribuiu com a teologia cristã. Com seu ministério voltado para os gentios (Gálatas, 2.7) ele teve que lidar com várias questões relacionadas à salvação. Sendo assim ele discorreu sobre vários assuntos teológicos. No entanto, embora discorresse sobre várias questões teológicas Paulo fez questão de deixar claro que, como ministro do evangelho, sua mensagem tinha um fundamento definido; Cristo crucificado (I Coríntios, 1.23; 2.2). Mas em que consistia a mensagem da cruz, visto que o apóstolo cuidava para que a mensagem da cruz não fosse esvaziada (I Coríntios, 1.17)? Por que, como Paulo declarou, havia muitos que viviam como inimigos da cruz de Cristo (Filipenses, 3.18)? E por que a cruz de Cristo atraia, muitas vezes, a perseguição (Gálatas, 6.12)?
Nesta reflexão pretendemos destacar alguns fatores importantes relacionados à mensagem da cruz, sua importância para a igreja e para a fé cristã, quais os perigos de se desprezar esta doutrina. 
A intenção principal do apóstolo Paulo em enfatizar que seu ministério tinha como fundamento Cristo crucificado, ou a mensagem da cruz é resguardar a igreja de um problema muito sério e sutil, o qual põe em risco a boa saúde da igreja.
Partindo de uma das principais passagens onde o apóstolo aborda este tema (I Co, 1 e 2) podemos vê-lo combatendo algo que pode ser considerado como um tipo de semente do humanismo; a tendência de se supervalorizar a sabedoria, a força ou capacidade humana, e até mesmo os próprios interesses humanos. A idéia principal aqui fica evidente pela forte ênfase no contraste entre a sabedoria humana e a sabedoria de Deus. Em primeiro lugar vemos a declaração divina; destruirei a sabedoria dos sábios e destruirei a inteligência dos inteligentes (1.19). E o apóstolo prossegue; onde está o sábio? Onde está o questionador desta era?Acaso não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo (v.20)? No entanto apenas um grupo de pessoas pode perceber esta realidade: os cristãos. Pois o restante da humanidade continua na tentativa de conhecer a Deus através de seus próprios recursos e ou esforços. Alguns têm feito a tentativa de conhecer a Deus por meio da sabedoria humana (v.21), por outro lado há um grupo de pessoas que fincando os pés em uma atitude do tipo existencialista ou de pragmatismo religioso exige a realização de milagres para poder acreditar ou confiar na Palavra de Deus. O apóstolo, porém, está decidido a não muda a ênfase ou conteúdo de sua pregação; a mensagem da cruz, o Cristo crucificado. O desviar-se deste foco, no contexto de Paulo, tinha algumas implicações para a igreja. Em nosso contexto, porém, creio que as implicações multiplicaram-se.
CONTEXTO PAULINO:
É interessante não deixar de notar o problema existente na igreja de Corinto com o qual o apóstolo está lidando, pois a passagem em questão está relacionada com este problema, o qual começa ser abordado em 1.10-17ss. Analisando alguns nomes relacionados na passagem podemos perceber algumas indicações do problema. Pedro teve um ministério marcado por sinais milagrosos (At, 3.1-10; 9.32-41). O próprio Paulo teve um ministério muito promissor. Ele era um hábil fundador de igrejas, missionário reconhecido entre todos, pois era o apóstolo dos gentios, e ainda por cima, seu ministério também era marcado por grandes sinais miraculosos. (At, 13.9-11; 14.8-10; 20.7-12). Por outro lado, Apólo era um judeu natural de Alexandria, um professor proeminente, um homem que se destacava pela sua eloqüência (At, 18.24-28). Estas qualidades ministeriais não desabonam o servo de Deus, muito pelo contrário. Mas, o problema surgiu exatamente pelo fato de as pessoas não compreenderem a dinâmica do Reino de Deus que distribui entre seus servos dons e talentos para serem usados para a glória do Senhor. Algumas pessoas na igreja de Corinto já estavam tomando partido de homens, Pedro, Paulo, Apólo, e alguns, talvez ironicamente, diziam-se do partido de Cristo (v.10-17). Alguns queriam sinais miraculosos, outros sabedoria, mas o apóstolo não estava ali para satisfazer as expectativas de homens. Ele foi chamado para proclamar o evangelho de Cristo, e o conteúdo deste não são sinais miraculosos nem sabedoria humana, mas Cristo crucificado que é o poder de Deus que transforma o coração humano, levando-o submisso à pessoa de Jesus. O apóstolo tem consciência de que a discussão acadêmica e as experiências milagrosas nunca poderão transformar o coração das pessoas. Somente a mensagem da cruz tem essa capacidade. É sempre um perigo a pessoa basear sua fé em milagres ou sabedoria humana (2.5). Alguém que tem sua fé baseada em experiências milagrosas enfrentará em sua vida alguns momentos que presenciará pessoas ou grupos não cristãos realizando vários milagres, e talvez maiores do que ele está acostumada a ver (Mt. 7.21-23; 24.24; Mc, 13.22,23). Por outro lado, temos presenciado em nossos dias pessoas inteligentíssimas que tem atraído muito a atenção das massas, inclusive em vários púlpitos de igrejas, pessoas que tem uma ampla compreensão dos problemas que afligem a sociedade, inclusive os cristãos. No entanto, quando estes indivíduos se propõem a ajudar as pessoas com seus problemas lançam mão de outros recursos ou conhecimento humano e não a Palavra de Deus, que tem o poder de libertar o ser humano de todas as cadeias que o prende, sejam elas quais forem.     
A TEOLOGIA DA CRUZ: Lc. 9.23
Receio que a igreja evangélica, em grande parte, vem deixando de lado este tema que é de fundamental importância para a fé cristã. Talvez isso explique, em parte, a grande fragilidade doutrinária que as igrejas de nossos dias experimentam. Mas porque muitos procuram fugir do caminho da cruz? Porque poucos dão importância a este tema?
Em nossos dias o humanismo é tão forte que até mesmo grande parte da igreja tem sido profundamente influenciada por essa ideologia (e o pior é que a maioria não tem idéia do que vem a ser essas influências). O “cristianismo” propagado pelas pessoas mais influentes dos dias atuais (os marqueteiros do evangelho) está mais relacionado com o humanismo do que com a cruz de Cristo. Talvez isso explique a fácil aceitação da “mensagem” sem nenhuma mudança de vida. O “evangelho” que muitos têm ouvido e aceito é aquilo que W.Pink chama de Outro Evangelho, o qual “Não procura arrastar o homem natural ao fundo do poço, e sim melhorá-lo e enaltecê-lo”. É isso que a maioria procura; ser exaltado, ter poder. Bem lá no fundo ainda existe aquela sementinha que fora lançada pelo inimigo e acolhida pelo coração de Eva, no Eden (Gênesis, 3.5); “o desejo de ser como Deus”. Bem contrário ao que o Senhor Jesus Cristo e seu evangelho ensinam (Filipenses 2.5). E, é por isso que a Palavra da Cruz é um escândalo e, ao mesmo tempo, uma ofensa para a maioria. Como observa Gilson, “a cruz é o juízo de toda glória humana e o caminho da cruz significa desistir de toda glória humana”. [Santos, Gilson: Fé para hoje - Nº31, ano 2007, pg.18]. Isso explica o porquê da mensagem da cruz não ser tão atrativa, e, conseqüentemente desprezada pela maioria dos pregadores que querem conquistar multidões (pois a maneira mais eficaz é proclamar mensagens agradáveis).
I Co. 1.17 - Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não porém com palavras de sabedoria humana, para que a cruz de Cristo não seja esvaziada.
v. 18 - Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus.
v. 22 - Os judeus pedem sinais milagrosos, e os gregos procuram sabedoria;
v. 23 - Nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios,
v. 24 - Mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus.
Hebreus 12.2 - tendo os olhos fitos em Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus.
Filipenses 2.8 - E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!
Gálatas 6.14 - Quanto a mim, que eu jamais me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio da qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo.
Efésios 2.16 e reconciliar com Deus os dois em um corpo, por meio da cruz, pela qual ele destruiu a inimizade.
Filipenses 3.18,19 Pois, como já lhes disse repetidas vezes, e agora repito com lágrimas, há muitos que vivem como inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a perdição, o seu deus é o estômago e eles têm orgulho do que é vergonhoso; só pensam nas coisas terrenas.
A crucificação:
- método romano de execução, reservado para escravos e inimigos do estado.
- as execuções cruciantes do mundo antigo tinham encontrado sua pior forma na crucificação. Joséfo (historiador judeu) se referiu a ela como “a forma mais infame de morrer”.
- para os judeus, ser pendurado no madeiro era o equivalente a ser maldito [Deuteronômio. 21.23].  
Que a graça do Senhor Jesus nos fortaleça a cada dia e que nunca venhamos desprezar a mensagem da cruz. Que estejamos sempre prontos a proclamar como o apóstolo Paulo; não me envergonho do evangelho!

                                                                       Antonio Luis - Pr

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