segunda-feira, 4 de junho de 2012

O ministério pastoral e os Conflitos - Parte I

Encarando a realidade do conflito: É comum ouvirmos muitos líderes reclamarem dos vários problemas existentes em suas comunidades, além de se mostrarem surpresos com o número cada vez maior de rupturas nas igrejas locais. No entanto, o que deveria nos surpreender é o fato de que muitos de nós, deliberadamente ou não, ignoramos não somente as origens destes problemas, mas também qual deveria ser a postura correta diante de tais situações. Para ser mais claro, muitos ignoram o fato de que todos os problemas existentes na igreja se originam de conflito. Até mesmo aqueles que resultam de situações aparentemente neutras. Na verdade, todo problema é resultado de um conflito de incompatibilidade, seja esta entre opiniões, perspectivas, propósitos, gostos ou quaisquer outros fatos. Não podemos deixar de destacar também uma das principais fontes de conflitos no ministério pastoral; a comunicação (ou a falta desta). Todos estes fatores nos leva a reconhecer a necessidade de uma reflexão mais séria com respeito a comunicação e conflito no ministério. Muitos dos problemas experimentados pela igreja, prejudicando-a no desempenho de seu ministério, poderiam ser evitados se atentássemos mais para a necessidade de tratarmos dos conflitos que, naturalmente, experimentamos em nossas comunidades. No entanto, o que se constata é o fato de que muitos têm fechado os olhos para essa realidade. “As próprias igrejas, os institutos bíblicos e seminários oferecem pouco ou nenhum treinamento pastoral sobre como lidar com os conflitos” experimentados no ceio das igrejas. Isso mostra o quanto a liderança cristã tem assumido o papel de pacificadores, comprometendo-se com a solução de conflitos. Como resultado, temos constatado que muitos líderes tem tido dificuldades para lidar com os conflitos que surgem em seu ministério e, consequentemente, não é de se surpreender o fato de haver tantos ministérios em crise e igrejas que acabam passando por divisões. Visto que não se aborda a importância de tal disciplina no ministério, apontando tanto as causas como os resultados dos conflitos na vida da igreja, apresentando possíveis soluções, muitos líderes entendem que a solução de conflito não faz parte da tarefa pastoral. No entanto, é importante que nos conscientizemos do fato de que o ministério pastoral não acontece sem que enfrentemos muitos conflitos. Na verdade, parte do papel do ministro do evangelho pode ser entendida como solucionar problemas de conflitos. A administração ou prática da solução de conflitos é algo de fundamental importância na vida da igreja, pois não visa apenas questões internas (conflitos entre os membros da comunidade), mas envolve também questões externas (conflitos entre crentes e não crentes) o que implica no testemunho cristão. E, como as instituições cristãs tem negligenciado essa disciplina em seu currículo educacional e a demanda do problema se apresenta como um grande desafio para a sociedade, como observa Poirier “hoje um numero cada vez maior de universidades e faculdades de direito oferecem cursos na área de solução alternativa de conflitos” e consequentemente “o desenvolvimento na teoria e prática da solução de conflitos tem dependido amplamente do trabalho de mediadores seculares, os quais se baseiam em teorias psicológicas e sociológicas sobre conflito”. Mas, onde estão os ministros cristãos com o desempenho de seu papel de pacificador? Será se a pacificação ou solução de conflitos não é vista como pertencente ao ministério pastoral? A resolução de conflitos não faz parte essencial da pregação do evangelho? A este respeito até podemos ouvir as palavras do apóstolo Paulo ecoarem aos nossos ouvidos; Se algum de vocês tem queixa contra outro irmão, como ousa apresentar a causa para ser julgada pelos ímpios, em vez de levá-la aos santos? Vocês não sabem que os santos hão de julgar o mundo? Se vocês hão de julgar o mundo, acaso não são capazes de julgar as causas de menor importância? Vocês não sabem que haveremos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas desta vida! Portanto, se vocês têm questões relativas às coisas desta vida, designem para juízes os que são da igreja, mesmo que sejam os menos importantes. Digo isso para envergonhá-los. Acaso não há entre vocês alguém suficientemente sábio para julgar uma causa entre irmãos? Mas, ao invés disso, um irmão vai ao tribunal contra outro irmão, e isso diante de descrentes! [I Coríntios, 6.1-6 - NVI]. É lamentável o fato de que ainda há muitos pastores que precisam conscientizar-se de que a função de pacificador é um de seus principais papeis como ministro do evangelho de Cristo. A paz é um elemento essencial na pregação evangélica, já que o termo (“paz”) pode descrever, não somente o conteúdo como também o alvo da pregação cristã, sendo que a própria mensagem é chamada “o evangelho da paz”. Lamentavelmente existem pastores que ignoram o papel de pacificador como parte fundamental de seu ministério. Sendo assim, há pouca ou nenhuma preocupação com um treinamento adequado para resolução de conflitos no ministério e, consequentemente, muitos enfrentam, em maior ou menor grau, algumas dificuldades ministeriais oriundas dos mais diversos conflitos no ceio da igreja. Portanto, é importante avaliarmos que tipo de ministro do evangelho temos sido. Temos sido bons líderes pacificadores, colocando-nos como mediadores entre as pessoas? Pois, conforme observa Poirier, a questão não é se o pastor é um mediador, mas que tipo de mediador ele será. Com isto não queremos dizer que o pastor tenha que tomar para si a responsabilidade de solucionar os problemas de todo mundo na igreja, pois, dependendo do tamanho da igreja, isto até seria impossível. Porém, mesmo que a igreja tenha uma comissão especial para trabalhar com os casos de mediação, em algumas situações é fundamental a participação pastoral. A intervenção pastoral fará bastante diferença, como observa Dobson; o pastor pode às vezes ser o fator decisivo numa solução (de conflito). Pode ser que ele não diga nem faça nada diferente de outra pessoa; simplesmente pelo peso do seu cargo e pela autoridade espiritual ele desembaraça a situação. Mas, que dizer dos pastores que encaram os conflitos como se fossem elementos dissociados do ministério pastoral, como questões que diz respeito aos “profissionais” ou “especialistas” na área? Muitos pastores tem negligenciado seu papel de pacificador, deixando de se colocar como mediador entre as partes em conflitos. No entanto, fazer isso é o mesmo que se esquivar de ensinar as Escrituras, ou, no mínimo, ignorar os inúmeros exemplos bíblicos referentes ao assunto. São abundantes as passagens bíblicas em que aparecem exemplos de pessoas enfrentando conflitos, e os autores bíblicos nunca se esquivaram de tais situações. Muito pelo contrário, sempre se empenharam em levar o povo de Deus a viverem em comunhão, aceitando e ajudando uns aos outros ( Atos, 6. 1-7; Romanos, 14.1-15.7; I Coríntios, 1. 10-13; 6.1-8; Filipenses, 4. 2,3). O apóstolo Paulo, um dos líderes que mais enfrentou conflitos em seu ministério, nunca se esquivou de sua responsabilidade quanto ao ministério da reconciliação. É algo que nos chama bastante a atenção a habilidade do apóstolo em lidar com os conflitos. Mesmo com a autoridade que possuía, como apóstolo de Cristo, Paulo preferia agir e abordar as pessoas com base no amor de Cristo (Filemom, 8-9). Até mesmo quando ele era uma das partes envolvidas no conflito, o amor sempre falava mais alto. Exemplo disso é a maneira como aborda os irmãos da igreja de Corinto, expressando a consolação compartilhada entre eles (II coríntios, 1.6-7), a alegria (2.3), a transparência no trato e o amor aberto, mesmo antes de ser correspondido (6.11-13). Embora houvesse na igreja alguns membros que nutriam um conflito muito grande em seu relacionamento com o apóstolo (I Coríntios, 418-21; 9.1-3; II Coríntios, 10.1-3,7-13), ele não a encarava como muitos líderes dos dias de hoje, considerando a igreja como “uma bomba”. Paulo sabia que ali estava o povo de Deus, e muitos dentre este povo estavam influenciados pelos servos do maligno (II Coríntios, 11.13-15). Portanto, precisavam de alguém disposto a ajudá-los a tomar a direção correta no que diz respeito à vida cristã, desenvolvendo e preservando relacionamentos saudáveis. Como ministros do evangelho, devemos nos revestir com esse pensamento, entendendo que a reconciliação é um elemento altamente pertinente com nosso ministério, embora nos dias atuais outras disciplinas estejam assumindo posições mais elevadas, recebendo maior atenção por parte da igreja e seus líderes. Na verdade, a preocupação de muitos líderes repousa mais em questões de administração de projetos e programas de crescimento (numérico) do que em edificação de vidas, no sentido de levá-las à maturidade, através do aprendizado de resolução de conflitos pessoais e interpessoais. Muitos até mesmo se esquivam da responsabilidade de ajudar alguns membros de sua comunidade a resolver alguns conflitos existentes. Sejam estes de nível pessoal (ex. stress, depressão, crise), ou interpessoal (questões com irmãos da igreja local, ou até mesmo com descrentes). Quando não encaminham as pessoas aos “especialistas”, esquivam se sob a alegação de que não devemos ser antiéticos, nos intrometendo em negócios alheios, como se essa não fosse uma das funções do pastor; colocar-se como mediador ou pacificador entre as pessoas. Alguns líderes cristãos talvez não percebam o quão terrível é a experiência de alguém atravessar determinados conflitos. Bastaria refletirmos um pouco sobre os conflitos pessoais que experimentamos e enfrentamos sozinhos, por não podermos compartilhar com alguém exatamente por não haver uma via de comunicação saudável. Esta falta de percepção nos leva a ignorar a necessidade de nos prepararmos melhor para lidarmos com os conflitos no ministério pastoral. Por isso, embora os conflitos sejam uma realidade no ministério, não se dar tanta importância à responsabilidade de se empenhar em solucioná-los. Neste aspecto, Poirier indaga; “como pode ser que, de um lado, nos especializamos em confortar os que sofrem e, de outro, nós ao mesmo tempo nos esquivamos de ajudar os que passam por conflitos? Porque o sofrimento físico exige nossa atenção e mexe com o nosso coração, enquanto esse terrível mal do conflito, fruto do pecado, não nos comove? Porque corremos para aliviar a dor física e nos arrastamos para aliviar a dor do conflito”? A menos que ignoremos a realidade dos conflitos no ceio da igreja, e na vida de cada pessoa individualmente, não há razão para o líder cristão esquivar-se da responsabilidade de colocar-se como mediador entre pessoas. A mediação é um elemento essencial no ministério pastoral e, como ministros do evangelho, não devemos nos esquivar da responsabilidade de auxiliarmos nossos irmãos a resolverem seus conflitos. Não podemos negar o fato de que o lidar com conflitos, especialmente aqueles que nos deixam profundamente desconfortados, é algo que todos nós desejamos evitar. No entanto, como pastores, precisamos encarar a realidade do ministério que envolve, inclusive, a solução de conflitos dos mais diversos possíveis. O ministério pastoral não se desenvolve sem que tenhamos de trata ou lidar com os vários problemas que naturalmente surgirão no decorrer do desempenho do mesmo. Como observa Poirier, “os pastores são ajudantes que lavam os pratos sujos dos nossos ódios, iras, luxúrias, enganos, malícias e palavras obscenas na corrente purificadora do sangue de Cristo”. Deixar de levar isso em consideração, ao refletir sobre o ministério pastoral e nossa responsabilidade quanto ao chamado para o ministério da Palavra de Deus, é nada mais que negligenciar as implicações e responsabilidades atribuídas ao líder cristão com o encargo de pastorear o rebanho do nosso Senhor Jesus Cristo, o Supremo Pastor. Pr. Antonio Luis

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